Lendo os jornais de domingo, penso nas inúmeras viagens que neste momento cruzam os céus do planeta rumo ao Azerbaijão, que recebe, a partir desta segunda-feira (11), a Cúpula do Clima das Nações Unidas, COP-29. Vejo que o prefeito Eduardo Paes já pousou em Baku, uma cidade com portentosas muralhas medievais e que enfrenta desafios para avançar rumo a um modelo mais racional: apenas 10% de sua frota de ônibus é movida a eletricidade. Me deparo com uma entrevista do físico Paulo Artaxo alertando sobre o dramático cenário global com a emergência do clima. Não dá para negar: difícil ter algum sentimento otimista em relação às inúmeras reuniões que ocuparão salas do belo país à beira do Mar Cáucaso.
O Brasil entregará em Baku uma nova meta climática já eivada de críticas pela baixa ambição. O país assume o compromisso em reduzir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa de 59% a 67% em 2035, na comparação aos níveis de 2005. “Esses números estão desalinhados com a contribuição justa do Brasil para a estabilização do aquecimento global em 1,5 graus Celsius”, criticou o Observatório do Clima. Talvez a famosa fábula do sapo na panela de água quente ilustre bem o momento: a ideia de que as pessoas podem não perceber mudanças gradativas e acabarem se adaptando a elas, sem perceber o perigo à espreita.
E o perigo é iminente. Num planeta 2°C mais quente – e esse é um cenário a cada dia mais provável -, haverá perda de gelo marinho no Ártico, ondas de calor exacerbadas, taxas de extinção aumentadas e níveis de mar mais altos, especialmente devastadores para regiões vulneráveis como o Ártico e ilhas de baixa altitude. Sim, vai ser extremamente penoso para o Homo sapiens viver em nosso planeta – e não há planeta B.
Outra péssima notícia vem do segundo maior emissor de carbono – gás do efeito estufa – e da nação de maior poderio bélico do globo. A eleição do extremista Donald Trump é uma injeção de sonífero no sapo da panela. O ricaço de cabelos desgrenhados e alaranjados já defendeu o combate ao coronavírus com injeção de desinfetante e chegou a elogiar grupo com tendências nazifascistas. É misógino e preconceituoso. Mas também é, para nosso drama, um contumaz negacionista climático.
Em seu primeiro governo, simplesmente abandonou o acordo histórico das Nações Unidas contra o aquecimento global (celebrado por 195 países, em dezembro de 2015). “Vamos perfurar ao máximo”, costuma repetir Trump, numa alusão ao fracking, também conhecido como fraturamento hidráulico, um método de extração de petróleo e gás natural (gás de xisto) do subsolo profundo por meio de técnicas de perfuração. À técnica estão associados graves problemas ambientais: contaminação de lençóis freáticos, risco de produção de sismos e de contaminação por resíduos sólidos perigosos.
A COP do Azerbaijão precede o encontro do ano que vem, em Belém do Pará. Posto que são sempre difíceis os acordos sobre quem vai pagar uma alta fatura, muita coisa deve ser empurrada para 2025. O sapo permanece imóvel, letárgico. Mas a água nunca esteve tão aquecida.