Uruguai e as lições democráticas

Emanuel Alencar fala sobre o resultado da eleição presidencial do Uruguai

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Conhecido pela culinária saborosa, por sua ampla rede de infraestrutura e qualidade de vida, o Uruguai nos dá, neste fechamento de um conturbado 2024, uma bonita lição de democracia. As eleições no país platino varreram para longe qualquer tipo de extremismo anticientificista. O povo consagrou o esquerdista Yamandú Orsi, pupilo de Pepe Mujica, ao posto de presidente, com 49,7% dos votos. Seu adversário no segundo turno foi o candidato de centro-direita Álvaro Delgado, que teve 45,9%. O recado mais importante foi dado, porém, ainda no primeiro turno, quando o ex-militar Guido Manini Ríos, do partido de extrema direita Cabildo Aberto, notório saudosista da última ditadura civil militar do país – que durou de 1973 a 1985 – conquistou apenas 2,48% dos votos.

O povo uruguaio mostra não estar disposto a mergulhar num extremismo soturno cujas digitais estão por todo o planeta. Na América do Sul, ventos uruguaios são mais do que bem-vindos e necessários. Enquanto no Brasil relatório da Polícia Federal mostra o vigor de uma inacreditável tentativa de golpe militar pela entourage do ex-presidente extremista Jair Bolsonaro (ainda detentor de grande força política), na vizinha Argentina o presidente Javier Milei costuma repetir ser um grande lutador contra o “comunismo”, e já questionou a eficácia da vacina contra a dengue. Há ainda trepidações importantes no Peru – Dina Boluarte é acusada de crimes contra a humanidade relacionados com a morte de 49 pessoas durante os protestos registrados no país andino entre 2022 e 2023 – e na Venezuela, com um Nicolás Maduro fechando o regime e relutante em demonstrar a lisura nas eleições que lhe conferiram 18 anos de poder.

Felizmente, o Uruguai deverá navegar por mares tranquilos de 1º de março de 2025 a 1º de março de 2030. Por óbvio, sua situação econômica geral ajuda: é o país latino-americano com o maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita, cerca de US$ 22 mil (R$ 120 mil), e isso o coloca na categoria de países de alta renda. Também tem dado exemplo em sustentabilidade: está na vanguarda dos movimentos para limitar a poluição por plástico e acabar com o envenenamento por mercúrio. Por até parecer estranho em tempos tão disruptivos, mas nenhum candidato por lá falou em fraude nas eleições ou sugeriu não concordar com o recado das urnas. Ao contrário, Lacalle Pou, o presidente que se despede, desejou sorte e felicitou o vencedor ainda na noite de domingo.

Representando a coligação de esquerda da Frente Ampla, o professor de História Yamandú costuma dizer que o país deve voltar a crescer, garantido o bem-estar a 3,42 milhões de pessoas. “Há que se aumentar o poder de compra do povo. Mais de 180 mil uruguaios perderam o benefício da tarifa básica de energia elétrica e isso é um absurdo”, pontuou, numa rede social. “Com inclusão há esperança”. Que os bons ventos uruguaios sinalizem caminhos de mais prosperidade e democracia a todos nós. Precisamos.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Já tentaram vender essa teoria dos “novos ventos” que uma política mais social pode conquistar corações e mentes, mas se até na maior nação do mundo sofreu rechaço, vai bombar no Uruguai? Ainda que tenha o maior PIB/habitante da América do Sul, a população do país é a metade da cidade do Rio, com 4 vezes a extensão do estado do Rio. Além do mais, é a nação mais conservadora do nosso continente. Não farão tolices para que “novos ventos” se transformem no “ciclone bomba”.

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