Essa Semana estive na Igreja Nossa Senhora de Bonsucesso em uma missa de ação de graças ao nosso eterno Presidente do Fluminense, Francisco Horta, que acaba de completar 88 anos. Sou suspeito para falar dele, pois o considero uma lenda viva e o maior dirigente esportivo do século XX e até do século XXI (não surgirá outro igual neste século).
Horta é um gênio. Não só pela criação de expressões que cruzam e cruzarão uma eternidade como: “Saudações Tricolores”, “Vencer ou Vencer”, mas principalmente pela criação da Máquina Tricolor, que é a melhor equipe que um clube de futebol já criou no planeta com Rivelino, Paulo Cesar e cia., e que encantou o mundo pela forma de jogar, não pelos resultados, mas pela plástica que passava em todos os apaixonados pelo Futebol.
Por ocasião dessa data quero apresentar um pouco mais do genial Francisco Horta para aqueles que só o conhecem como o Grande Mago do Fluminense, mas que tive a oportunidade de entrevistar quando registrou seu depoimento para a posteridade e imortalidade no Museu da Imagem e do Som (MIS), por quase cinco horas, com depoimentos, muitos com histórias fantásticas, sempre engraçadas. Vamos de um pouco de Horta, através de um resumo que obtive nos arquivos da ALERJ, onde ele também foi Deputado Estadual, se destacando na Defesa dos Direitos Humanos.
Francisco Luiz Cavalcanti da Cunha Horta nasceu no dia 23 de setembro de 1934 na Casa de Saúde São José no Rio de Janeiro, filho do médico Francisco Alves da Cunha Horta e da professora Marilda Barbosa Cavalcanti da Cunha Horta que era irmã do consagrado apresentador de televisão Flávio Cavalcanti e da professora e depois política Sandra Cavalcanti.
Desde criança Horta tornou-se frequentador e torcedor do Fluminense. De 1942 a 1953 frequentou os cursos primário, secundário e clássico no tradicional Colégio Mello e Souza. De 1954 a 1958 cursou a Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil (hoje UFRJ), onde conquistou o título acadêmico de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, tornando-se advogado.
Paralelamente aos estudos, sempre foi apaixonado pela música e chegou a formar o conjunto “Chiquinho e seu Ritmo” onde era o baterista e que tinha como crooners João Gilberto, que depois se tornou famoso e uma lenda como um dos precursores da Bossa Nova, além da cantora Silvinha Teles.
Trabalhou como advogado no Contencioso da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro onde seu pai exerceu a Medicina por mais de 30 anos. Passou no concurso para a magistratura e ganhou dos seus colegas advogados da Santa Casa sua primeira toga.
Como Juiz de direito, foi titular da 5ª Vara Cível (1967 a 1970) e da Vara de Execuções Penais (1970 a 1982). E, também, foi juiz titular das 15ª (1973 a 1975) e 16ª (1975 a 1982) Zonas Eleitorais, todas aqui na cidade do Rio de Janeiro.
No comando da Vara de Execuções Penais (VEP) notabilizou-se por um trabalho inédito visando a ressocialização dos presos. Mobilizou o empresariado carioca, através da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), objetivando conseguir postos de trabalho para presos egressos do sistema penitenciário. E deu o exemplo: na Vara de Execuções Penais, grande parte dos seus colaboradores eram presos ou ex-presos. E fez o mesmo em relação aos empregados da sua casa. Criou ainda os parlatórios íntimos nas penitenciárias, possibilitando que os presos pudessem receber as parceiras para relacionamentos.
Ainda na Vara de Execuções Penais, em parceria com a IBM, implantou a informatização dos processos num trabalho pioneiro que serviu como piloto para a realidade atual de modernidade tecnológica do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
Francisco Horta teve ainda inúmeras outras atividades no meio do Direito e da Justiça, como integrante do gabinete do Ministro da Justiça e Negócios Interiores (1962 a 1967), destacando-se, por exemplo, as seguintes: Secretário-Executivo da reforma dos códigos brasileiros; Coordenador na produção do anteprojeto da Lei Orgânica da Justiça Federal nos estados; Secretário coordenador da comissão de reimplantação da Justiça Federal de primeira instância no Brasil, com a edição da Lei nº 5.010 de 30/05/1966 que regulamentou a recriação da Justiça Federal em cada um dos estados, territórios e no Distrito Federal; membro nomeado pela Presidência da República para a comissão revisora do anteprojeto da Lei Orgânica da Justiça Federal nos estados, territórios e Distrito Federal. Nas suas atividades relativas à edição dessa Lei 5.010, trazendo-as para os tempos atuais, vale lembrar que se hoje existem em atividade juízes federais de primeira instância fazendo a sociedade acreditar no combate aos desvios de conduta e à corrupção, isso se deve em grande parte a Francisco Horta.
Já na área acadêmica, na condição de docente, Francisco Horta ministrou diversas matérias: na tradicional Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, atual UFRJ, (1959 a 1982); na Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro (1961 a 1969); na Faculdade de Direito da Pontifície Universidade Católica / PUC-Rio (1963 a 1969); na Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas / FGV-Rio (1964 a 1967); no Curso de Mestrado e Doutorado da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro / UFRJ (1974 a 1985); na Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro / UERJ (1983 a 1985).
No segmento das entidades classistas e não governamentais, Francisco Horta também deixou a sua marca: foi Secretário geral da Associação dos Magistrados Brasileiros (1968 a 1969) e membro efetivo do Rotary Club do Rio de Janeiro, representando os magistrados do Estado da Guanabara (1970 a 1976), continuando rotariano praticante até hoje e, na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), é sócio (a partir de 1983), benemérito (1993) e grande benemérito (eleito em 2013 e, até hoje, o único não-presidente com esta honraria). Na entidade fundou em 1984 o Conselho Empresarial de Segurança Pública, Ética e Cidadania, que presidiu de 1987 a 2015. Antes daquele conselho, em 1995, num momento em que a população do Rio de Janeiro vivia atemorizada por uma onda de sequestros, ele idealizou e sugeriu aos empresários da ACRJ, a criação de uma ferramenta importantíssima que existe até hoje chamada Disque Denúncia, viabilizando-a. Ferramenta e experiência estas que depois foram exportadas para outros estados e até países.
Ainda na Associação Comercial, foi Vice-presidente de diversos presidentes. E lá ainda atua, aconselhando e influindo politicamente.
Mas foi na área esportiva que Francisco Horta se tornou conhecido do grande público. Na presidência do nosso querido Fluminense (1975 a 1977), onde é seu Benemérito, revolucionou o futebol carioca com a montagem da “Máquina Tricolor”, Rivelino, Paulo César Cajú e Carlos Alberto Torres à frente, e com a realização do “troca-troca” entre os grandes clubes do Rio, que até foi polêmica entre muitos Tricolores, porém fundamental para salvar o futebol carioca.
No meio eleitoral e político-partidário foi deputado estadual eleito através do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) no Rio de Janeiro (1983 a 1987), foi líder da bancada do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro /ALERJ (1983 a 1984) e presidente da União Parlamentar Interestadual / UPI (1984 a 1987).
Agora, mesmo aos 88 anos e sem precisar provar mais nada, Francisco Horta continua trabalhando. No que considera uma missão de vida e o maior de todos os desafios, assumiu em outubro de 2014 o cargo de provedor da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro para tentar reverter a grave crise desta Instituição de quase 450 anos. Onde nasceu a Medicina Brasileira com José de Anchieta e cuja história se confunde com as histórias do Rio de Janeiro e do Brasil.
“Vencer ou vencer”, continua sendo o lema da lenda tricolor Francisco Horta.
Como 88 é o número da sorte dos chineses, que nesta data desejo que nosso eterno Horta tenha cada vez mais saúde, pois a vida de sucesso dele é eterna como toda lenda e Genio que ele é!!