No período de 2011 a 2022, observou-se um crescimento alarmante na taxa de suicídio entre jovens no Brasil, aumentando em média 6% ao ano, enquanto as notificações de autolesões na mesma faixa etária cresceram 29% ao ano. Esses dados, provenientes de um levantamento realizado pela Fiocruz Bahia em colaboração com acadêmicos de Harvard, destacam a urgência de uma resposta coletiva diante dessa realidade preocupante. Infelizmente, ainda existe muito tabu quando o assunto é suicídio.
É necessário, primeiramente, entender que falar sobre o problema é parte da solução. O suicídio frequentemente está associado a um quadro depressivo nesses jovens, que, ao se agravar, pode evoluir para a ideação suicida, manifestando-se em desejos de automutilação e outros comportamentos de autodestruição. Nesse contexto, o diálogo sensível, afetuoso e acolhedor desempenha um papel fundamental ao conduzir esses indivíduos ao tratamento adequado. Uma simples conversa pode fazer a diferença e até salvar vidas.
O suicídio figura como uma das principais causas de mortalidade entre os adolescentes, estando intrinsecamente relacionado às questões de saúde mental, com a depressão assumindo um papel significativo nesse cenário. Portanto, é imprescindível identificar e abordar os fatores de risco associados ao suicídio, dada a sua profunda repercussão nas famílias, comunidades e sistemas de saúde em escala global.
Como profissional da área de saúde mental, observo que ainda enfrentamos grandes desafios ao lidar com esses casos. Muitas vezes, os responsáveis pelos jovens se sentem incapazes de oferecer o suporte necessário. É urgente, então, promover mais diálogo entre pais, mães, familiares, professores e toda a sociedade, destacando a importância de estarmos atentos e prontos para intervir diante dessa realidade delicada.
Se, em algum momento, você ouvir uma criança ou adolescente expressar frases como “o mundo seria melhor sem mim” ou “eu só quero dormir e nunca mais acordar”, é crucial estar atento, pois isso pode ser um sinal de alerta. Não entre em desespero, mas busque ajuda profissional imediata, pois tais palavras podem ser um pedido de socorro, indicando um possível risco de suicídio. Diante de qualquer indício de sofrimento emocional, não hesite em encaminhar o jovem a um profissional de saúde.
Para a psiquiatra da infância e da adolescência, Tatiana Moya: “É essencial que o ambiente ao redor do jovem não o julgue quando ele compartilha seus sentimentos suicidas. Pensamentos adversos na saúde mental devem ser tratados com a mesma seriedade que problemas físicos, como diabetes ou asma. Quando a sociedade, incluindo profissionais de saúde e pais, aborda isso com naturalidade, os adolescentes se sentirão mais seguros para buscar ajuda. A rede de suporte do adolescente e do profissional de saúde deve demonstrar profunda compreensão, empatia e compaixão frente ao sofrimento do adolescente e que, nesta situação de sentimentos intensos e adversos, a ideação suicida é algo que pode ocorrer. Mas que todos estão ali para dar total suporte e assegurar que medidas serão tomadas para que este sofrimento diminua sem que ele se mate. Que o mal-estar profundo é transitório e que tempos melhores virão”, destacou.
Por isso, é fundamental não romantizar o suicídio e ter maturidade para discutir abertamente esse assunto. Uma comunicação clara sobre os sintomas e os cuidados necessários é eficaz na prevenção desse problema entre os jovens. Reconhecer os sinais de suicidalidade e nunca ignorá-los é crucial, pois os jovens que se sentem desesperançados e deprimidos correm o risco de se tornarem desesperados.
Este é o primeiro artigo de uma série sobre o tema “Suicídio”, que pretendo publicar aqui com o intuito de promover esse debate urgente e necessário para a sociedade. Além disso, convido você a conhecer mais sobre as pesquisas e os métodos de tratamento de saúde mental com Mindfulness, por meio do site: www.brasilmindfulness.com.
Vitor Friary é psicólogo clínico especializado em Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness e diretor do Centro de Mindfulness. Tatiana Moya é psiquiatra da infância e da adolescência.
Se querem mesmo reduzir os índices e de fato evitar o suicídio, não basta apenas falar abertamente sobre o tema em si, derrubando o tabu, mas, fundamentalmente, tentar entender o que angustia tanto o jovem (ou não tão jovem). Não adianta vir com aquela conversinha insossa do tipo: “a vida é tão cheia de possibilidades, é uma dádiva, você tem tanto ainda pela frente, blá, blá, blá…”, pois isso não tem efeito algum. É preciso estar atento e aberto ao que tira da pessoa a vontade de viver. Via de regra, descobre-se que o que atormenta profundamente o sujeito são os malditos padrões sociais e as malditas expectativas que se criam sobre todos, como se todos fossem robozinhos com as mesmas motivações, vontades, capacidades e sensações. É preciso estar aberto ao pensamento diverso e respeitar o que as pessoas querem, sonham, rejeitam e temem. Muitos não estão dispostos a seguir exatamente os mesmos caminhos, ou o tal “padrão moral/social”. É preciso aprender a ouvir sem julgar.