Em meio a tantas “novidades” no sistema de transportes da cidade do Rio de Janeiro, com investimentos milionários do Estado e da Prefeitura, uma questão chama atenção no planejamento da mobilidade. A ausência de investimentos substanciais em segurança no trânsito.
A Assembleia Geral das Nações Unidas editou uma resolução em 2010 em que define os anos entre 2011 a 2020 como a “Década de ações para a segurança no trânsito” e o embasamento desta resolução se deve a um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que diagnosticou um elevado número de mortes por acidente de trânsito em 178 países.
De acordo com uma publicação de novembro de 2012, da revista Em discussão, de audiências públicas do Senado Federal, em 2009, cerca de 1,3 milhão de pessoas morreram vítimas de acidentes de trânsito. Outras 50 milhões de pessoas sobreviveram com sequelas.
Os custos desses acidentes são estimados em US$ 518 bilhões por ano, o que equivale a 1% e 3% do PIB de cada país e são a 9ª causa de mortes no Mundo.
Os índices são assustadores. São 3 mil mortes por dia em média. É a primeira causa de mortes entre pessoas de 15 a 29 anos, segunda entre pessoas de 05 a 14 anos e terceira entre as pessoas de 30 a 44 anos.
Neste triste cenário, o Brasil surge em 5º lugar entre os recordistas em mortes no trânsito, atrás apenas da India, campeã, China, EUA e Rússia. Os outros cinco países que integram este grupo são: Irã, México, Indonésia, África do Sul e Egito.
Estes dez países respondem por 62% das mortes por acidentes no trânsito considerando o conjunto de 178 países pesquisados. Outro dado a ser observado se deve ao fato de que este mesmo grupo possui menos da metade dos veículos do planeta – 48%. A previsão da OMS é que a situação se agravará com o aumento da frota, falta de planejamento e baixo investimento em segurança nas vias públicas.
Diante este cenário, reacende uma visão sobre o planejamento urbano com um olhar sobre uma abordagem bottom-up, pensando numa cidade segura para as pessoas, estejam elas na condição temporária de motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres.
Uma pauta que provavelmente irá gerar grande debate junto à opinião pública carioca será a partir da inauguração do VLT, que ligará a Zona Portuária ao Aeroporto Santos Dumont. Numa consulta rápida ao site oficial do projeto, não se tem notícias sobre as estratégias que serão utilizadas para garantir a segurança das pessoas que passarão a conviver com este modal pelas ruas da cidade, diz apenas que o pedestre deverá adotar conduta recomendada pelo Código de Trânsito e dentre as recomendações de praxe, “estar atento para não permanecer no espaço destinado aos trilhos do VLT”.
Quem circula pelo centro da cidade em dias de semana sabe bem como é, principalmente as ruas que são herança do “Rio antigo”… Calçadas estreitas, que nos obrigam a circular pelo leito carroçável e quando surge um veículo, temos que nos ajeitar entre os demais transeuntes, mobiliários urbanos e comerciantes sobre as calçadas. Neste cenário, imaginem os transtornos de pessoas com a mobilidade reduzida como idosos e pessoas com deficiência?
Um veículo silencioso como o VLT será um desafio em termos de segurança aos milhares de pedestres que circulam diariamente nas ruas do centro da cidade. O BRT, que trafega em pista segregada, em pouco mais de 1 ano de circulação já registrou várias mortes por atropelamento.
Não se trata de alarmismo, apenas considerar que essa é uma discussão que precisa ser feita, pois não somos referência em segurança no trânsito e por ora, estamos longe disso, infelizmente. Todas as iniciativas de implementação de transporte sobre trilhos são válidas e importantes e o VLT agrega neste sentido, mas não podemos fechar os olhos para os desafios de termos um trânsito seguro.