No mês em que é celebrado o Dia Internacional da Igualdade da Mulher (26 de agosto), é muito importante falar sobre a excepcional e visionária Carmen Portinho (1903-2001). Carmem Portinho foi uma mulher muito à frente do seu tempo e que dedicou a vida em defesa de importantes temas como o direito das mulheres ao voto, a proteção às mães e à infância, à educação das mulheres e a valorização do trabalho feminino até por seu pioneirismo na Engenharia .
Com todo o mérito histórico, a Engenheira e Urbanista será lembrada e homenageada pela Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas do Estado do Rio de Janeiro (ABEA-RJ), presidida pela engenheira Iara Nagle, que lançará no dia 04 de agosto, próxima sexta-feira, nos salões do tradicional Clube de Engenharia, o Prêmio Carmen Portinho, referenciando suas realizações. Essa ação é bastante emblemática na valorização das posturas inclusivas e de busca de equidade de gênero. Parabenizo todos os envolvidos, em especial, a guerreira e amiga, Iara Nagle, atual presidente da ABEA-RJ, pois é uma iniciativa muito especial .
Ter um Prêmio ostentando este nome de peso vai além do reconhecimento, é também proporcionar que gerações conheçam, se inspirem e sigam o exemplo de uma mulher ímpar e pioneira para a Engenharia, para o Urbanismo e fundamental nas conquistas e lutas das mulheres.
Muitos desconhecem, mas Carmen foi a terceira mulher engenheira civil do país, tendo concluído o curso em 1925 na Escola Politécnica da antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Três anos antes, participou da fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que lutava pelos direitos das mulheres, sua independência e igualdade entre homens e mulheres.
Em 1928, um episódio foi emblemático e surpreendente para a época, a feminista entrou em um pequeno avião e sobrevoou o Rio de Janeiro. Até aí, nada demais. Mas não era apenas um voo, ela, junto com Bertha Lutz e Maria Amélia de Faria, companheiras fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, “panfletaram” do ar folhetos que defendiam o direito ao voto feminino no Brasil. Assim, o material alcançou diversos cantos da cidade. Uma visão de marketing muito a frente do seu tempo.
Em 1935, a Engenheira participou da fundação da Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (SEAERJ), sendo a primeira Presidente mulher entre 1947 e 1949. Também ajudou a fundar, em 1937, a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (ABEA), que visava incentivar mulheres formandas a ingressar no mercado de trabalho, sendo a primeira Presidente à frente da organização que através de sua representação fluminense tem a nobreza em homenagear .
O pioneirismo sempre marcou sua vida. Carmem Portinho, também foi a primeira mulher a receber o título de urbanista, em 1939. Seu legado pode ser visto ,até os dias de hoje, em obras como o Museu de Arte Moderna (MAM), que trabalhou em parceria com o arquiteto Affonso Eduardo Reidy. Aliás um dos registros marcantes é a foto que ilustra esse artigo de Carmem Portinho em 1959 junto Juscelino Kubitschek frente a maquete da escada helicoidal do bloco de exposições.
Sua atuação também foi fundamental no conceito de habitação popular articulada com acesso aos serviços sociais como política pública, a exemplo da construção do Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, o Pedregulho, em São Cristóvão. Dando início uma política de habitação inclusiva e acessível para a cidade do Rio e considerada modelo de “moradia digna” dentro e fora do Brasil. Seus feitos foram tão relevantes para a sociedade que, em 2022, foi declarada Patrona do Urbanismo no Brasil, após publicação da Lei 14.477/2022, proposta pelo Senador Carlos Portinho, sobrinho-neto da vanguardista.
Estudar Carmen Portinho é mergulhar em feitos, participações em Congressos, Seminários, programas de rádio, criação e presença em revistas e jornais. É também conhecer a história desta brilhante mulher é fundamental para todos. Perpetuar seu legado é garantir que a sociedade não deixará de lutar pelos direitos das mulheres e acreditar que ações transformam e permitem o progresso do país.
As mulheres que receberão essa Comenda da ABEA – RJ devem em muito se orgulhar em se associar a esse nome lendário e infelizmente ainda pouco conhecido.