Estamos enfrentando uma grande crise na Ilha do Governador, relacionada a um colapso no sistema de abastecimento de energia elétrica na região, composta por diversos bairros, mas ainda considerada um bairro integrado. Aliás, a ilha é o bairro mais antigo da Cidade do Rio de Janeiro.
Essa situação de colapso na infraestrutura local levanta uma reflexão significativa, que merece ser retomada nas discussões que já ocorrem na região há bastante tempo, mesmo que algumas pessoas tenham considerado minhas posições contundentes como algo inoportuno.
Muitos residentes da Ilha do Governador, especialmente da nossa mídia local, recordam que, desde 2012, tenho participado de todas as audiências públicas como cidadão, discutindo alterações no Plano Urbanístico da Ilha do Governador. Essas propostas visavam flexibilizar as normas construtivas, aumentando o adensamento na região.
Desde a discussão do PEU, participei ativamente das audiências públicas não apenas no Auditório da Subprefeitura, mas também na Câmara Municipal. Sempre busquei ser o primeiro a falar. Durante esses debates acalorados, meus argumentos sempre se direcionaram ao fato de que a infraestrutura da nossa ilha, por sua natureza insular, estava à beira do colapso, não apenas em termos de tráfego, mas em diversas outras áreas que não estavam sendo devidamente avaliadas.
Além das questões evidentes, havia fragilidades na oferta de água, tratamento de esgoto, vagas diurnas em escolas de Ensino Médio e na redução do policiamento. Um ponto que destaquei como frágil era o aumento contínuo na carga sobre os cabos de transmissão de alta tensão (138 KV) que alimentam as subestações da Light na Ilha (Fundão, Aeroporto, Governador e Guanabara).
Muitos consideravam meu discurso como radical, uma tentativa de impedir as mudanças, principalmente aqueles ligados à especulação imobiliária. Eles buscavam construir novos conjuntos habitacionais, aumentando os gabaritos e demolindo casas antigas, sem se preocupar adequadamente com a capacidade da infraestrutura local. Essas demandas eram, por vezes, acolhidas por representantes da Secretaria Municipal de Urbanismo e políticos locais.
Já como Presidente da CEDAE, ao identificar a fragilidade no abastecimento de água, decidi construir uma nova adutora sobre a Ponte Velha, junto com a instalação e operação dos reservatórios do Barão e do Guarabu. Essas ações praticamente eliminaram os problemas de abastecimento de água na Ilha do Governador, que infelizmente voltaram a ocorrer devido à falta recorrente de energia elétrica.
Na área educacional, especialmente no Ensino Médio, quando fui Secretário de Educação, há oito anos, viabilizei um espaço para a instalação de uma nova escola junto à antiga estação de tratamento de esgotos da Ilha (ETIG). Infelizmente, essa iniciativa não foi implementada até agora, e recentemente aventaram a possibilidade de resolver a questão adquirindo as instalações da antiga Faculdade ABEU no Tauá.
No caso da Light, o que estamos testemunhando é um prenúncio anunciado da crise duradoura. Não podemos atribuir a culpa apenas ao crescimento desordenado de comunidades; há também uma série de “prédios de bacanas” e conjuntos do programa Minha Casa Minha Vida, com alto consumo. Esses, somados ao evento extremo de calor do fenômeno El Niño, estão colapsando os cabos muito antigos ainda isolados a óleo.
Quando discutimos desafios como o novo Plano Diretor da Cidade, que conseguimos, junto ao Presidente da Câmara Caiado e alguns Vereadores, retirar a possibilidade de novas brechas para o crescimento desordenado da Ilha, recebemos críticas de pessoas que não consideram importante dar atenção a esses aspectos básicos de engenharia e urbanismo. Infelizmente, nessa dinâmica, encontramos alguns irresponsáveis que buscam lucrar com essas modificações, especialmente na construção de mais imóveis.
Desconsiderar o problema atual da Light, um erro de planejamento conjunto dos poderes públicos, incluindo a agência fiscalizadora ANEEL, e especialmente das autoridades municipais que permitiram tal crescimento, é não enxergar uma realidade que, no mínimo, deve servir como aprendizado.
Portanto, a reflexão é de que é sempre crucial discutir e considerar com seriedade e técnica as questões da engenharia. Além disso, é importante refletir sobre as críticas direcionadas ao meu discurso, que hoje se configura como uma das maiores verdades, como disse Galileu Galilei: “A verdade é a filha do tempo e não da autoridade”.