Uma das questões que diferencia uma instituição de ensino, especialmente as que possuem campus, é a chamada atmosfera que circula no ambiente universitário e como esse clima penetra e permanece na sua alma, no seu sentimento e na sua própria vontade de aprender. A Universidade de Harvard, fundada em 1636, na pequena localidade de Cambridge, no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos, passa muito bem essa sensação.
O seu campus principal, próximo ao Charles River, onde remadores se exercitam, tem prédios construídos em uma arquitetura típica de tijolinhos vermelhos originários da arquitetura inglesa que, logicamente, derivam da grande influência pela colonização americana. Na sua entrada central, existe uma bela estátua em homenagem a John Harvard que, segundo a tradição, todos que tocarem nos seus pés – que ficam brilhosos pelos toques – terão sucesso em sua trajetória profissional, e isso é feito por centenas de anos pelas milhares de pessoas que ali estudam ou passam.
A Universidade de Harvard é, talvez, uma das mais emblemáticas no mundo e formou muitas figuras importantes na política americana – pelo menos 8 presidentes -, como Barack Obama, que, até então, foi o último presidente a estudar nessa universidade simbólica.
Esse clima de Harvard que convivi no período em que morei lá me transportou por acaso para milhares de quilômetros em direção à pequena cidade da Baixada Fluminense chamada Paracambi, onde temos atualmente a chamada ”Harvard da Baixada”, que foi iniciada há 20 anos somente.
Me lembro, como se fosse hoje, quando o então prefeito da pequena cidade, André Ceciliano, me ligou, pois eu estava fora no Rio de Janeiro com o governador à época, Anthony Garotinho, e o então secretário de Ciência e Tecnologia, Wanderley de Souza, me sugerindo desviar aquela viagem de helicóptero, onde voltávamos de uma inauguração em Resende para pousar naquela pacata cidade.
André, na ocasião, havia me mandado uma foto, por e-mail – já que naquela época não existia ainda o WhatsApp -, mostrando um prédio do século 19 construído para abrigar uma então imponente fábrica de tecido, denominada como Companhia Brasil Industrial, onde ele, com a sua visão de prefeito, queria transformar em um grande centro de ensino, pois a unidade fabril já estava desativada.
Quando vi aquela imagem pela primeira vez, literalmente me arrepiei e falei para ele: ”André, isso é a nova Universidade de Harvard”. Me surpreendi muito e, como era secretário de Energia e Petróleo, me coloquei à disposição para iniciarmos a empreitada muito interessante para tirar a ideia do papel.
Desviamos naquela data o helicóptero para pousar em um belo gramado, aparado por ele, que existia na frente daquela fábrica desativada, que aliás também lembrava os gramados de Harvard, e já tínhamos a solução na ponta da língua: era a de utilizar uma contrapartida de incentivos fiscais de uma Termelétrica que estávamos instalando naquela região em Seropédica pela então poderosa e forte empresa de energia americana Enron, onde poderíamos, com os recursos, fazer toda adaptação para um grande campus de Ensino e Cultura. Ao descer ao local para visitar a decisão foi muito rápida: tínhamos que implantar ali uma Universidade! Mas como, se não havia vontade e ânimo?
Definimos, para viabilizar o sonho, que ali poderiam estar os primeiros cursos superiores da FAETEC, que coincidentemente décadas depois presidi, e iniciamos os primeiros Centros de ensino voltados basicamente para formação nas áreas de Meio Ambiente e Informática.
Anos mais tarde, com muitas intervenções, o espaço tem se transformado em um grande complexo educacional, inclusive incorporando um Centro Federal de ensino, onde se articulou para que unidades do CEFET Química fossem instaladas ali, o que depois virou IFRJ que funciona hoje como um Centro Universitário, inclusive com cursos de extensão, Técnicos, Graduação, atualmente em Engenharia Mecânica e Licenciatura de Matemática, alem de cursos de pós-graduação.
Também funcionam no mesmo campus a FAETERJ (Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro), que oferece cursos superiores e que pertence à FAETEC, com cursos os citados Gestão Ambiental e Sistemas de Informacao, CETEP (Centro de Educação Técnica e Profissionalizante) e polos do CEDERJ (Centro de Educação à Distância do Estado do Rio de Janeiro).
Atualmente também, naquele “Centro deslocado de Harvard”, uma série de outras atividades são desenvolvidas como a Companhia Municipal de Balé, um Planetário, o Espaço Cinema e Arte e até um importante núcleo da Escola de Música Villa-Lobos, além do Espaço da Ciência e de uma brinquedoteca. Ou seja, virou um grande complexo de saber para o ensino médio, formação profissional, cursos de curta duração, de graduação e pós-graduação e principalmente de cultura.
Uma curiosidade é que na segunda temporada que iniciará da série Arcanjo Renegado da GloboPlay, a futura Presidente da Alerj, posição que o André Ceciliano ocupa hoje, e que terá como personagem Maíra, estrelada pela atriz Cris Vianna, será de Paracambi e terá simbolicamente sua formação nessa universidade e onde sua mãe atua na trama como Reitora, que será uma personagem com o nome Dona Leda.
Harvard da Baixada é um Centro Educacional em Paracambi com uma história de 20 anos, ainda muito recente, mas que tem alma! Uma história de um sonho, construção, vontade e que respira inteligência. A imagem é sensacional, vale muito uma visita e tem até trem para chegar lá.
Ótimo texto e interessante comparação com a Universidade de Harvard. Conheço bem este polo educacional de Paracambi, pois foi ali que inicie a minha graduação em Matemática.
Mas não podemos esquecer do importante papel desempenhado pelo antropólogo e educador Darcy Ribeiro, que
pretendia construir a Universidade Aberta do Brasil. Está ideia contribui para a criação do Cederj, cujo projeto foi iniciado em 2001, com a oferta do cursos de licenciatura em Matemática pela UFF, com apenas 160
alunos distribuídos em quatro polos regionais: Itaperuna, Paracambi, São Fidelis e Três Rios. Hoje este consórcio tem polos que cobrem todo o Estado do
Rio de Janeiro.
Na década de 1980, eu era obrigado a encarar uma longa viagem de trem até São Cristóvão para estudar no Cefet-RJ, pois as melhores instituições públicas de ensino estavam localizadas na cidade do Rio de Janeiro.
Mesmo que tardia, esta iniciativa de deslocar os grandes centros educacionais para regiões esquecidas até então, merece nossos aplausos. Se está medida tivesse sido tomada lá na década de 80, ou antes, talvez agora eu estivesse digitando este texto em um celular com tecnologia desenvolvida por brasileiros.
Meu polo! Mencionaram a zona de mata protegida na qual está inserida? É um local lindo que me compensava cada viagem até lá.
Estudei neste campus pelo CEDERJ e é realmente muito bom. Uma atmosfera muito agradável em um prédio histórico.
Essa região tão importante turísticamente poderia receber uma linha de metrô passando pelo bairro com uma estação no Cosme Velho com uma saída praça São Judas Tadeu e outra no terminal de ônibus. A linha seria Rod. Novo Rio x Siqueira Campos, sendo o trajeto: Estácio – Rio Comprido – Cosme Velho – Dona Marta – Real Grandeza e Siqueira Campos.
Pena que o dito “planetário” (prédio histórico, por sinal) está completamente abandonado, suas portas lacradas com tijolos e cimento – arrombadas, enfim, retrato do descaso.
Excelente história, muito bem contada, mostrando que grandes e relevantes projetos nascem de sonhos, de metáforas… Parabéns a todos por perceberem a vocação do lugar e viabilizar um importante polo cultural.
Excelente história, muito bem contada, mostrando que grandes e relevantes projetos nascem de sonhos, de metáforas. Parabéns a todos por perceberem a vocação do lugar e viabilizar um importante polo cultural.