Wagner Victer: O homem que virou uma flor – o Álvaro da Camélia Flores

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre a história da tradicional floricultura Camélia Flores

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A história mostra que muitas vezes os fatos ou atitudes consolidam nomes e figuras importantes ao longo da história.

Essa sinergia é algo muito bonito e aqueles que na juventude leram O Pequeno Príncipe viram como o principezinho cativou a Rosa e tornou-se responsável por ela, como na mensagem do livro, “você é responsável pelo que cativa”. Essa obra literária contada por Saint Exupéry me faz lembrar de uma história aqui do “planeta Rio de Janeiro”, da vida de um homem que virou uma Camélia, ou seja, que virou uma flor.

A história das Camélias no Brasil é muito interessante… Elas se tornaram símbolo do abolicionismo, pois existia no bairro do Leblon um quilombo cujo dono, o português José de Seixas Magalhaes, cultivava Camélias com o auxílio de escravos fugidos e de abolicionistas. A flor era usada para identificar os abolicionistas, pois eles usavam uma Camélia na lapela do Paletó ou tinham um pé de Camélia plantado na porta de suas casas. A Princesa Isabel apareceu em público algumas vezes com essas lindas flores e no dia 13 de maio de 1888, data em que assinou a Lei Áurea, recebeu um lindo buquê de Camélias, como símbolo da importância desta data.

O Álvaro que virou das Camélias, ou as Camélias que viraram o Álvaro, talvez seja um dos maiores símbolos de dedicação a uma atividade linda que é a venda de flores, e que ele com todo o seu estilo conseguiu transformar em um marketing, que vem se perpetuando por décadas e hoje está indissociável ao seu nome, que, aliás, ele inteligentemente para perpetuar escolheu para o seu filho e sucessor, muito conhecido também como Alvinho das Camélias.

Ou seja, não é possível falar das Camélias sem lembrar do Álvaro e também não é possível falar do Álvaro sem lembrar das Camélias, um homem que virou o símbolo das flores. Essas Camélias com o tempo viraram muitas outras flores, como as orquídeas que estão sempre presente em cerimônias ou que ao perderem suas flores ganham vida amarradas junto às árvores.

Para aqueles que são tradicionais e escutam rádio, é impossível não se lembrar dos abraços enviados pelo Álvaro das Camélias sempre acompanhado de suas flores, que chegam muitas vezes de maneira repentina e espontânea sem pedir nada em troca. Os taxistas já tem o Álvaro das Camélias íntimo, mesmo não o reconhecendo, tamanho é a dimensão do seu nome.

Outro dia, entrando nos novos estúdios da Rádio Tupi, vi a consagrada radialista Isabele Benito, que, aliás, é uma das melhores radialistas que o Brasil produziu nos últimos anos, dando os parabéns ao vivo pelo aniversário do seu filho, um garoto tricolor, corrigindo os erros da escolha do time de futebol da mãe. Com ela na bancada, estavam lindas flores. Quando elogiei, ela disse que tinha sido o Álvaro das Camélias que tinha enviado e que seria a primeira vez na vida que o filho receberia flores.

A história do Álvaro, hoje com mais de 80 anos, ou das Camélias, é algo sensacional e emocionante. O Mercado de Flores nasceu em 1904, fundado por abolicionistas na Praça Olavo Bilac. Anos mais tarde, em 1908, um desses fundadores abriu no Box 8 a Camélia Flores. Mesmo no período tão difícil de pandemia, a Camélia Flores continuou e continua viva. Está localizada há mais de 100 anos na Rua do Rosário e desde 1959 sob o comando do Álvaro das Camélias, que talvez seja a pessoa no país que melhor exemplifique a bela e romântica profissão do florista.

Álvaro sempre teve uma postura muito ativa junto a sociedade. Em momentos tristes, a Camélia Flores doou coroas de flores para policiais vitimados. Nos momentos de alegrias, também sempre esteve presente doando flores para festas e eventos importantes na nossa Cidade, como na implementação das UPP’s, e até nas festas de 15 anos para jovens de comunidades e diversos eventos do setor cultural, realizando diversas parcerias no carnaval, réveillon e até Rock in Rio.

Em condições internacionais, o Álvaro das Camélias seria um “Case de Estudo” em escolas gerenciais de Harvard pela maneira simples e direta como ele fez seu Marketing e se associou a uma atividade extremamente difícil e que requer muita habilidade e percepção de carinho.

Segundo o grande radialista das manhãs da Tupi, Antônio Carlos, o Álvaro das Camélias é o florista mais conhecido do Brasil. Tenho apenas que divergir do meu grande amigo, pois não acredito que exista outro florista mais conhecido no mundo como o Álvaro das Camélias e certamente não existe ainda tal reconhecimento, pois o Guinness Book ainda não criou essa categoria.

No reino dos céus, certamente Álvaro será sempre uma Camélia que se transformou num homem e que será lembrado na eternidade pela referência no ramo das flores nos país.

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