Wagner Victer: O jogo do Flu do estádio da Lusa, a Ômicron e o desastre frente ao Bangu

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre sua experiência no jogo do Fluminense, realizado no estádio da Lusa

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Foto: Divulgação/Portuguesa-RJ

Todos sabem que sou insulano ferrenho e que meu segundo time é a Portuguesa da Ilha do Governador, aliás onde meu pai entrou para sócio quando eu tinha 5 anos de idade, e que eu, frequentemente quando vou fazer minhas caminhadas, uso as camisas, diante da simpatia que tenho pelo Clube.

Fiquei bastante feliz de saber que os jogos do Fluminense seriam na Lusa, estádio conhecido como Ventos Uivantes, porém a minha decepção foi profunda e estranhei desde o início ao chegar ontem no jogo do Fluminense contra o Bangu

É claro que todos nós tricolores que nos deslocamos para lá já vimos na entrada aquele questionável jabaculê das grades, que para um jogo de teoricamente 5 mil pessoas, tínhamos que percorrer grades em chicanas equivalente a um estádio para 50 mil pessoas, ou seja um dimensionamento que possivelmente foi a base de aluguel, totalmente inconsequente e possivelmente com custos adicionais, que aliás são sempre questionados no Maracanã.

Da mesma forma, a quantidade de seguranças, inclusive usando o mesmo colete da empresa de segurança que é usada no Maracanã e que vem de longa data, também chocavam a entrada e ficavam batendo cabeça e possivelmente também em um dimensionamento desproporcional, pois diziam que a empresa anteriormente contratada estava amarrada ao contrato de concessão do Maracanã e certamente não estaria com o da Lusa.

Imaginei o que era óbvio, já que estamos no meio de uma crise sanitária com a nova variante Ómicron, que teríamos uma lotação inferior a que comporta o estádio, o que absurdamente não aconteceu!!! Não havia sequer um lugar sentado vago, ao contrário! O número estava extremamente superior ao número de assentos com pessoas se acotovelando e a maioria, cerca de 90%, não usando máscaras e sem qualquer tipo de cobranças! Os banheiros lotados e imundos!! Ou seja, o estádio virou um tremendo “covidário” no meio de uma nova variante extremamente contagiosa.

Não sei como o Fluminense, que começou a ter uma postura coerente no início da pandemia com a decisão de primeiramente não jogar e logo depois de não aceitar público, se submete ou promove uma situação como essa de pessoas se acotovelando, sem espaço e distanciamento algum, e obviamente em um limite muito acima da capacidade do estádio ou a capacidade do estádio foi informada equivocadamente.

Um bom exemplo disso é que em Brasília, no estádio Mané Garrincha, que sempre foi conservador, não permitirá o Fla x Flu com público. Aqui no Rio o Fluminense que sempre se demonstrou “progressista” no tocante ao tema de combate à covid, no meio do momento mais grave se permite ao sistema de “acotovelamento” e super lotação como foi visto ontem.

Uma situação como essa, calamitosa e irresponsável do ponto de vista sanitário, sem qualquer fiscalização dos órgãos públicos, acaba legitimando o discurso daqueles que têm também suas atividades obstruídas, pois o que aconteceu no jogo na lotação do estádio foi um absurdo e a omissão das autoridades sanitárias, não podem continuar acontecendo.

Juro que tentei de todas as formas, “até em um jabaculê particular”, fugir do tumulto, ou indo para a cabine da rádio que participo semanalmente ou até algum espaço próprio da Portuguesa, o que não foi possível. Certamente não me exporia a continuidade dessa situação absurda e optei por sair do estádio antes do fim do primeiro tempo, até em respeito a questões sanitárias óbvias.

Observem que falo das questões sanitárias, não falo nem das questões voltadas à segurança e pânico, pois obviamente, com essa lotação, qualquer situação de pânico viraria uma catástrofe, pois não havia qualquer sistema de escoamento para aquela arquibancada lotada e isso traria consequências gravíssimas e certamente é algo que merece ser revisto pelo Corpo de Bombeiros. Aliás, nesse conceito tanto de conforto como segurança, o estádio do América que jogávamos em Mesquita tinha condições que poderiam ser chamadas de Wembley diante do que vimos ontem.

Os corredores de escoamento entre os espaços de arquibancada estavam todos ocupados!! Praticamente todas as pessoas não assistiam os jogos sentados e sim em pé, em cima das cadeiras. Os poucos espaços que sobravam eram em laterais, porém nas laterais não havia ninguém orientando a redistribuição de pessoas, ou seja, uma bagunça completa.

Falei com dirigentes da Portuguesa que me falaram que nada poderiam fazer, pois toda organização caberia ao Fluminense, o que até estranhei, pois a imagem negativa que fica sempre é para o proprietário do estádio.

Não dá mais para o Fluminense jogar no estádio da Portuguesa no meio de uma pandemia com esse tipo de lotação. Ou se refaz brutalmente para que se tenha o mínimo de espaçamento ou se deve buscar qualquer outro estádio, pois o que aconteceu ali foi um absurdo.

É claro que esse conjunto de trapalhadas na preparação do estádio na gestão dessa partida de alguma maneira foi reverberada pelo desempenho em campo, onde já começamos a sentir o “peso” de alguns jogadores, como o Felipe Mello que entregou o primeiro gol, o Cristiano da Moldávia que já começou a dar saudades do Darilo Barcelos e o William Bigode totalmente fora de forma.

A exclusão dos jovens no banco e a subserviência do técnico Abel diante de interesse de empresários, com a colocação de jogadores como Caio Paulista, é um cenário muito nebuloso para o futuro e serve de alerta, pois o prognóstico para o resultado da primeira partida é péssimo.

Ou seja, a experiência esportiva que tive e como torcedor do jogo contra o Bangu no simpático estádio da Lusa foi a pior possível e certamente nem na minha época de garoto nos jogos raízes em Conselheiro Galvão e Italo del Cima, vi tanta trapalhada ao mesmo tempo.

Fica a vantagem somente de ter encontrado no salão da quadra de entrada muitos amigos tricolores e uma boa resenha, porém, infelizmente, não volto ao estádio da Lusa enquanto tivermos uma situação como essa e não recomendo nenhum tricolor de bom senso ou que respeite a sua vida e de sua família estar presente.

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