O dia 13 de maio, para o mundo católico, é dedicado a Nossa Senhora de Fátima, uma das mais poderosas invocações marianas desde a segunda década do século XX, quando ocorreram as aparições na Cova da Iria, em Fátima, Portugal, diante de três crianças, os Três Pastorinhos, como ficaram conhecidos. Eram Lucia do Santos, com dez anos, Francisco Marto, com oito e sua irmã Jacinta, com sete.
Segundo seus testemunhos, Nossa Senhora apareceu por seis vezes, a partir de 13 de maio de 1917, até outubro, quando ocorreram fenômenos observados por muitos fiéis e moradores da região. Em sua última aparição, se identificou como “Senhora do Rosário”, gerando sua principal denominação eclesiástica: Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
Na ocasião, pediu a construção de uma capela naquele local em sua invocação, onde rezassem o terço todos os dias, pois o fim da Grande Guerra estava próximo. Surgia uma das maiores devoções do povo português, que atravessou mares e chegou ao Brasil na década de 1930.
O dia 13 de maio também registra a assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravatura no Império brasileiro, efeméride que gera, com justiça, muitas polêmicas em relação aos seus desdobramentos e às diferenças sociais que persistiram, incluindo manifestações preconceituosas.
Entre tantos atos cruéis praticados durante a escravização de africanos, um deles originou a lenda gaúcha do Negrinho do Pastoreio, que se apresentava como afilhado da Virgem Maria.
Aquele menino sem nome, vivendo em condições desumanas era cativo de um perverso estancieiro. Após sucessivas punições, o garoto foi amarrado num formigueiro, para ser devorado. Três dias depois, quando o carrasco voltou ao local do suplício, encontrou o menino de pé, sem lesões no corpo. Junto a ele estava sua madrinha, Nossa Senhora, resplandecente, indicando que a criança estava sob sua divina proteção.
A partir daquela ocasião, muitos moradores, estancieiros e boiadeiros contavam causos sobre a visão de um menino, pastoreando, montado em um cavalo baio pelos pampas e coxilhas gaúchas.
O dia 14 de maio é dedicado em sua homenagem, carreando uma emocionada devoção sulista dedicada à recuperação de causas perdidas.
O povo gaúcho precisa recorrer às suas crenças, de qualquer natureza, sem manifestações preconceituosas, para aguardar tempos melhores, quem sabe guiado pela resiliência do Negrinho do Pastoreio em seu cavalo baio e tantas outras devoções.
Curiosamente, a principal irmandade católica leiga colonial que congregava o povo preto era dedicada a Nossa Senhora do Rosário, com muitas igrejas distribuídas pela colônia lusa, muito antes das aparições em Portugal. Uma poderosa organização responsável pela proteção e libertação de muitos escravizados, através de atos como as muitas alforrias obtidas com as arrecadações dos irmãos e devotos.
O mais antigo santuário dedicado à Nossa Senhora do Rosário de Fátima no mundo, fora de Portugal, foi inaugurado em 1935, em Recife, PE, incorporando linguagens góticas e art-déco, edifício que se tornou uma referência religiosa e cultural para a capital pernambucana, tombado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Pernambuco.
Na cidade do Rio de Janeiro, desde 1939, quando foi consagrada uma capela à devoção no interior da igreja de Santo Antônio dos Pobres, no Centro, existem 59 locais de culto a Nossa Senhora de Fátima, incluindo 15 paróquias e um Santuário, distribuídos pelas zonas norte, oeste e da Leopoldina.
Em dezembro de 1937, o Correio da Manhã noticiava que o Padre Ângelo de Paoli, da Congregação da Divina Providência, adquiriu um terreno à Rua do Riachuelo, onde seria instalado um templo.
Após a consagração da capela no interior da Paróquia de Santo Antônio, em 1941, no terreno adquirido à Rua do Riachuelo, o Cardeal Leme abençoava o lançamento da pedra fundamental do Santuário de Nossa Senhora de Fátima. As obras foram iniciadas no ano seguinte, sob responsabilidade do engenheiro-arquiteto Alberto Gaburri, conforme informação da Congregação.
Em maio de 1947, com a presença de Dom Jaime Câmara, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, o Santuário foi inaugurado e aberto às atividades litúrgicas.
A fachada principal do templo, assim como alguns elementos presentes na nave principal, atualiza referências da arquitetura gótica, o neogótico, partido muito comum em igrejas do final do século XIX em diversos lugares do mundo. Os arcos ogivais estão presentes em diversos ambientes, inclusive na portada principal sob a torre única, central, arrematada por um cone poliédrico alongado, ornamentado com um rendilhado em argamassa, que sustenta a imagem de Nossa Senhora.
Diferente dos edifícios medievais, a pedra original foi substituída pela estrutura de concreto armado e parede de vedação de tijolos. Os vitrais coloridos, marcos do gótico, foram substituídos por grandes panos de vidro que auxiliam na iluminação da nave central e duas laterais, com capacidade para 300 pessoas, disposta num pavimento elevado sobre o salão paroquial, arrematado por abóbadas de aresta, em outra referência à arquitetura medieval.
Em 09 de outubro de 1960, Santuário Nossa Senhora de Fátima foi elevado à categoria de Paróquia.
A ocupação do entorno imediato não considerou a preservação da visibilidade do conjunto, que se encontra praticamente entalado entre edificações mais recentes, com gabarito superior à altura da torre central, comprometendo a volumetria e valorização do templo como elemento arquitetônico, religioso e cultural.
Durante a semana de celebração da devoção, centenas de fiéis dirigem-se ao templo para missas, orações, pedidos e agradecimentos com presença marcante da comunidade lusa, mesmo com a construção de um novo Santuário, no Recreio dos Bandeirantes, conforme matéria desse jornal de agosto de 2021 (https://diariodorio.com/rio-de-janeiro-tem-seu-proprio-santuario-de-fatima-no-recreio-dos-bandeirantes/).
Segundo a Associação Arquidiocesana Tarde com Maria, o Santuário foi erigido pelo Cardeal do Rio de Janeiro, D. Orani Tempesta, um ano após a Associação a construção da réplica da Capela das Aparições, em 13 de maio de 2010.
O templo, de concepção arquitetônica contemporânea, localizado na Avenida Alfredo Balthazar da Silveira, 900, foi inaugurado oficialmente em 28 de maio de 2011,
A Capela das Aparições do Brasil, localizada no interior do grande edifício, é a única réplica do mundo da Capela das Aparições de Portugal, construída com as mesmas plantas enviadas pelo Santuário de Fátima original.
Existem outros edifícios religiosos construídos para celebrar essa devoção, com diversos repertórios formais, desde o neogótico da igreja localizada à rua do Riachuelo, passando pelas formas modernas e curvilíneas do templo em Todos os Santos até o mais recente Santuário, que vem se tornando uma referência para os devotos não apenas pela beleza do novo edifício, mas também pela diversidade de elementos religiosos que ali estão inseridos como a Capela da Adoração ao Santíssimo Sacramento, o Memorial da Esperança, a Capela Nossa Senhora da Esperança e os confessionários.
Na cidade do Rio de Janeiro não faltarão espaços católicos para celebração de Nossa Senhora de Fátima, a Mãe Maior, data que acontecerá na segunda-feira, logo após o Dia de Todas as Outras Mães.
Ave, Maria!
Toda solidariedade para o povo gaúcho e suas as mães!
Parabéns para todas as mães, todos os dias!