Em diversos bairros da Zona Oeste testemunhamos, com muito pesar, a deterioração de diversos patrimônios históricos que padecem com o abandono, a falta de manutenção e a descaracterização. Eles carregam o registro histórico dos bairros e são espaços de memória que foram palco de tantos momentos marcantes para a nossa cidade. Não à toa, ocupam as lembranças afetivas dos moradores, mas acabam desaparecendo para dar lugar a construções novas que poderiam ser colocadas em qualquer outro local. Em Campo Grande, temos o exemplo do Colégio Belisário dos Santos, um edifício histórico que foi demolido para a implantação de um estacionamento. Um absurdo!
Nossos clubes de bairro são também exemplos de patrimônios históricos que sofrem constante descaso do poder público. São importantes pontos de sociabilidade e lazer que, em sua maioria, estão cada dia mais destruídos, ameaçados pela ação do tempo e da falta de cuidado. Com isso, perdem muitas vezes sua função para a comunidade. Não podemos mais assistir passivamente ao desaparecimento deles. A partir dessa consciência, criamos a Frente Parlamentar de Proteção e Ativação do Patrimônio Histórico Cultural da Zona Oeste e o Projeto de Lei para o tombamento da pista de skate localizada na Praça Marechal Edgard do Amaral, em Campo Grande.
Trata-se do famoso Pistão de Campo Grande, histórico para o desenvolvimento do skate não só na região, mas no Brasil inteiro. Inaugurada em 1978, foi a segunda praça pública do esporte no Brasil e uma das primeiras também na América Latina. Nela, ocorreu a evolução do skate vertical na cidade do Rio de Janeiro, sendo palco para realização de vários campeonatos.
As praças são os locais de encontro dos bairros, possuindo o importante papel de estimular o convívio coletivo e as atividades ao ar livre. Nos subúrbios, era muito forte a tradição de levar as crianças para brincar ou passar um tempo ao ar livre. As conversas com vizinhos e amigos nas praças e as práticas esportivas ajudam a manter as comunidades unidas e na implementação dos hábitos saudáveis a diferentes perfis, idades e classes sociais. Vemos que com a degradação dos espaços públicos, o aumento da violência e a não valorização dos patrimônios que guardam e alimentam a memória coletiva, ocorre o enfraquecimento de tais tradições e práticas. Conclusão: o espaço urbano fica ainda mais desigual e vazio de sentidos e significado.
É nas praças onde há equipamentos esportivos que temos uma das principais armas do fomento ao esporte e ao lazer. Elas proporcionam saúde e bem estar à população a partir do primeiro contato com as modalidades bem perto de onde se mora. Esse é o caso do Pistão, uma praça ampla que, além de brinquedos e bastante espaço aberto, possui como diferencial uma grande pista de skate. É um equipamento urbano que também incentiva as ações sociais locais e as práticas de ensino. Já faz parte do cotidiano de inúmeros moradores de Campo Grande e do entorno frequentar o Pistão.
O fomento aos esportes radicais, principalmente agora que também são esportes olímpicos, torna-se ainda mais necessário. E o Pistão é um importante equipamento esportivo disponível gratuitamente na Zona Oeste, região com mais de 2 milhões de habitantes e marcada pela falta de investimentos públicos. Manter uma praça desse tipo é fundamental para resguardarmos os jovens da área e o surgimento de novos talentos.
O tombamento trará para este bem o reconhecimento e a oportunidade de valorização cultural, social e histórica que merece. Também abrirá caminho para a ampliação de políticas públicas ligadas ao patrimônio histórico-cultural na Zona Oeste, temática da Frente Parlamentar que comentei acima. A preservação é a garantia do não apagamento da nossa história, dando às presentes e futuras gerações direito à memória, ao fortalecimento dos seus laços e à sensação de pertencimento com os bairros.
Se nos últimos Jogos Olímpicos o Brasil saiu com três medalhistas nas modalidades Park e Street Skate, é porque temos muita história prévia para que esse resultado enfim tenha se materializado. O tombamento da pista de skate contribuirá para inúmeras ações de educação patrimonial e na construção de uma cidadania ativa na preservação e cuidado do espaço público. Precisamos garantir que nossa memória permaneça materializada em nossas ruas em prol do nosso futuro.