O período de isolamento social que estamos vivendo, ocasionado pela pandemia do Coronavírus, trouxe mudanças à sociedade e ao comércio de maneira geral. E um dos ramos mais afetados, sem dúvidas, foi a cultura, com casas de show e boates, independentemente do porte, fechadas desde o início da quarentena. Esse setor, inclusive, deve ser um dos últimos a reabrir no Rio de Janeiro.
A Fundição Progresso, por exemplo, localizada na Lapa, região central da cidade, para se manter ativa e angariar fundos para conseguir se manter, investiu no projeto ”Salve Salve Fundição”, que visa a venda de vouchers, no valor de R$ 50 cada, para shows que acontecerão na casa quando a mesma reabrir, valendo até o final de 2021. Entre os artistas já confirmados, estão, por exemplo, nomes como Adriana Calcanhoto, BaianaSystem, Maria Rita, Os Paralamas do Sucesso e Vanessa da Mata, entre diversos outros.
”O momento é de ficar em casa e ainda não temos previsão para reabertura. Sabemos que a nossa área deverá ser uma das últimas a retomar o funcionamento normal, mas precisamos fazer este movimento para sobreviver agora e contamos com artistas que fazem parte da nossa história”, diz Uirá Fortuna, diretor da Fundição.
Quase vizinho à Fundição e tão relevante quanto, o Circo Voador tem apostado, enquanto não retorna com as apresentações presenciais, em reexibições de shows marcantes realizados na famosa lona. O projeto, intitulado de ”Circo Voador no Ar” e transmitido pelo canal no YouTube oficial da casa, acontece às sextas e sábados, sempre às 22h. Já foram transmitidos, por exemplo, shows de Geraldo Azevedo, Tom Zé, Francisco, el Hombre e Braza, este último no sábado passado (27/06).
”Incrível a iniciativa do Circo Voador! Como estamos em um momento de reinvenção, a reprise de shows emblemáticos nos anima e dá esperança de nos reencontrarmos o quanto antes possível, tanto para o público, artista, e o próprio Circo, que é praticamente nossa ‘segunda casa’. É muita saudade”, diz Danilo Cutrim, vocalista e guitarrista do Braza.
Ainda na Lapa, a menos de 100 metros do Circo, o Espaço Kubrick, que ocupou em julho de 2019 o imóvel onde por 15 anos funcionou o lendário Teatro Odisseia, tinha planejado para abril deste ano a ”inauguração oficial” da casa, com diversos shows nacionais e internacionais, mas viu o cenário mudar completamente em meados de março, com a interrupção das atividades.
”Iniciamos um projeto de reestruturação que englobava mudanças no bar, camarim, palco, cabine de som e toda a estrutura da casa. O capital para investimento que nós tínhamos era bem baixo, então tocamos as obras aos poucos com a casa em funcionamento, no ano passado e início de 2020. Agora em abril, seria a inauguração oficial, depois de concluída a reforma, mas aí veio essa interrupção forçada”, diz Paulo Cesar Ferreira, sócio-proprietário do Espaço Kubrick.
O empresário diz, ainda, que, para não ficar parado, montou a hamburgueria artesanal Turtle Burger, que atende a Barra da Tijuca e redondezas. No Espaço Kubrick, segundo ele, haverá, em breve, a Smasharia, um projeto de hamburgueria low cost.
Já o Vivo Rio, situado no Parque do Flamengo, na Zona Sul, que tinha diversas apresentações agendadas, adiou todos os shows, alguns até para o ano que vem. A casa informou que não tem previsão de reabertura, pelo fato de ainda não haver um protocolo oficial com o máximo de segurança para o público, funcionários e artistas. No entanto, está sendo elaborado um projeto de transmissão de shows no palco principal da casa, e mais informações serão divulgadas em breve. Nas redes sociais, o Vivo Rio tem publicado constantemente #TbTs, relembrando apresentações que já aconteceram no espaço.
Ainda na Zona Sul, o Bar Bukowski, em Botafogo, um dos mais tradicionais de rock do Rio, lançou o projeto ”Nosso Buko”, que consiste numa doação individual de R$ 200 que garante entrada VIP vitalícia aos contribuintes, isto é, quem doar essa quantia nunca mais precisará pagar para entrar na casa.
No mesmo bairro, a pouco mais de 1km de distância do Bukowski, a Casa da Matriz, assim como o Espaço Kubrick, também investiu no ramo de hamburgueria, e está fazendo entregas pela região. Vale ressaltar que, na última quarta-feira (01/07), a casa anunciou que irá mudar de endereço, deixando o número 107 da Rua Henrique de Novais, onde funcionou por anos, e passando para o imóvel ao lado, número 123 da mesma rua.
Na Zona Oeste, por sua vez, a Jeunesse Arena, na Barra da Tijuca, recebeu o último grande show com aglomeração de pessoas realizado no país, o Backstreet Boys, realizado no dia 13/03. Neste momento de distanciamento social, a casa investiu no LoveCine Drive-In, com exibições de filmes e apresentações de artistas musicais. A diretora da casa, Silvia Albuquerque, ainda ressalta as lives de artistas famosos da música brasileira que aconteceram no local e que ainda irão ser realizadas.
”A indústria de eventos foi, sem dúvidas, um dos setores da economia mais duramente afetados: fomos o primeiro segmento a suspender suas atividades e certamente seremos um dos últimos na retomada. Aqui, na Jeunesse Arena, recebemos o último grande show realizado no Brasil, Backstreet Boys, ainda em março. De lá para cá, tivemos que reinventar nossos modelos de negócio e estamos promovendo o único evento possível no atual momento, uma experiência drive-in com gastronomia, música e cinema. Tem sido um grande sucesso. Como nosso espaço é versátil e customizado para todo tipo de evento, inclusive os híbridos, enxergamos outra oportunidade com as transmissões ao vivo. Recentemente, fizemos as lives do Marcelo D2 e Skank, e, nesta quarta-feira [08/07], teremos Mumuzinho. Em breve, ainda devemos receber o Planet Hemp”, diz Silvia.
Ainda na Barra da Tijuca, o Espaço Hall (antigo Barra Music), assim como a Jeunesse Arena, também investiu no sistema drive-in, e tem shows agendados do grupo Roupa Nova (10/07) e do cantor Belo (11/07) para o estacionamento da casa. As entradas para ambos os eventos estão à venda no site ”Ingresso Rápido”, custando R$ 400 (inteira) e R$ 200 (meia). Vale lembrar que esse preço corresponde a 1 carro (comportando até 4 pessoas).
De acordo com o sócio-diretor do Espaço Hall, Maurício Dutt, na retomada da ”normalidade”, os shows terão capacidade de público reduzida e serão plenamente adequados a todo o protocolo de segurança solicitado pelos órgãos de saúde, como o distanciamento social entre 1,5 e 2 metros (inclusive, utilizando mesas), cabines de sanitarização, disponibilização de álcool gel, etc. O Espaço Hall, segundo o empresário, está sendo preparado para ser uma casa de show ”modelo” no período pós-pandemia.
Maurício Dutt também ressalta a inevitabilidade de uma readequação do mercado, necessitando que haja uma ”parceria” entre artistas e empresários para que o cliente possa ter condições de pagar por um show nesse período que vem pela frente, que, possivelmente, será de dificuldades financeiras para todos.
”É muito importante dizer que será necessário uma readequação do mercado. O empresário precisa ‘dar as mãos’ para os escritórios dos artistas e reformular tudo, principalmente em relação a valores, pois o público está enfraquecido economicamente. No Espaço Hall, sempre procuramos trabalhar com preços justos baseado no serviço que oferecemos, mas às vezes a matemática acaba não fechando. Então, vai ter que haver uma grande união entre casas de show, artistas e seus respectivos escritórios para facilitar a vida do cliente e ele receber um produto de qualidade e que tenha condições de pagar”, explica Dutt.
O que dizem as secretarias de Cultura do Rio de Janeiro
Além das casas de show, o DIÁRIO DO RIO entrou em contato também as secretarias municipal e estadual de Cultura do Rio de Janeiro, para saber o que pensam as mesmas sobre esse momento e o que estão planejando para o futuro. Confira o que disse cada uma.
- Secretaria Municipal de Cultura: ”A Secretaria Municipal de Cultura realizou um encontro com representantes das casas de shows do Rio. Foi discutido um Plano de Retomada das atividades, que segue as ‘regras de ouro’ da Vigilância Sanitária. Além disso, esteve em pauta o reconhecimento das casas de shows como segmento cultural e o seu enquadramento na Lei de Emergência Cultural. A proposta é que mais encontros sejam realizados, para que as medidas de segurança e prevenção sejam alinhadas. A Vigilância Sanitária informa, ainda, que a previsão de retomada dessas atividades é na fase 4, com restrições, só voltando ao normal, se não houver alterações, na fase 6.”
- Secretaria Estadual de Cultura: ”Estamos estudando junto aos órgãos sanitários os protocolos necessários que garantam a saúde a saúde para os trabalhadores, público e artistas, tanto nas casas de show quanto nos teatros, cinemas, espaços e equipamentos culturais.”
[…] lembrar que, no último dia 03/07, o DIÁRIO DO RIO noticiou o que as casas de show da cidade têm feito durante o período de isolamento social para se manterem ativas, visto que o momento é muito diferente de tudo já vivido até hoje em […]