Amanda Raiter
Se no século XVIII o Paço Imperial já foi residência do Vice-Rei e de Governadores, hoje, não é incomum encontrar exposições de arte contemporânea meio que destoando do caráter histórico do ambiente. É o que alerta o arqueólogo e professor de história Cláudio Prado de Mello. Para o especialista, é necessário que o espaço, que fica na Praça XV de Novembro, no Centro, volte a destinar os salões do antigo símbolo do governo do país à sua verdadeira vocação. Recentemente, uma exposição de quadros em estilo “pop art” trazia imagens coloridas de personagens aparentemente vomitando; e em 2021 foi bastante comentada uma exposição sobre doenças venéreas, que talvez fizesse mais sentido em algum museu médico.
Mello ainda defende uma espécie de turismo experimental, onde o visitante possa se sentir na época de Dom João VI, e estima que a sociedade carioca ofereceria até doações de antiguidades, caso o Poder Público tenha interesse em dar significado ao local. “Com todo respeito à arte contemporânea, o Paço Imperial é muito importante para se abrir mão da identidade própria. Eu já fui a uma exposição sobre a cantora Maria Betânia e tinham elementos que nada combinava com a expectativa que se cria quando se visita um lugar deste porte, fora o risco de incêndio. Ali, foi assinada a Lei Áurea e para essa lembrança, só é destinada uma plaquinha. Em outros países, as referências são bem presentes e a tendência é impactar o visitante. Naquela área toda, havia túneis subterrâneos que podem servir para um turista ou uma criança vivenciar o período colonial, mas nada é feito”, queixa-se. Recentemente, a bela estátua do General Osório, que foi toda restaurada por ocasião do bicentenário foi novamente vandalizada e teve peças de metal criminosamente arrancadas por mendigos instrumentalizados pelos ferros velhos clandestinos da região.
A localização do Paço, que tem vastas opções de mobilidade urbana como VLT interligado ao trem, Barcas, ônibus urbanos e até de viagem para outras regiões, como Região Serrana, também seria uma vantagem em relação a outros museus da cidade. “O Museu Histórico da Cidade, na Gávea, hoje tem acesso perigoso, pois passa por uma comunidade. O Paço Imperial é o que mais atenderia bem esta demanda e o Centro precisa disso. Faz total sentido montar uma Sala do Trono aos moldes de antigamente e iria valorizar nosso patrimônio”, completa Cláudio Prado de Mello. O espaço fica logo em frente ao famoso Arco do Teles, uma das únicas ruas, ainda íntegras, do tempo dos Vice-Reis, com construções que fazem parte de um conjunto tombado nacional.
A história do Paço Imperial iniciou em 1733, após o governador Gomes Freire pedir ao Rei Dom João V para edificar uma casa de governo do Rio de Janeiro. A construção começa cinco anos depois e o Paço é inaugurado em 1743 e a Praça XV passa a ganhar elementos arquitetônicos o como chafariz do Mestre Valentim. No local, ainda foram instalados o Armazém Real e a Casa da Moeda, que funcionaram no térreo até 1808, quando chega a Família Real e o local é promovido a Paço Real, quando Dom João VI ainda era Príncipe-Regente, passa a utilizar a estrutura. Com a vinda dos nobres, construiu-se a Sala do Trono, onde havia a tradição do Beija-Mão. Antes, em 1763, o Vice-Rei passou a despachar de lá, que passou a ser conhecido como o Paço dos Vices-Reis.
Para a coroação de Dom João VI, foi construída uma varanda, onde também foram apresentados nossos imperadores Dom Pedro I e II, mas ela acabou demolida no Segundo Reinado. Após a Independência do Brasil, foi chamada de Paço do Rio de Janeiro e era usado para despachos de D. Pedro e D. Pedro II.
Das belezas da época, Mello também destaca o Pátio do Arqueiros, que ainda mantém a decoração de 1840. Além da Lei Áurea, outro marco histórico foi decidido no espaço: Dia do Fico, quando D. Pedro decidiu não voltar mais para Portugal, contrariando a Coroa Portuguesa, em janeiro de 1822, meses antes dele proclamar a Independência.
Segundo informações obtidas pelo DIÁRIO, o IPHAN-Rio tem um importante e inestimável acervo documental que poderia também ser exposto, em forma digitalizada, no histórico palácio, de forma interativa e democratizando a informação, lembrando que são comuns os passeios escolares públicos e privados ao espaço. A curiosa gestão atual do espaço cabe a um tal ”Departamento de Cooperação e Fomento” no Iphan de Brasília, sobre o qual a direção local do órgão de patrimônio não tem qualquer ingerência. Enquanto isso, o órgão sequer tem servidores suficientes pra tocar seus mais importantes objetivos na cidade.
A região recentemente recebeu da prefeitura uma nova iluminação histórica, que foi tema de uma inauguração no aniversário da cidade, e tem recebido grandes investimentos privados para recuperação de imóveis históricos, sendo também uma região repleta de igrejas de importância cultural, como a Lapa dos Mercadores, a Santa Cruz dos Militares, a linda São José e a Antiga Sé, onde foram coroados um rei europeu e dois monarcas brasileiros. Todas com detalhes artísticos que são patrimônio da humanidade.
Um sonho para nós, Guias de Turismo Receptivo, na cidade do Rio de Janeiro!! Que os anjos nos intercedam nessa missão ??
Adorei a reportagem e super concordo com as sugestões.
Vou dar uma dica para você que gosta e tem a vocação nada de ajudar as pessoas.
Ensina essas pessoas a pedir pela internet o bolsa família e pede para pararem de roubar peças históricas de metal para vender tudo por 20 reais nesses ferros velhos que pertencem aos ”gansos”
Muito boa a reportagem. Parabéns.
É disso que precisamos, preservar nossa história.
A cidade já tem espaços demais pra exposições contemporâneas. Praticamente hoje somente o CCBB nos traz exposições históricas e, mesmo assim, de vez em quando. O MNBA está em restauro que não acaba nunca…
Obrigado pelo apoio Amanda e Diário do Rio .
Fizemos uma petição publica
Temos que lutar pela devolução do Paço Imperial à Memória do Rio de Janeiro ………………. https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR130300&fbclid=IwAR3Q8U1ViklRc3kdg-L_X-i84NSEMS4NP4L2YD5yesKW7OiJx-VL9ZkcK28