A célebre, sempre ativa e renascente Rua do Ouvidor, nas proximidades da Praça XV, tem experimentado mais boemia neste fim de ano, com cada vez mais visitas de turistas interessados em conhecer o centro histórico da única cidade que foi capital de um império europeu, sua arquitetura e centros culturais. Mas também uma verdadeira revolução de cultura e religiosidade tem ocorrido em meio aos tradicionais botequins e restaurantes da região do Paço Imperial. Neste domingo, o feriado e o réveillon não serão as únicas coisas a serem comemoradas pela Irmandade de Nossa Senhora dos Mercadores, proprietária da igrejinha que reabriu em julho após muitos anos interditada e vem se tornando uma espécie de xodó dos guias turísticos, influencers de história e outros aficcionados pelo Centro. A igrejinha está no coração do projeto de revitalização do Centro.
Em grande estilo, com a apresentação do Coral Astorga, da soprano Juliana Sucupira – que ficou conhecida na pandemia como “a cantora da janela”, a irmandade católica vai se despedir de 2023 celebrando missa solene em latim – ao meio-dia – em homenagem à Nossa Senhora, que ali no templo da Rua do Ouvidor 35 é homenageada sob a denominação de Nossa Senhora da Lapa, uma devoção medieval surgida em Portugal e que foi adotada pelos comerciantes daquela região no século XVIII. Às 12h de Domingo, a solenidade católica da mãe de Deus será celebrada no pequeno templo barroco e rococó construído em formato elíptico pelos mascates e mercadores cariocas de então.
Com muito incenso, procissão, música litúrgica de qualidade – repertório mariano e natalino – e o uso de objetos religiosos de mais de 200 anos, a celebração eucarística, que será celebrada em latim, terã badalar de sinos e deve emocionar os devotos de Maria, e será celebrada na intenção de um ano novo com saúde e frutífero para todos. Ontem (sábado), a missa ficou totalmente lotada.
A última missa do ano na Ouvidor ocorre no nascer da tarde (meio-dia), na Igreja que recentemente recebeu uma linda imagem de Santo Expedito e que teve o relógio de sua fachada totalmente restaurado . Celebrará a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, que marca normalmente o dia mundial da Paz no primeiro dia de janeiro. Como o templo não abre no feriado do dia primeiro, por razões pastorais a irmandade celebrará a importante data católica agora na tarde do último dia do ano, 31/12. Espera-se um repertório todo especial (com músicas como Magnificat e Adeste Fidelis) que será entoado pelo coral e orquestra responsável por acompanhar a celebração, que será feita pelo padre Victor Hugo Nascimento, conhecido pelos frequentadores do santuário do Cristo Redentor. O padre – que também é psicólogo – é exímio cantor, e conquista os freqüentadores do espaço com suas homilias. Segundo o Vatican News, na cerimônia “somos convidados a aprender da Virgem Mãe a “conservar” a Palavra e a nos questionar o que o Senhor Jesus vai nos dizer ao longo desses dias, sabendo que estamos sob o “signo” das bênçãos de Deus”.
A Lapa dos Mercadores prepara mais uma novidade; seu carrilhão de 12 sinos, o primeiro do Brasil, doado pelo Barão da Lagoa à irmandade no início do século XIX, vai voltar a funcionar e será capaz de tocar músicas. O restauro está sendo realizado e deve estar pronto no final do mês de janeiro. Enquanto isso, seu sino principal segue sendo a principal referência das horas e celebrações na região boêmia, impressionando quem passa pela esquina da rua do Ouvidor com o Arco do Teles. Como toda missa, o evento é aberto ao grande público.