Festa Literária Internacional de Paraty começa nesta quarta-feira; veja programação

Durante cinco dias, a maior festa literária do Brasil homenageia o escritor Paulo Barreto, conhecido como João do Rio, e promove discussões sobre temas atuais

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Foto: dabldy/Getty Images

Nesta quarta-feira (09/10), começa a 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece até o próximo domingo (13/10) na cidade. Em 2024, o evento homenageia o escritor, jornalista e dramaturgo Paulo Barreto (1881-1921), conhecido pelo pseudônimo literário João do Rio. Assim como seu homenageado, que registrou os conflitos, temores e dilemas de seu tempo, refletindo sobre o progresso, a velocidade e a formação urbana, a Flip traz para o centro dos debates a pluralidade de visões e sensibilidades do mundo contemporâneo.

Durante cinco dias, a maior festa literária do Brasil promove discussões sobre temas atuais, como o impacto das queimadas. Com Pablo Casella e Txai Suruí, duas vozes que vêm de dentro da floresta, a mesa “Cessar o Fogo” ocorre no próximo sábado (12/10), a partir das 21h30. Entretanto, o tema não é o único em discussão. Haverá também mesas sobre racismo, a dor das mulheres em meio à violência, emergências climáticas, inteligência artificial e a violência contra os povos indígenas.

“Nessa curadoria tivemos a preocupação de discutir temas atuais como as mudanças climáticas, as queimadas e as guerras em Gaza e no Líbano, a censura, a inteligência artificial e a desinformação. Acho, particularmente, que a literatura e essas formas de artes verbais são essenciais para ajudar a gente a organizar o mundo. Ao mesmo tempo em que nos sentimos muito provocados por obras literárias muito contundentes, sentimos também certo alívio quando a obra nos oferece um recorte para compreender o caos no mundo”, disse Ana Lima Cecilio, curadora desta edição da Flip, em entrevista à Agência Brasil.

Outra conversa que permeia a festa nesta edição é o enfrentamento ao ódio nas redes sociais, debate que acontece na sexta-feira (11/10). “O ódio nas redes é uma discussão muito contemporânea. Estamos em plena eleição e há duas ou três eleições a gente entende o poder de mobilização da internet, dos grupos de ódio e da polarização”, comenta Ana.

No mesmo dia, ocorre a mesa “Não Existe mais Lá”, que irá abordar os diários escritos por Atef Abu Saif, que estava em Gaza durante os bombardeios, e por Julia Dantas, que testemunhou a invasão de sua casa e bairro pelas águas durante a enchente em Porto Alegre neste ano. “Quando juntamos esses dois, estamos falando de ações humanas que poderiam ser evitadas, mas que estão destruindo cidades e populações inteiras. Fazer essa conexão entre temas urgentes é importante para tentar organizar o mundo. Não é um congresso que sairá com soluções, mas é um bom caminho pra gente aprender a se posicionar, ler as coisas e entender como o mundo se dá”, reforçou a curadora.

Além disso, uma das novidades da Flip deste ano é a realização de um podcast ao vivo. Com as mesas de conversa já elaboradas, a edição explora novos formatos que utilizam vídeo, sons e músicas, algo que o evento já vem estudando ao longo do tempo. Assim, a proposta é um experimento, com a colaboração da Rádio Novelo. O podcast é inspirado no homenageado e no clima do evento.

Criada em 2003, a Flip é reconhecida como Patrimônio Histórico Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. A festa literária reúne personalidades do mundo da cultura e da literatura para conversas, palestras e lançamentos de livros, e se firmar como uma grande manifestação cultural que promove ações de incentivo à leitura e a formação de novos leitores.

O grande João do Rio

O grande homenageado da Flip deste ano foi um dos autores mais significativos do início do século XX no Rio de Janeiro. Além de crítico de arte e autor de romances e peças teatrais, João do Rio se destacou como um repórter singular, relatando os eventos cotidianos de maneira literária e integrando a reportagem à literatura.

Foi também o primeiro jornalista a subir o morro, ouvindo com atenção e empatia a voz das ruas, tornando-se uma espécie de porta-voz de um povo que não encontrava espaço na imprensa. Ao percorrer vielas e acompanhar manifestações culturais, observando de perto os hábitos de uma cidade em rápida transformação, João do Rio estabeleceu um novo modo de fazer jornalismo.

“O jornal, no final do século 19, era basicamente um lugar de opiniões das pessoas mais poderosas, como deputados ou vereadores e empresários mais proeminentes. Os jornais eram muito marcados ideologicamente. Muito pelo que ouvia na França, João do Rio começa a fazer no Brasil um jornalismo completamente diferente. Ele é o primeiro cara que faz entrevista, que chamava de inquérito. Além disso, começa a sair do local onde os jornais eram feitos e vai para as ruas, ver o que estava acontecendo. Ele vai subir os morros das favelas, entender como são as festas populares, ver as pequenas profissões. Ele tem um olhar para a cidade que é uma coisa impressionantemente sensível e esperta, mas tem também a sacada de contar isso para as pessoas que estavam lendo o jornal. Então, ele inventou a crônica moderna”, afirmou a curadora.

Com problemas de obesidade, mestiço e homossexual, o escritor faleceu vítima de um ataque cardíaco, que o impediu de completar 40 anos. Ele deixou um legado de 25 livros e mais de 2.500 textos publicados em jornais e revistas.

Como parte dessas homenagens ao escritor e jornalista, a Flip vai promover uma conferência de abertura chamada As ruas têm alma: João do Rio, o convidado do sereno. Ela será apresentada por Luiz Antônio Simas e pretende ser uma breve aula sobre João do Rio, atualizando seu legado.

Além da programação oficial da Flip, João do Rio também será destaque na Casa CCR. Com atividades totalmente gratuitas, o espaço irá contar com nove mesas de discussão que reunirão escritores, jornalistas, tradutores e pesquisadores acadêmicos. Os debates vão abordar temas como tecnologia, mobilidade urbana, combate às mudanças climáticas e jornalismo literário, incluindo uma mesa dedicada ao repórter.

O Instituto CCR, responsável pela Casa CCR, ainda vai oferecer duas oficinas de grafismo no local, onde o público poderá deixar um registro literário em madeiras provenientes dos bancos das praças de Paraty, que serão reinstalados posteriormente. Cada oficina terá duas horas e meia de duração, com participação de até dez pessoas por atividade.

Confira a programação

Quarta-feira (09)

  • Mesa 1: As ruas têm alma: João do Rio, o convidado do sereno (19h30)

Quinta-feira (10)

  • Mesa 2: A cidade contra nós (10h)
  • Mesa 3: Da poeira que viemos (12h)
  • Mesa 4: A vida secreta das emoções (15h)
  • Mesa 5: Inventar na América Latina (17h)
  • Mesa 6: Dormindo com o inimigo (19h)
  • Mesa 7: Profecias do passado (21h)

Sexta-feira (11)

  • Mesa 8: A paz e o gesto (10h)
  • Mesa 9: Como enfrentar o ódio (12h)
  • Mesa 10: Saber o passado, mirar o futuro (15h)
  • Mesa 11: Descobrimento ao contrário (17h)
  • Mesa 12: Não existe mais lá (19h)
  • Mesa 13: Rádio Novelo Apresenta Ao Vivo (21h)

Sábado (12)

  • Mesa 14: O amor político (10h)
  • Mesa 15: A eterna guerra dos sexos (12h)
  • Mesa 16: Sagradas e profanas (15h)
  • Mesa 17: A memória dos homens (17h)
  • Mesa 18: Anatomia do futuro (19h)

Domingo (13)

  • Mesa 19: Invenção e linguagem: o romance segue (10h)

A venda de ingressos para a Flip 2024 é feita pelo site do evento. Algumas mesas já estão esgotadas, outras estão no lote 2 (R$ 130/inteira e R$ 65/meia), e algumas estão no lote 1, vendido a preços populares (R$ 39,00 inteira/ R$ 19,50 meia). As mesas também serão transmitidas em um telão, na Praça da Matriz, com livre acesso.

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