Alvaro Tallarico: Paul McCartney invoca Mãe Maria no Maracanã

Show fechou a turnê Got Back Tour no Brasil com maestria num estádio com 66 mil pessoas

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Paul McCartney canta para um Maracanã lotado em foto de Alvaro Tallarico
foto: Alvaro Tallarico

Um dos maiores astros da música, Paul McCartney, se apresentou no Maracanã no último sábado (16). 66 mil pessoas acompanharam um espetáculo célebre, cuja iluminação levava para outros planetas. No caminho, parecia que estava indo para um jogo no velho maraca. Mas o time era um só. Blusas pretas em sua maioria com o nome dos Beatles. A apresentação estava marcada para 21 horas. Sir James Paul McCartney teria a famosa pontualidade britânica?

Por via das dúvidas, cheguei por volta de 19:30 e fui até a sala de imprensa. Encontrei alguns colegas, tomei um café para ajudar no foco e desci antes das 20 horas. Vi quando os telões laterais se apagaram e o público já se animou. Mas era somente o DJ começando pontualmente e abrindo a noite com “Minha Vida”, da Rita Lee. Em seguida, clássicos dos Beatles que não tocariam no show. Entre eles, “Twist and Shout” me fez lembrar um dos meus filmes preferidos: “Curtindo a Vida Adoidado”. Entendedore entenderão. Enquanto isso, o mar de gente aumentava nas arquibancadas.

Voltei para a sala de imprensa, tomei mais água, fui ao banheiro e desci um pouco depois dos fotógrafos. Os telões subiam fotos e imagens que resumiam a vida de Paul, que entrou às 21 horas com sua banda para entregar exatamente 2 horas e 35 minutos de show. A viagem musical começou com a ótima “Can’t Buy Me Love”. Apesar da minha imparcialidade jornalística e profissionalismo, devo admitir que senti certa emoção. Sempre dancei muito com essa. Desde criança gosto dos Beatles, e, mais velho, conheci The Wings, e adorei.

“Essa noite vou tentar fala um pouco de português”, disse Paul, animando a plateia.

Getting Better

Depois Paul cantou “Junior’s Farm”, “Letting Go” e “She’s A Woman”. Mas o Maracanã vibrou mesmo com os clássicos dos Beatles, claro. “Got To Get You Into My Life” trazia ainda uma animação maravilhosa no telão principal, atrás dos músicos mostrando os quatro fabulosos. “Esta é uma música nova, um pouquinho nova”, falou McCartney no início de “Come on to me”. Além disso, o solo de guitarra ao fim da marcante “Let Me Roll It” mexeu com o público. Tudo foi “Getting Better” até “Let Em In” trazer o astro ao piano, encantando a todos com sua eficiência no instrumento e seus assobios.

“Escrevi essa canção para minha amada esposa Nancy”, declarou o eterno Beatle antes de “My Valentine”. Ainda por cima, os telões foram tomados por imagens de Natalie Portman e Johnny Depp fazendo a canção em libras. Deveras bonito. Tudo em preto e branco. Cinematográfico. O mais famoso vegetariano do mundo, Paul McCartney, segue romântico e ativo do alto de seus 81 anos. Não tenho dúvidas que o vegetarianismo ajuda na saúde dele. O vigor do cara é surreal! Manteve a elegância mesmo debaixo do calor carioca e segurou o público do início ao fim.

A diversidade musical foi evidente em músicas como “1985”, sobre um ano muito especial para mim, “Maybe I’m Amazed” e “I’ve Just Seen A Face”. “A primeira canção que os Beatles gravaram”, proferiu Paul, e veio com “In Spite Of All The Danger”. Outros clássicos vieram logo a seguir, inflamando a galera: “Love Me Do” e “Dance Tonight”. Um dos grandes destaques foi a interpretação de “Blackbird”, onde o astro, elevado em uma plataforma, levou a plateia a flutuar, ensinou a voar, culminando em um espetáculo visual com pombas brancas.

“Paul, eu te amo!”, gritou o público. O músico demonstrou que não entendeu. “Paul, I love you!”, foi o coro a seguir. Aí sim, ele entendeu bem e disse que era recíproco.

O tributo a John Lennon com “Here Today” foi marcado pela simplicidade, apenas Paul e seu violão, acompanhados por imagens estelares no telão, evocando um sabor de saudade. “Lady Madonna” trouxe uma explosão de cores psicodélicas. Nessa hora, um rapaz desabou na minha frente. Estávamos o jornalista César Monteiro e eu, focados no espetáculo, em cada detalhe, até tomarmos esse susto. A pressão do rapaz baixou. Os amigos dele ajudaram e alguns começaram a abanar. Tirei minha blusa e fui um desses, abanando e vendo o show. Até que o bom senso falou mais alto e eles foram até o posto médico, que era próximo. Mais tranquilo, vi “Jet” aquecer a plateia. É uma das melhores do emblemático álbum “Band On The Run”, de 1973. A iluminação subia e descia piscando em lilás. Difícil não ficar embasbacado com a profusão de luzes coreografadas que acompanha o show. Ela refletia no teto oposto do Maracanã em diversos momentos criando uma aura de nave espacial.

Por falar em nave, a psicodelia tomou conta do telão de vez durante “Mr. Kite”. Os loucos de plantão viajaram mais do que nunca. Logo em seguida, Paul sacou um Ukulele e homenageou George Harrison. Disse em inglês: “Obrigado, George, por escrever essa bonita canção”. Era a deliciosa “Something” que contou com o coro dos presentes no refrão. A festa ficou quase completa na música seguinte, “Obla Di Obla Da”, que permitiu um Maracanã cheio de balões coloridos.

A apresentação ainda incluiu momentos intimistas, como a interpretação solo de “Blackbird” e o tributo a John Lennon com “Here Today”, onde o telão exibia estrelas e constelações, transmitindo um sabor de saudade.

No geral, a setlist variada trouxe desde clássicos dos Beatles até sucessos da carreira solo de McCartney. Em verdade, uma sequência em especial, antes do bis, era tudo que os fãs precisavam: “Band on the Run” teve Joe no teclado inspiradíssimo; “Get Back” trazia imagens dos Beatles e uma doce nostalgia.

Mother Mary

Entretanto, um momento divinal foi “Let It Be”. Paul fez essa música após sonhar com a mãe, Mary, que faleceu quando ele tinha apenas 14 anos. A obra tem uma potente positividade. No sonho, sua mãe lhe aparecia e dizia “Let it Be”, ou seja, deixa estar, exprimindo que tudo ficaria bem. Era uma conjuntura árdua para Paul, próximo ao fim dos Beatles. Essas palavras de sabedoria lhe confortaram e viraram essa esplêndida música. Nessa hora, a “Mother Mary” era para mim “Mãe Maria”, Nossa Senhora. Sim, como muitos interpretam, foi também o que senti ali, uma paz digna da santa em meio a um mar de pessoas felizes. Era como se McCartney invocasse a sabedoria da mãe de Jesus. De alguma forma, pensei numa oração de São Bernardo: “Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria”.

Logo depois, teve fogo no palco, literalmente, e muitos fogos, era “Live and Let Die”, numa vibração oposta ao som anterior. Essa fez boa parte do povo pular. Posteriormente, o apogeu, a plateia de 66 mil pessoas participou entusiasticamente fazendo coro em “Hey Jude”, levantando folhas onde se via escrito “Na Na”. Deu para ver que Paul se impressionou com a quantidade de “Na na na na na na na naaaaa”.

Paul McCartney RIO 2023 show MARACANA? 2023 @MarcosHermes-1
foto: Marcos Hermes

Na audiência, entusiastas de todas as idades curtiram Paul McCartney com sua banda de longa data, composta por Paul “Wix” Wickens (teclados), Brian Ray (baixo/guitarra), Rusty Anderson (guitarra) e Abe Laboriel Jr (bateria), o qual se destacou dançando break e mostrava uma disposição cativante. Vale ressaltar também a participação notável do trio de metais Hot City Horns, composto por Paul Burton (trombone), Kenji Fenton (saxofone) e Mike Davis (trompete).

Por fim, no geral, em outra análise, foi um dos eventos mais organizados que vi nos últimos tempos. Pela quantidade imensa de gente junta sem nada dar errado, pelo fácil acesso para que as pessoas bebessem água, pelo capricho da produção e recepção aos jornalistas. Foi um privilégio testemunhar uma plateia imensa aplaudindo a grandiosidade de Paul McCartney, culminando em um final espetacular com “Golden Slumbers”. Ele não apenas reviveu o passado glorioso dos Beatles, mas também deixou uma marca indelével em uma noite memorável onde a lua sorria. A energia, a nostalgia e a maestria musical proporcionaram uma experiência realmente inesquecível para os presentes. “Até a próxima. Fui”, falou ainda o vegetariano Paul, embaixador mundial do movimento Segunda Sem Carne. Rogo para que o Beatle volte logo e agradeço pelos momentos de magia, sabedoria e o belo exemplo de amor pelos animais.

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