“Barbie” e “Oppenheimer” estreiam no mesmo dia. “Oppenheimer” é um filme que retrata a vida do principal responsável pela criação da bomba atômica, um tema controverso por si só. No entanto, existem diversas cinebiografias por aí sobre figuras de diferentes backgrounds, desde assassinos até santos. O filme aborda bem a complexidade do protagonista, que claramente não foi nenhum santo, mas sim um gênio. Mas, como diz um personagem em certo momento: genialidade não quer dizer sabedoria. Quem foi Oppenheimer então? O que motivou esse homem a criar essa arma de destruição em massa? O filme não entrega respostas definitivas, mas gera muitas reflexões.
A princípio, a obra consegue mostrar de forma impressionante a inteligência daquele homem. O diretor Christopher Nolan (“A Origem”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas”) entrega um excelente trabalho, no roteiro e na direção, com destaque na utilização do som e da trilha sonora, que contribuem para criar uma atmosfera intensa, tensa e cheia de expectativas. O uso do som e do silêncio nos momentos devidos é primoroso e nos mantém imersos na trama.
Até lembrei de outro filme que também impressionou nesse aspecto sonoro, “Memória“, o qual recomendo para quem deseja ter uma experiência única. Contudo, o uso do som em Oppenheimer é mais uma parte da atmosfera criada pelo diretor e ferramenta bem utilizada para ampliar a força da película.
Filme de tribunal
Interessante, porque uma grande amiga, ótima crítica de cinema, Andrea Cursino, mencionou que não gostava do Nolan, pois, na opinião dela, apesar de sempre fazer filmes tecnicamente ótimos, ela sentia que o cineasta não conseguia contar bem uma história. Após o fim de “Oppenheimer”, fiquei realmente impactado e aguardei Andrea, que, dessa vez, falou bem do trabalho do Nolan. Creio, inclusive, que o filme deve ter várias indicações ao Oscar e, possivelmente, algumas vitórias.
O elenco é repleto de excelentes atores, incluindo Robert Downey Junior e Cillian Murphy, o qual entrega um trabalho perfeito como Oppenheimer. Em suma, é um filme que aborda um tema polêmico, mas que consegue captar a complexidade do protagonista de forma impressionante, especialmente através do uso primoroso da fotografia de Hoyte Van Hoytema e das atuações (muito) excepcionais. Por exemplo, Emily Blunt como a esposa, a bióloga e botânica Katherine “Kitty” Oppenheimer dá um show sempre que aparece, trazendo todas as nuances necessárias para sua personagem. Entretanto, por outro lado, Florence Pugh no papel da psiquiatra Jean Tatlock, é claramente desperdiçada.
O longa segue o estilo de Nolan, numa história não-linear que vai e volta entre momentos diferentes da vida do protagonista. Dessa forma, parece até dois filmes em um, no qual um deles tem o estilo de “filme de tribunal”. É longo, aproximadamente três horas, mas não senti passar. Mesmo quando sabia o que ia acontecer, o diretor conseguia me deixar tenso e na expectativa, e, ainda por cima, me surpreendia. Os closes são muito bem usados e valorizam com eficiência a expressividade, mostrando o melhor dos atores.
“Oppenheimer” é baseado no livro vencedor do Prêmio Pulitzer, “American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer” (Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer), de Kai Bird e Martin J. Sherwin. Estreia em 20 de julho.
Barbie
Por outro lado, no mesmo dia, estreia “Barbie” nos cinemas. Um filme que está com um hype altíssimo e já tem a maior pré-venda da história da Warner Pictures no Brasil. Assisti na manhã do dia 18, na sessão fechada para a imprensa. É divertido, mas não entrega o melhor de Greta Gerwig, famosa por boas obras entre os cinéfilos. É extremamente comercial. Mas como não seria, não é mesmo? Esse é o cerne da boneca Barbie.
Muitos esperavam uma obra de pegada mais indie, mas Greta percorre um caminho de críticas ao sistema de uma forma leve e cheia de bom humor. É bastante engraçado, mas não tanto como “Loucas Em Apuros”, que estreia em 04 de agosto.
A protagonista Margot Robbie, como Barbie, está ótima, mas quem rouba a cena é Ryan Gosling, como Ken. A icônica boneca foi criada por Ruth Handler em 1959. Margot vive a Barbie clássica (ou seja, a mais estereotipada) que vive em Barbielândia, um mundo perfeito onde todas as mulheres se chamam Barbie e podem ser o que quiserem. No entanto, durante uma celebração, a protagonista tem um pensamento sombrio sobre a morte, o que desencadeia toda a trama do filme.
A representação de Barbielândia é ótima, com uma bela direção de arte, perfeita no que se propõe, e dentro da lógica lúdica das brincadeiras infantis. É um mundo matriarcal – e ilusório. Porém, quando Barbie visita o mundo “real” e se depara com problemas como ansiedade, assédio e falta de dinheiro, aprende lições importantes sobre a vida. A relação de Barbie com Gloria (America Ferrera) e sua filha adolescente, Sasha (Ariana Greenblatt), fornece uma perspectiva sobre o impacto da boneca em diferentes gerações, embora essa trama pudesse ter sido mais aprofundada, no desenvolvimento das duas.
“Barbie” critica o sistema do qual a boneca que lhe inspirou participa, e que ajudou a manter durante todos esses anos, contudo, não empolga, apesar de arrancar boas risadas. Não é um filme infantil e nem indicado para crianças. O uso da metalinguagem é ótimo, com muitas surpresas e momentos realmente inesperadamente engraçados.
Na batalha contra o excelente “Oppenheimer”, “Barbie” facilmente vence nas bilheterias, mas, cinematograficamente, é uma bomba.