A Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores fica no coração do Centro Histórico do Rio, cercada de palácios, museus, prédios coloniais e da época imperial, e tem crescido para se tornar uma comunidade católica bastante tradicional que revive tradições milenares da religião que participou tão ativamente da construção do Rio Antigo. O sucesso alcançado pela distribuição do giz abençoado durante a tradicional cerimônia conhecida como Epifania do Senhor, no fim de semana dos dias 6 e 7/1 animou mais ainda a Irmandade dos Mercadores a retomar mais tradições e devoções populares que andavam meio esquecidas, e uma programação completa foi feita para o final da semana. Na sexta (2/2), vai comemorar a padroeira da região, Nossa Senhora da Candelária, e distribuir velas de cera de abelha abençoadas durante a celebração. No próximo fim de semana – tanto no sábado (3/2) quanto no domingo (4/2) – a igreja comemorará a memória do mártir São Brás (ou Braz) e vai resgatar a bênção milenar do bispo milagreiro, que é conhecido pela sua intercessão nas curas dos males e doenças na garganta.
Segundo a tradição, num momento da missa, o padre, com duas grandes velas cruzadas amarradas com uma fita vermelha, fará uma oração e abençoará os fiéis que desejarem receber a bênção, um a um, com a imposição das velas. Várias curas são creditadas à intercessão do bispo morto no ano de 316: os católicos de todo o mundo crêem no puder de cura do santo, principalmente os males da garganta. Conta ainda uma história que, durante o período em que São Brás estava preso, uma mulher o procurou, levando-lhe alimento e uma lamparina, para que espantasse a escuridão da cela. Comovido por tal lembrança da boa mulher, prometeu-lhe que, se todos os anos levasse uma vela à igreja, ela e todos os que a imitassem haviam de se achar sempre bem. Vem daí, naturalmente, a prática das velas de São Brás, que também poderão ser abençoadas pelo sacerdote no dia em que se comemora sua memória.
As velas do santo padroeiro dos radialistas – que são finas e compridas – que serão utilizadas para as cerimônias de sábado e domingo serão bentas durante a missa de sexta feira 2/2, que comemorará a Apresentação do Senhor (Hypapante) e o dia de Nossa Senhora da Candelária (ou das Candeias) na igrejinha, também ao meio-dia. A capela dos Mercadores fica na Paróquia da Candelária, e não poderia deixar de comemorar a festa da padroeira. Na sexta-feira, a irmandade, além de fazer a cerimônia de bênção das velas que serão utilizadas nos 2 dias seguintes, distribuirá ao fim da missa gratuitamente 50 velas de cera de abelha, abençoadas e que se acredita possam iluminar a vida dos fiéis que as receberem e, que poderão utilizá-las em suas orações de casa. Sua importância se fez presente na história principalmente pelo uso dos cristãos, uma vez que “A cera, no uso litúrgico, simboliza o puríssimo corpo de Jesus Cristo, nascido da Virgem Mãe, como a cera virgem provém das abelhas virgens (“apis mater eduxit”, Exsultet)“.
A vela abençoada na Festa de Nossa Senhora da Candelária é benta com uma benção especial e solene da Igreja (considerada a mais solene depois da benção do Círio Pascal) e segundo tradição antiga e revelações privadas de fiéis, “essas velas serão as únicas que acenderão nos lares quando Deus castigar o mundo com os três dias de trevas“, explica o padre Victor Hugo Nascimento, que cita um texto de Padre Pio em que o santo menciona o poder das velas abençoadas neste dia: “Mantenha as suas janelas bem cobertas. Não olhe para fora. Acenda uma vela abençoada, que será suficiente por muitos dias. Reze o rosário. Leia livros espirituais. Faça atos de Comunhão Espiritual, também atos de amor, que Nos agradam tanto. Reze com os braços esticados, e prostrado no chão, a fim de que muitas almas sejam salvas. Não saia de casa. Proporcione-se alimentos suficientes. Tenha coragem e estarei no meio entre você.”.
As missas de sexta, sábado e domingo contarão com coral e orquestra conduzidos pelo maestro Marcos Paulo e pela soprano Juliana Sucupira, respectivamente, e serão rezadas em língua latina, conforme a tradição da irmandade dos mercadores, celebradas em caráter solene e com uso de objetos litúrgicos de época. Na igrejinha, tanto as leituras como a homilia são feitas a partir dos históricos púlpitos erguidos sobre o meio do templo, que é um dos poucos construídos em formato elíptico da cidade e existe desde 1750 na esquina do Arco do Teles com a badalada rua do Ouvidor, que ganhará em breve o Museu do Café e a Casa Proeza, bem em frente, como fruto do projeto Reviver Cultural, da Prefeitura.
Os padres que dirigem a vida espiritual da irmandade, Vitor Pereira e Victor Hugo Nascimento, vão atender confissões logo antes e logo depois das missas.
Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores
Região da Praça XV
Rua do Ouvidor, 35 (esquina de Travessa do Comércio)
Apresentação do Senhor e Nossa Senhora da Candelária
Dia: Sexta-feira 2/2, ao meio-dia
Bênção de São Brás (proteção dos males da garganta)
Dias: Sábado 3/2 e Domingo 4/2, ao meio-dia
A chegada à Igreja nos dias de blocos de carnaval no Centro é Simples; ou por metrô, ou, vindo de carro, pegando o aterro do Flamengo, a Avenida General Justo, depois a Praçaa Marechal Âncora (restaurante Albamar), contornando a estação das Barcas e atravessando a Praça XV via a Av. Alfred Agache, chegando até a rua do Ouvidor. O trecho não tem nenhum tipo de bloqueio ou impedimento.
História da Bênção de São Brás, segundo a crença dos Católicos
Também sabemos que São Brás foi o bispo de Sebaste, na Armênia, e sofreu o martírio sob Licínio por volta do ano 316. Mas, no que diz respeito aos detalhes de sua vida, devemos confiar em várias tradições. Supostamente, este mártir cristão primitivo nasceu de pais nobres e ricos que lhe proporcionaram uma educação cristã. Ele se tornou médico e foi eleito e consagrado bispo em uma idade jovem. Durante a perseguição de Licínio, um antigo aliado de Constantino que começou a perseguir a Igreja, São Brás sentiu um chamado para viver como eremita em uma caverna nos arredores da cidade, onde era conhecido por curar animais selvagens doentes e feridos. Eventualmente, ele foi descoberto por caçadores que percorriam o campo capturando criaturas para serem usadas nos jogos do anfiteatro. São Brás foi levado a Agricolaus, o governador da Capadócia e da Armênia Menor, e jogado na prisão.
Uma lenda conta que, a caminho da prisão, São Brás ordenou a um lobo que soltasse um porco pertencente a uma mulher que implorou pela ajuda do santo bispo. Ela mais tarde levou velas para sua cela para que ele tivesse luz para ler as Escrituras. Embora Agricolaus tenha sido supostamente impressionado com os milagres de São Brás, isso não o impediu de insistir que o bispo renunciasse à sua fé, e quando ele se recusou, o governador o fez açoitar, torturar com um pente de ferro (uma ferramenta usada para pentear lã) e decapitar.
Conforme os manuscritos de Aëtius Amidenus mostram, no século VI a intercessão de São Brás estava sendo invocada no oriente para doenças relacionadas à garganta. No século IX, o santo também era venerado na Europa e acabou se tornando um dos santos mais populares na Idade Média, sendo venerado como um dos “Quatorze Santos Auxiliares” (que incluíam também santos como São Cristóvão, São Erasmo, São Denis de Paris, Santa Bárbara, Santa Catarina de Alexandria e São Gil).
Igrejas foram nomeadas em homenagem a São Brás e altares foram dedicados a ele. O Papa Leão IV é dito ter apresentado relíquias de São Brás ao Duque Wolfenus de Rheinau, na Alemanha, em 855, que as trouxe consigo de Roma. Outras relíquias de São Brás são relatadas em Braunschvieg, Alemanha, bem como em Paris.
Em 971, na atual Dubrovnik, São Brás supostamente apareceu aos habitantes da cidade para alertá-los sobre um iminente ataque dos venezianos. Desde então, Dubrovnik o honra como seu padroeiro. Uma estátua do santo fica sobre a entrada da cidade, e a catedral lá abriga diversas relíquias de São Brás.
Com o tempo, desenvolveu-se o costume de abençoar a garganta dos fiéis, com os padres segurando duas velas cônicas — abençoadas no dia anterior, na festa da Apresentação do Senhor, em 2 de fevereiro — sobre a cabeça ou a garganta enquanto invocam a intercessão de São Brás contra qualquer doença da garganta e do corpo.
É um antigo costume da Igreja abençoar os doentes, enraizado nos atos de Jesus Cristo e de seus apóstolos. De acordo com o “Cuidado Pastoral dos Enfermos: Ritos da Unção e da Viática”, a bênção anual das gargantas é um sinal tradicional da luta contra a doença na vida do cristão. A bênção é normalmente dada durante a Missa ou uma celebração da Palavra de Deus em 3 de fevereiro, a memória de São Brás, seguindo a festa da Apresentação do Senhor. A igreja dos Mercadores organizará a bênção dois dias seguidos.
Embora os problemas da garganta sejam a principal razão pela qual São Brás é invocado no Ocidente, ele também é considerado um protetor contra animais selvagens, um protetor de cidades e um patrono de veterinários, de penteadoras de lã e da indústria da lã. Sua festa na Igreja Oriental é celebrada em 11 de fevereiro.