Bombeiros interditam mega-loja Casas da Mamãe, na ex-sede da Caixa, no Centro

Laudo dos Bombeiros revela que o grande magazine, inaugurado há poucos meses, tem risco iminente de incêndio. A loja fica bem na esquina da Rio Branco com a Almirante Barroso, e tem 3700m2

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A inauguração da loja Melhor das Casas, no saguão e loja da ex-sede da Caixa Econômica Federal – bem na esquina da Almirante Barroso com a Rio Branco, ocorreu há pouco tempo, com grande estardalhaço, e foi noticiada em primeira mão aqui no DIÁRIO. Só que, em virtude de denúncias de insegurança e risco de incêndio, o Corpo de Bombeiros acabou lavrando, ontem (04/01) auto de interdição da mega-loja do grupo chinês Casas da Mamãe. Em uma vistoria filmada pela corporação – responsável pela prevenção de incêndios e acidentes, é possível identificar caixas de papelão amontoadas até próximo ao teto e que obstruiriam parte do sistema de combate a incêndio, além de dezenas obstruindo a passagem de corredores, o que dificulta o escape de pessoas em caso de fogo, assim como o acesso de deficientes. Além de encobrirem as belezas dos vitrais coloridos e das colunas trabalhadas pelo artista Espinoza. Nas imagens, é possível ver a fiação elétrica nas prateleiras das gôndolas. Há ainda muito material inflamável acumulado, assim como caixas empilhadas; a situação representaria perigo por ser um magazine com artigos para o lar, brinquedos, perfumaria, entre outros. Todo este ‘caos aquitetônico’ foi denunciado pelo articulista Wagner Victer, em matéria que publicamos aqui.

O vídeo mostra o estado caótico de coisas que o Corpo de Bombeiros encontrou ao visitar a mega-loja do grupo chinês Casas da Mamãe, a Melhor das Casas, na ex-sede da Caixa na Avenida Rio Branco

A Melhor das Casas pertence ao grupo Casas da Mamãe, que tem várias lojas em São Paulo e já tinha chegado ao Rio. A inauguração foi realizada no fim de 2022 e está em posição estratégica por conta da proximidade ao metrô, farta condução e junto a prédios como a Assembleia Legislativa (Alerj) e Câmara do Rio, onde há bastante movimento de pessoas nos dias úteis, sem contar os bares da Praça Floriano, e as grandes empresas na Avenida Chile.

O órgão determinou interdição imediata da loja, “por risco iminente, obstrução de rotas de fuga em caso de incêndio, elevada carga de incêndio (material inflamável mal instalado)”. Com isso, os donos da loja – que são inquilinos de um Fundo imobiliário gerido pelo BTG Pactual, que comprou o prédio em 2003 – devem regularizar todas estas pendências e solicitar uma nova inspeção dos Bombeiros. Caso reabram sem as adequações necessárias, a Polícia, Prefeitura e Ministério Público serão acionados imediatamente, para evitar danos graves aos clientes e funcionários. Na década de 70, o mesmo imóvel sofreu com grande incêndio que demorou mais de 14h para ser controlado. A estrutura ficou parcialmente destruída, em especial, na parte do edifício de escritórios que fica acima da megaloja e que pertence aos mesmos proprietários.

A loja tem mais de 3.700 metros quadrados, é a terceira maior de todo o Centro e vai da saída Rio Branco da estação do metrô até a Avenida Almirante Barroso, com portão inclusive para Largo da Carioca. No espaço, funcionavam uma agência bancária e o antigo Centro Cultural da Caixa, que abrigava um teatro de arena com mais de 200 assentos, dois cinemas, três galerias de arte, livraria e salas de oficina e ensaios, além de um espaço onde ficava um piano para o acesso ao público em geral.

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A decoração era em mármore com dois painéis restaurados do artista plástico Lydio Bandeira de Mello e já abrigou mostras como do colombiano Fernando Botero e do grande pintor Milton Dacosta. Ainda nas imagens registradas pelos bombeiros, é possível ver que o ambiente foi bem modificado, inclusive com aparatos colocados sobre o mármore verde que dava requinte ao salão, sem contar a colagem de cartazes sobre a obra de arte do artista Espinoza, que confeccionou colunas em estilo neo-colombiano que ornam toda a grande loja. Segundo especialistas, as colunas deveriam ser isoladas, seja com acrílicos ou corrimãos de alumínio, em respeito à sua história. O imóvel, porém, não é tombado e nem protegido por nenhum órgão de patrimônio, e teoricamente as obras de arte poderiam ser destruídas a qualquer momento.

Ontem, o atual estado de outro imóvel histórico do Centro do Rio foi alvo de crítica, desta vez, pelo presidente do Instituto Art-Déco Brasil, Márcio Roiter, que usou as redes sociais para desabafar sobre o estado do prédio do antigo Banco Andrade Arnaud, localizado na Rua Sete de Setembro, onde a antiga agência bancária, recentemente esvaziada, sofre obras que podem modificá-la, sendo que ainda está em estado original. “O que vai acontecer com as luminárias nas colunas, painéis esculturais em travertino e os tetos com iluminação zenital?”, questiona. O imóvel pertenceria ao Itaú.

A procura por patrimônios históricos ou culturais têm sido comum pela rede de varejo na cidade. Na Avenida Passos, a Vivian Festas preservou a estrutura, a claraboia e os gigantescos vitrais em forma de pavão da antiga Casa Esperança, no número 36. A fachada e o interior foram completamente preservados; o imóvel tem 3.000m2 e uma simples visita à esmerada superloja de festas têm encantado os frequentadores. No local, durante muitos anos, funcionou também as Casas Franklin de tecidos, e o prédio é o edifício-símbolo do corredor cultural carioca. Em outras regiões, o grupo Extra também já operou neste tipo de espaços, preservando as características arquitetônicas, como na área da unidade Boulevard, na Avenida Maxwell, e Extra Maracanã, ambos em antigas fábricas. Os shoppings Nova América, em Del Castilho, e Bangu Shopping, na Zona Oeste, são outros dois exemplos de intervenções bem sucedidas, que não alteram drasticamente as formas do passado da cidade. O próprio DIÁRIO DO RIO está em fase final de restauro de sua nova sede, num prédio do século XVIII, e chegou a receber na obra a visita do superintendente do Iphan, que congratulou o jornal.

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Formada em Comunicação Social desde 2004, com bacharelado em jornalismo, tem extensão de Jornalismo e Políticas Públicas pela UFRJ. É apaixonada por política e economia, coleciona experiências que vão desde jornais populares às editorias de mercado. Além de gastar sola de sapato também com muita carioquice.
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20 COMENTÁRIOS

  1. Beleza é algo que esse prédio não tem, trabalhei nele por anos e é feio pra diabo. Os vitrais são tão genéricos … Quanto a interdição, isso não é feito nas lojas do siciliano na Saara, porque será? Nunca surge um bombeiro interditando aquilo lá

  2. Muito fácil falar em fechar portas, em um centro de cidade que já está totalmente fechado, largado, destruído, entregue a Camelôs e Pessoas de rua que se amontoam em cada esquina. Uma loja aberta empregando dezenas de pessoas, gerando renda para famílias. E não adiantam as implicâncias com os produtos chineses, estão há tempos por ai, no Saara, e as pessoas compram.
    Quanto aos bens culturais do local, não cuidaram disso antes, há tempos a Caixa saiu de lá, ninguém fez nada. Senhor Wagner Victer, com o salário que o senhor tem hoje (+ou – 100 mil/mês), realmente a palavra certa é estar virando um esquerda caviar, o tal emprego de ‘Ativista’, muito em moda entre os abastados. E saber que em um passado não muito longe, o senhor era aliados dos empresários e políticos, como Sérgio Cabral, por exemplo.

  3. Esse dedo-duro (tinha que ser tricolor) deve ter conchavo com os concorrentes da loja, por isso a denunciou, para ajudar seus amiguinhos empresários.
    Também tem outro aqui (o bocaiuva) que deve ter conchavo com os donos de restaurantes e vive denunciando as pessoas que tentam ganhar a vida vendendo quentinhas.
    O cara nem liga que tem pessoas que não podem pagar o preço cobrado nos restaurantes e tem a opção das quentinhas mais em conta. Por ele o pobre tem que é passar fome. Esses socialista de iphone são a escória mesmo.

  4. Desde quando a prefeitura do Rio ou os bombeiros se preocupam com segurança de estabelecimentos?? O problema aí é o arrego que não foi pago pra alguma “otoridade”

  5. Se o comerciante entrou dessa forma na loja e na cidade com esse descaso e organização mostra qual a sua cultura empresarial e como vai tratar a clientela. E temos muitos iguais já atuando na cidade, é só procurar. Termos critérios frouxos para faturar nos alugueis, venda de equipamentos e insumos e impostos é uma mostra do que hoje somos e queremos, é o espírito do nosso tempo. E já tem muita gente que acha que a droga deve não ser liberada mas é uma atividade empresarial por exemplo. Não precisamos algo tão drástico. Porém, ao aceitarmos o errado sob o argumento de que vai dar grana e muita gente vai sobreviver com isso, nada irá mudar. Muito comerciante correto com décadas de grande atuação e respeito está fechando no Rio exatamente por esse tipo de cultura, sendo substituídos quando é possível por uma turma bem estranha…Ou será que não se repara que a substituição é sempre por algo inferior?

  6. A loja não foi interditada na hora , ficou aberta e está aberta e segue do mesmo jeito , caixas empilhadas , mangueiras tampadas , extintores sendo postos as pressas. Possivelmente pagaram para não fechar.

  7. O dedo duro que denunciou a loja é um almofadinha mesmo! Tenho certeza que esse creonte é do tipo de pessoa que acha que o pobre não deve trabalhar para tentar mudar sua posição social e sim receber umas migalhas do governo e ficar estagnado o resto da vida.
    Esse vagabundo fez o L, podem anotar.

    • Olá, o problema não é a loja, mas sim a forma que estão depositados os materiais com risco de incêndio. É só trabalhar direito. Tudo agora é fazer o L, eu votei no Bolsonaro, a pessoa que fez a matéria votou no Bolsonaro… sendo sincero, você é retardada.

      • Sei não, Sr. Quintino.. Pode ser que eu esteja pesando a mão, mas me pareceu muito que a questão do incêndio serviu como um invólucro bonito e virtuoso para abafar o desconforto pelo “atrevimento” da transformação de um centro cultural em uma abertura dum lojão muito povão entre as obras de arte que deveriam ser reverenciadas e blablablabla…

        Em suma: corrigida a pendência do risco do incêndio, ainda irão implicar com a loja de quinquilharia.

  8. Assisti o video da loja. É deprimente ! Fui criado com produtos Made in USA ou Made in Japan e fico deprimido quando vejo onde chegamos com essa sanha de produtos chineses que em última instância é só bugiganga e quinquilharia. E tudo de qualidade abaixo do sofrível.

  9. Imagina se o proprietário do imóvel está preocupado com o mesmo. Faz me rir! Deixaram um mega especulador daquele tipo que vende e mãe e a entrega, arrematar um prédio de valor arquitetônico e ele não quer saber se vão instalar a casa da mamãe ou do papai, ele quer é receber o aluguel e dane-se o resto ! Quanto ao prefeito, este dispensa comentários. Só acho que o imóvel poderia ser retrofitado para residencial. Não sei se isso seria possível mas seria interessante residir ali, eu gostaria. Não é o meu caso mas quem trabalha no TJRJ, por exemplo, isso seria de muita comodidade. Com 3.700 m2 só de loja daria para fazer lojas além de equipamentos de lazer e atividade física para os moradores! Revitalizaria aquela área sobremaneira !

  10. No Estado do RJ, uns são mais iguais que os outros. Basta um figurão falar que as coisas acontecem. Ficou incomodado com o preço posto em cima dos painéis do Bandeira de Melo, levantou logo o problema do “incêndio”… atrapalhando o negócio envelopando a intenção com bons motivos. Mas se as Casas da Mamãe forem embora, o lugar fica vazio e o pessoal sem emprego. O Victer vai pagar os salários do pessoal ou vai pedir pro pessoal buscar o vale-picanha do Loola?

    O problema do RJ não é a Casa da Mamãe, não são as caixas empilhadas no Bandeira de Melo: é o empobrecimento causado pelas múltiplas desordens e esculacho que a prefeitura e o governo do estado fazem ao ambiente de negócios. Só corajosos investem aqui.

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