#CriseClimáticaNoRJ: Regiões Norte e Noroeste do estado do Rio sofrem com secas e fortes chuvas

Parece algo improvável, antagônico, mas a segunda matéria da série do DIÁRIO DO RIO sobre as consequências da crise climática no Rio de Janeiro mostra que as regiões que vinham sofrendo com ferrenhas secas, hoje sentem os estragos das fortes chuvas

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Seca do Rio Paraíba no ano de 2013 – Foto César Ferreira

Nos últimos anos, as regiões Norte e Noroeste do estado vêm sendo castigadas por fortes secas. Especialistas pontuam que a área pode até se tornar semiárida devido à falta de chuvas. No entanto, as consequências da crise climática no Rio de Janeiro, mostradas nesta série, são tão intensas que, atualmente, esta parte do território fluminense está sofrendo com fortes chuvas e os estragos que ficam.

As mudanças climáticas ocorridas nas Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro vêm impondo índices de aridez cada vez mais altos e de precipitação de chuvas cada vez mais baixos, ameaçando colheitas inteiras e obrigando os pecuaristas a vender seus bois,  ainda magros, para outros estados do país. Só para se ter uma ideia, a estiagem de 2017 gerou um prejuízo de R$ 70 milhões para municípios das regiões e a perda de 20 mil cabeças de gado, além de um grave comprometimento de fornecimento de água para a população local. No rio Paraíba do Sul, o nível da água, por longos períodos, cai para 4,40 metros, bem abaixo da cota mínima, de 5,20.

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Seca da Lagoa do Campelo no ano de 2015 – Foto César Ferreira

Estas alterações climáticas não são recentes. Estudos de especialistas no tema mostram que o Norte e Noroeste Fluminense vêm ficando cada vez mais quentes e secos ano após ano, com base em séries históricas de oito décadas. Um desses pesquisadores é José Carlos Mendonça, doutor em Produção Vegetal da Uenf. Ele faz uma alerta para produtores rurais, ambientalistas e moradores: o clima dessa grande faixa no cimo do estado do Rio mudará de subúmido seco para semiárido em dez a 15 anos, caso não sejam adotadas políticas públicas que impactem na forma de uso do solo e em outras ações sustentáveis. Na prática, muitos meses nessas cidades já são registrados como semiárido e, em alguns casos, as próprias médias de anos inteiros. Segundo dados da Coordenadoria de Defesa Civil de Campos, por exemplo, choveu no município 778,2 mm em 2016 e 774 mm em 2017, abaixo dos 800 mm estabelecidos como limite para se enquadrar como semiárido.

“Isso tudo é resultado, em grande parte, das mudanças do uso do solo e o aumento da emissão de gases, que estão alterando os grandes reguladores do clima. Como começamos a reverter isso? Numa escala maior, estão as ações que precisam ser tomadas pelos nossos políticos; num nível local, são necessárias iniciativas como recuperação de nascentes, reflorestamento de áreas devastadas etc”, defende o professor, responsável por apresentar recentemente, numa audiência pública da Câmara dos Deputados, estudos sobre o tema feitos entre 2004 e 2018.

Entre outros dados apresentados, estão: em um período de 7.182 dias analisados, entre 1996 e 2015, ocorreram chuvas em apenas 1.806 dias, muitas vezes em pouquíssima quantidade, com 5.376  dias sem chuva alguma; entre 1996 e 2015, onze anos foram considerados como secos; apenas um como muito úmido, quatro como úmidos e quatro como normais; nos cinco anos anteriores a 2004, a estação de Campos dos Goytacazes apresentou precipitação cerca de 25 % inferior à média climatológica e dados concluíram que houve um decréscimo nos valores anuais de precipitação de chuva  entre 1961 a 2000, redução essa que chegou a 30% em Campos dos Goytacazes.

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Foto: César Ferreira

A questão foi parar na Câmara dos Deputados. Uma comissão especial foi criada para analisar um projeto de lei (PL 1440/2019) que prevê duas ações: a classificação das Mesorregiões Norte e Noroeste Fluminense como áreas de semiárido desde já; e, por conta disso,  a criação de um fundo a ser constituído com recursos (doações, contribuições, financiamentos etc.) de entidades de direito público ou privado,  possibilitando ainda linhas de crédito a juros mais baixos para os produtores rurais.

Esse é um projeto importantíssimo para o crescimento dessas cidades e, por isso, é uma das prioridades do nosso mandato à frente da comissão especial. Mesmo não estando fisicamente na região do semiárido brasileiro, essas localidades possuem características climáticas semelhantes à do semiárido, com índices pluviométricos baixíssimos. Isso gera sérios obstáculos para a produção agropecuária”, afirma a presidente da comissão especial, Clarissa Garotinho (PROS/RJ), que, por sinal,  é irmã do autor da proposta o ex-deputado Wladimir Garotinho (PSD/RJ), atualmente prefeito de Campos dos Goytacazes.

Clarissa ainda completou dizendo: “Além de medidas como o melhor uso do solo, a solução mais adequada que temos, neste momento, para minimizar os impactos climáticos no Norte e Noroeste Fluminense é a aprovação do projeto de lei que transforma em semiárido a classificação do clima de 22 cidades da região. Isso possibilitaria investimentos para o crescimento e preservação da agropecuária. É fato que, mesmo não estando fisicamente no perímetro do semiárido brasileiro, essas localidades possuem características climáticas semelhantes à do semiárido, com índices pluviométricos baixíssimos.
Para se ter uma ideia, já chove menos (na média) no Norte e Noroeste Fluminense do que em várias cidades de seca do Espírito Santo e Minas Gerais, beneficiadas atualmente com projetos de redução tributária”
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Da seca para as fortes chuvas

Quando não é 8, é 80. O ditado popular pode ser usado na atuação situação da região. Após os momentos de seca, neste início de janeiro de 2022, as chuvas provocaram alagamentos e deslizamentos, além do bloqueio de vias no Norte e o Noroeste fluminsne. De acordo com o Corpo de Bombeiros, há cerca de 1.200 desalojados e 300 desabrigados, e pelo menos dez cidades já tiveram prejuízos. Segundo o Climatempo, a previsão de mais chuvas continua, com risco de novos deslizamentos de terra.

Durante as chuvas, houve transbordamento de cinco rios, como o Muriaé, Carangola, Itabapoana, Pomba e Paraíba do Sul, no Norte e Noroeste do estado do Rio de Janeiro. As dez cidades afetadas foram Itaperuna, Italva, Natividade, Porciúncula, Bom Jesus do Itabapoana, Laje do Muriaé, Cambuci, Aperibé, Santo Antônio de Pádua e Cardoso Moreira.

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Foto: Defesa Civil

“A Região Norte vem sofrendo secas, e é uma região na qual se projeta um aumento significativo das secas, com a diminuição das chuvas. Como é uma região agropecuária, isso vai ser sentido no Estado do Rio de Janeiro. A Região Serrana é um pouco mais protegida nesse sentido por conta da vegetação, que é muito maior e, portanto, mais resistente. Então as ondas de calor serão maiores na Região Norte e na Região Costeira. Esses extremos podem acontecer em qualquer lugar, sejam os extremos de calor, de precipitação ou de frio também. As mudanças do clima não são só na direção sempre de mais calor e menos chuva. Elas incluem também diminuição de temperaturas, frios intensos, noites muito frias, e ondas de calor intensas”, explica Sergio Margulis, doutor em economia ambiental pelo Imperial College, Londres.

De acordo com a Defesa Civil, até a publicação desta matéria, 12/01 de 2022, mais de 500 pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas nas regiões.

“Os problemas climáticos no Norte e Noroeste Fluminense não se restringem à seca, aos altos índices de aridez. Existe o outro lado da moeda. Se, por um lado, são cada vez mais frequentes os veranicos durante as estações mais úmidas, em determinadas épocas do ano a população é surpreendida com grande concentração de chuvas e, em consequência disso, enchentes devido aos transbordamentos de rios. Por isso, é importante termos políticas públicas específicas para evitar prejuízos, mas sobretudo para evitar que as pessoas fiquem em perigo. Os prefeitos precisam de apoio. Tenho colocado nosso mandato à disposição desses municípios para ajudá-los, como está sendo feito agora, por conta das recentes chuvas”, afirmou Clarissa Garotinho.

A próxima matéria da série #CriseClimáticaNoRJ fala sobre desastres ambientais que já aconteceram, que podem vir a acontecer e possíveis soluções para o problema.

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