Crítica: Macaco – Relatório a uma academia

O conhecimento que nos constrói - Claudia Chaves faz a crítica teatral da peça Macaco - Relatório de uma academia

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Uma das formas clássicas de se contar uma história é a recurso/metáfora da antropomorfização. Animais que falam com sentimentos humanos, fábulas, reinos se incorporam em todas as linguagens narrativas. Uma das mais importantes histórias do mundo ocidental é Metamorfose, de Franz Kafka. Numa certa manhã, Gregor, caixeiro-viajante, acorda metamorfoseado num inseto monstruoso. MACACO – Relatório a uma academia, a partir do conto de Kafka, faz o caminho contrário: o  macaco se transforma em homem.

A peça é uma adaptação do diretor Beto Brown, com atuação de Eduardo Andrade. O monólogo é clássico, com o único personagem, sozinho no palco, narrando sua história , seu cotidiano, ao mesmo tempo em que revela o que pensa. Como um grande solilóquio, Eduardo-Macaco-Acadêmico mostra  como transformou a sua prisão e confinamento em um navio na sua própria libertação, transmudando-se em acadêmico.

A iluminação é elemento dramatúrgico fundamental, pois o foco em recortes do corpo de Eduardo ou em partes do espaço cênico vai dar o significado aos sentimentos do personagem. O jogo de luz é decisivo no fechamento do espetáculo. Da mesma forma, o figurino, um tanto atemporal, com toques de luxo pela nobreza dos tecidos, nos mostra que o animal  original agora é pessoa de fino trato.  

É a atuação de Eduardo Andrade com centro naquilo, que interessa e sobressai o oficio do ator de teatro – voz e corpo -, a grande qualidade do espetáculo. Eduardo tem a capacidade de pronunciar perfeita e corretamente todas as palavras. Nada se perde e tudo ganha peso, emoção, sentido na voz forte, sem qualquer sotaque, um prazer de ouvir.  Mas é a expressão corporal do ator, construída em mais de 30 anos como palhaço e na Intrépida Trupe e do grupo Irmãos Brothers, que nos comove. É simiesca, mas não é caricata. Sem exagero, sem gritos, sem pastiche ou paródia, Eduardo nos lembra como ali, apesar do texto, ainda está presente o animal.

A fábula é linda. A trajetória no Ocidente tem que ser sustentada na possível sofisticação do conhecimento, no vocabulário ao mesmo tempo que evidencia que nada de diferente pode sobreviver. Mas como tudo na vida, temos dois lados. A libertação se faz quando se conhece, quando se sabe. E Macaco – Relatório a uma academia ,  espetáculo bem urgido de Beto Brown e Eduardo Andrade, nos indica que a condição humana não está no exterior do corpo, mas em nossa cabeça.

Serviço:
dias 14 e 15 de maio às 20h.
Dia 16 de maio domingo) às 19h. 
https://funarjemcasa.yazo.com.br/transmission-room/26

Dias  18 a 23 de maio
•         Dia 18 de maio (terça) – estreia às 20h.
•         Dias 19 a 22 de maio (quarta a sábado) às 20h.
•         Dia 20 – debate (quinta-feira)
•         Dia 21 (6ª. feira) – a peça com acessibilidade e intérprete de libras. 
•         Dia 22 (sábado) – oficina – a tarde às 16h.
•         Dia 23 de maio (domingo) às 19h.

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Nota
Direção
Texto
Cenário, figurino, iluminação
Atuação
Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.
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