Como marquei na última crônica, vou cumprir. Sem essa de deixar para depois. O nosso “bora marcar”, que para muita gente não faz sentido, será comentado nesta Crônica Carioca.
Antes de tudo, quero deixar claro que o “bora marcar” não é tão superficial quanto algumas pessoas acham. Essa carioquíssima expressão mergulha fundo e tem diversos usos em nosso dia-dia no Rio de Janeiro.
O “bora marcar” mais utilizado é o contraditório, quando você diz que quer marcar, mas não quer nem um pouco que esse encontro aconteça. Você vê aquele (a) conhecido (a) mala, aquela pessoa com quem você nunca se deu muito bem, e ela, sem noção, solta um: “Vamos fazer algo qualquer dia?”. O que te resta, para manter o bom convívio social, é o “bora marcar”. Método muito indicado para colegas distantes, parentes chatos e gente com opiniões políticas radicais e antidemocráticas. Eu uso umas cinco vezes por semana. Sem contraindicação ou efeito colateral.
Outro “bora marcar” famoso é o sem pressa. Você, diferentemente do caso anterior, quer fazer algo com uma determinada pessoa, mas não precisa de urgência. No entanto, normalmente, o outro lado não entende e fica insistindo para que o encontro aconteça logo. Deixa o carnaval passar, pessoal. Ainda mais se for encontro amoroso.
Falando em encontro amoroso, o “bora marcar” versão toco é bastante praticado no Rio de Janeiro. A pessoa não quer mais dar sequência àquele começo de relacionamento, contudo, também não quer magoar o outro lado, então diz a boa e velha expressão carioca. “Bora marcar”, “a gente vai se falando” e o amor acaba antes mesmo de começar de fato.
Já é uma expressão tão agregada em nosso dicionário que usamos o “bora marcar” até quando não seria preciso usá-lo. Rola um reencontro casual, rápido ou demorado, tudo fica resolvido, saudades eliminadas, sentimento arquivado por um bom tempo até que outro encontro não marcado se dê e alguém fala, ao se despedir: “Bora marcar alguma coisa qualquer dia”.
Certa vez, conversando pela Internet com uma amiga que mora fora do Brasil e não tem previsão de voltar para cá, eu disse: “Bora marcar de tomar um chope qualquer dia desses…”.
O excesso de uso de “bora marcar” pode causar mal estar social. Nós saímos por aí combinando encontros com amigos, parentes e amores e quando percebemos não temos tempo para encontrar todos, o que pode trazer alguns problemas.
“Bora marcar” literal é um caso sério, porque é um dos menos usados. Então, quando você quer marcar, definir ali uma data para que essa reunião entre pessoas aconteça, ninguém entende ao certo e acaba não marcando, não definindo nada.
Existem outros usos para o “bora marcar”, mas depois eu marco de atualizar esse texto.
[…] famoso e carioca “bora marcar”, já destacado aqui em uma crônica, pode deixar de existir quando a pandemia […]