Derrubada de estádios representa triste legado olímpico do Rio

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O futebol do Rio de Janeiro é uma das grandes vítimas da especulação imobiliária que impera em um dos metros quadrados mais caros do mundo. A Cidade Maravilhosa cede cada vez mais lugar a grandes empreendimentos, de modo que terrenos baldios, campos e até estádios, nos últimos anos, tenham dado lugar a arranha-céus, shoppings e rodovias.

Um dos mais tristes símbolos do chamado legado olímpico é o antigo estádio Eustáquio Marques. Único em Jacarepaguá e muito utilizado para treinamentos e jogos, como Flamengo e Vasco, foi derrubado por determinação do insensível ex-prefeito Eduardo Paes, em 2015, para a passagem da Transolimpíca, corredor expresso que liga Deodoro ao Recreio dos Bandeirantes. Com capacidade aproximada de 5.000 pessoas, foi inclusive cenário da novela Avenida Brasil. Muitos clubes, alguns já extintos, que transitaram pelas divisões profissionais do estado, como Barcelona, Boavista, Barra da Tijuca, Estácio, Internacional, Marinho, Rio-São Paulo, Universal e Villa Rio mandaram partidas nessa praça de esportes.

A recente reapresentação do folhetim global, na sessão Vale a Pena Ver de Novo, fez o país reviver os craques do Divino Futebol Clube, como Jorginho (Cauã Reymond), Adauto (Juliano Cazarré) e Leandro (Thiago Martins), o qual até migra da Terceira Divisão para atuar no Flamengo durante a trama. Isso sem contar o ídolo Jorge Tufão (Murilo Benício). Oito anos depois, o estádio não existe mais, nem na ficção, muito menos na realidade.

O último sacrificado pela sanha destruidora dos políticos é o tradicional Everest, de Inhaúma, fundado a 28 de abril de 1953. A sua sede social, a qual englobava o estádio Ademar Bebiano (foto), foi demolida por ordem do péssimo e incompetente prefeito Marcelo Crivella, que simplesmente deu de ombros aos vários apelos contrários proferidos por inúmeras personalidades ligadas ao desporto como, por exemplo, Zico, cuja história está ligada a esse clube. Foi justamente contra o time inhaumense que o Galinho de Quintino marcou o seu primeiro gol quando ainda atuava pela Escolinha do Flamengo.

Os associados garantem que em momento algum houve diálogo da prefeitura com os representantes auri-anis. Segundo eles, não haveria necessidade de derrubar um patrimônio com 67 anos de tradição, visto que existem outras áreas vazias na região disponíveis para a construção de moradias populares, no caso o projeto Minha Casa, Minha Vida. Infelizmente a demolição foi a solução encontrada pelo município para a realocação das famílias da chamada Favela do Parque Everest, que sofrem costumeiramente com enchentes desde as fortes chuvas de fevereiro de 2018. 

A Prefeitura do Rio, através da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Habitação e Conservação, iniciou as obras para uma nova sede para a agremiação despejada. O espaço fica localizado ao lado da Linha Amarela, em Higienópolis. Porém, os dirigentes argumentam que a extensão é muito menor a ponto do campo só poder ser utilizado para jogos de futebol soçaite. E estamos nos referindo a um clube profissional e filiado à Federação, ainda que atualmente licenciado, que sediava partidas do Campeonato Estadual.

A extinção dos espaços destinados às práticas esportivas impacta diretamente no número e, principalmente, na qualidade dos atletas formados. Ao dispormos de menos possibilidades para que os garotos possam mostrar o seu valor, restringimos cada vez mais oportunidades para que surjam novos valores. Infelizmente esse é um dos legados que os Jogos Olímpicos deixaram em nossa cidade e que nos são de triste memória.

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André Luiz Pereira Nunes é professor e jornalista. Na década de 90 já escrevia no Jornal do Futebol e colaborava com Almir Leite no Jornal dos Sports. Atuou como colunista, repórter e fotógrafo nos portais Papo Esportivo e Supergol. Foi diretor de comunicação do America.

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