Edifícios escolares no Rio de Janeiro: propostas modernistas pós II Guerra

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Foto: Reprodução

Em continuidade a colunas anteriores que tratavam das transformações dos edifícios escolares na cidade do Rio de Janeiro, chegamos às propostas produzidas após a Segunda Guerra Mundial, que se estenderam até o final da década de 1970.

Após as grandes iniciativas relacionadas à educação e suas edificações, implementadas pelo educadores Fernando de Azevedo, na década de 1920, seguido por Anísio Teixeira, com seu programa aplicado às escolas nos anos 1930, pouco se produziu nas duas décadas seguintes em relação a novos edifícios com essa finalidade.

O partido arquitetônico estava na ordem do dia, objeto de discussões pela imprensa sobre aspectos formais e funcionalidade.  Enquanto o médico José Mariano defendia as escolas neocoloniais, considerando seus aspectos simbólicos e ambientais, além de sua adequação ao contexto, Enéas Silva, o arquiteto responsável pelo projeto das escolas-platoon, com suas formas geometrizadas, grandes panos de vidro e lajes planas, alegava uma concepção baseada na economia, modernidade e possível atendimento às novas iniciativas didáticas e pedagógicas.

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Logo após o fim do Estado Novo, em 1945, algumas obras foram projetadas e construídas, provavelmente baseadas em decisões de seus arquitetos, como a Escola Municipal Edmundo Bittencourt, localizada no coração do conjunto Habitacional Mendes de Moraes, o popular Pedregulho, de Affonso Eduardo Reidy, em 1952.

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Escola Municipal Edmundo Bittencourt, São Cristóvão

Acerco Prefeitura Rio de Janeiro

Dra. Carmem Portinho, uma de suas idealizadoras, afirmou em depoimento a este autor, em 1998, a importância da inclusão do edifício escolar junto a um programa de habitação popular, colocada no coração daquela unidade habitacional construída para funcionários da prefeitura.

Trata-se de um notável exemplar onde programa, aspectos climáticos, acessibilidade estão associados com qualidade ao repertório modernista do edifício, complementado por painéis murais desenvolvidos por Portinari e Burle Marx, este também autor do paisagismo local.

Outros poucos edifícios, de concepção modernista, foram construídos na década de 1950, como a Escola Municipal Cuba, na Ilha do Governador, e a Escola Municipal Grécia, na Vila da Penha, utilizando pilotis e painéis de pastilhas ou azulejos.

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Escola Municipal Grécia, Vila da Penha

Acervo Prefeitura Rio de Janeiro

Provavelmente os movimentos relacionados à mudança da capital para Brasília diminuíram os investimentos em novos equipamentos públicos no antigo Distrito Federal.

Em 1960, com a inauguração da nova capital no planalto central, surgiu o Estado da Guanabara e Carlos Lacerda foi eleito governador até 1965, declarado simpatizando do golpe militar.

A ideologia que se instalou abandonou as propostas progressistas de Anísio Teixeira, ainda aplicadas na área educacional, substituídas por ações cada vez mais conservadoras.

Além disso, houve um grande crescimento populacional principalmente pela migração interna do Nordeste para o Sudeste, aumentando rapidamente a demanda por mais vagas nas escolas públicas estaduais.

As propostas arquitetônicas de vanguarda deram lugar a uma produção de baixo custo, racionalizada, em série, onde a quantidade de salas de aula era mais importante do que a qualidade das soluções projetuais. Os turnos integrais adotados anteriormente foram substituídos por três módulos de quatro horas de duração. Os alunos aprenderiam o básico: ler, escrever, as quatro operações, reduzindo as cargas horárias de História, Geografia e outras matérias de caráter social.

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Estudo para uma escola na Praça do Lido, Copacabana.

Correio da Manhã, novembro de 1964

O Departamento de Prédios e Aparelhamento Escolar da Secretaria de Educação foi entregue ao arquiteto Francisco Bolonha que introduziu a pré-fabricação na construção dos novos edifícios. Para atender à diferentes situações como a demanda crescente de alunos ou características dos terrenos, Bolonha projetou alguns tipos diferentes, destacando-se a Escola Joaquim Abílio Braga, no Humaitá, que foi considerada como uma das melhores soluções arquitetônicas no período.

O jornal “Correio da Manhã”, de novembro de 1964, publicou matéria sobre o projeto das novas escolas, destacando a inauguração de 140 unidades, entre elas sete ginásios estaduais e escolas primárias, “um mínimo de despesas num máximo de rendimento pedagógico e resistência dos materiais”. “São Projetos de linhas essenciais à estrutura, que é aparente, criando formas serenas e equilibradas, funcionais, de uma beleza simétrica que recusa o supérfluo para ganhar austeridade e força”.

O Secretário Estadual de Educação e Cultura, Flexa Ribeiro, assinou convênio com o programa Aliança para o Progresso para construção de outras 15 unidades, aproximando ainda mais a Guanabara dos interesses norte-americanos, que utilizava tais cooperações procurando deter um possível avanço do socialismo na América Latina, contando com a simpatia do governo militar desde o golpe de 1964.

Houve ainda a implantação de “escolas provisórias” construídas pela Fundação Otávio Mangabeiras, criada no governo Lacerda para atrair parceria da iniciativa privada. Eram pavilhões de um pavimento, construídos em menos de um mês como solução emergencial, sem biblioteca, salas especiais ou até mesmo pátio para recreação. Algumas delas ainda estão em funcionamento em 2024, com diversas reformas e ampliações.

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Escola Abraham Lincoln.  Anchieta

Acervo Prefeitura Municipal

Poucos estabelecimentos educacionais deste período conseguiram algum destaque, situação agravada pela extinção do exame de admissão ao ginásio, para muitos críticos o início do declínio da educação pública fundamental.

Ao final da década de 1960 foram necessárias obras de adaptação dos edifícios projetados por Bolonha, ampliando as áreas administrativas, inclusão de quadra e vestiários quando possível ou até mesmo a construção de mais um pavimento. Até as fachadas receberam intervenção, com pintura aplicada sobre os tijolos aparentes, marca do edifício original.

A valorização do processo educacional só seria retomada na década de 1980 através de ações promovidas pelo vice-governador Darcy Ribeiro, que resgatou as propostas desenvolvidas por Azevedo e Teixeira, aplicadas num projeto arquitetônico desenvolvido por Oscar Niemeyer: os centros integrados de educação pública – CIEP’s, popularmente conhecidos como “brizolões”.

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Carioca, arquiteto graduado pela FAU-UFRJ, professor, incluindo a FAU-UFRJ, no Departamento de História e Teoria. Autor de pesquisas e projetos de restauração e revitalização do patrimônio cultural. . Consultor, palestrante, coautor de vários livros, além de diversos artigos e entrevistas em periódicos e participação regular em congressos e seminários sobre Patrimônio Cultural e Arquitetura no Brasil.
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2 COMENTÁRIOS

  1. Não é o propósito do texto, mas o foco deve ser no resultado. Os alunos das escolas com grandes preocupações arquitetônicas têm melhores notas e resultados melhores que os das escolas comuns? Os alunos dos CIEPs ou dessas escolas bonitonas dos anos 2010-2020, com computadores, “naves de ciência”, quadra, biblioteca, são melhores leitores, sabem resolver problemas matemáticos básicos? Lembre-se, você conta nos dedos os professores conservadores, a maioria é progressista. E o resultado? Viva Paulo Freire, ele é a cara do resultado educacional do Brasil…

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