Joias estão nos noticiários de todo o Brasil por conta do episódio envolvendo o governo passado, de Jair Bolsonaro. O próprio ex-presidente, a ex-primeira dama Michelle e assessores da antiga presidência estão nas capas de jornais, sites, TVs e tudo mais. Mas não é a primeira vez que a combinação joias e governos vira notícia (e problema) em nosso país.
Na madrugada de 17 para 18 de março de 1882, joias da imperatriz Teresa Cristina foram roubadas. O acontecimento foi coberto pelos principais jornais da corte e pelos veículos de oposição ao império com muita intensidade.
As joias estavam no Palácio da Quinta de São Cristóvão, então residência oficial da família imperial. O tesouro foi avaliado em 900 contos de réis – uma fortuna na época, que em valores atuais seria algo em torno de 28,5 milhões de dólares, mais de 150 milhões de reais, de acordo com o site Diário Imperial.
De uso pessoal, as joias não pertenciam ao império e sim a Teresa Cristina. Segundo os relatos da época, ela ganhou em heranças e presentes de amigos, familiares. Os tesouros imperiais eram guardados em dois cofres no Paço da Cidade e na Quinta Imperial de São Cristóvão.
Historiadores e pesquisadores relatam que as joias haviam sido usadas dias antes, em uma cerimônia no Paço da Cidade. Após o baile que comemorou os 60 anos de idade de Teresa Cristina, ela e Dom Pedro II foram para Petrópolis. As joias ficaram depositados em uma caixa, que foi entregue a Francisco de Paula Lobo, funcionário do serviço particular do casal, para que ele as guardasse em segurança.
Paula Lobo não encontrou as chaves do cofre onde deveria colocar as joias, então, pediu ajuda a Pedro Paiva, outro empregado, e os dois foram até os aposentos imperiais e guardaram a caixa. Foi desse local que as peças desapareceram.
Após investigações, acusações, e muitas notícias negativas na imprensa, descobriram o autor do roubo: Manuel Paiva, irmão de Pedro Paiva, o empregado de Dom Pedro e Teresa Cristina, que ajudou Francisco de Paula Lobo, que também trabalhava para o casal, a guardar as joias.
Alguns dias depois, uma carta anônima apontou a localização das joias. Estavam dentro de latas de biscoito, enterradas em meio a um lamaçal, nos fundos da casa de Manuel Paiva. Manuel e Pedro foram presos e torturados na cadeia.
“Com a ajuda do próprio Manuel Paiva, policiais cavaram o chão e encontraram o tesouro composto de dezenas de adornos raros e valiosíssimos, entre eles pulseiras, broches, comendas, tiaras e colares, todos em ouro incrustados de centenas de pérolas, brilhantes, esmeraldas, rubis entre outras pedras preciosas”, detalha o Diário Imperial.
A notícia deu grande repercussão e como havia uma ebulição social debatendo o fim da monarquia e a chegada da república, a oposição ao poder dominante na época usou isso a seu favor. Diziam que se o império não conseguia tomar conta nem das joias da imperatriz, não conseguiria mais tomar conta de um país que debatia questões centrais para o mundo naquela época, como a abolição da escravatura, por exemplo.
“Este seria apenas o começo de uma eletrizante novela, que a imprensa soube explorar de maneira tão sensacionalista quanto impiedosa. Pela primeira vez no império, a roupa suja da monarquia era lavada no meio da rua, para desgosto de uma família que cultivava a discrição como um dos seus principais predicados”, publicou o Diário Imperial.
Teresa Cristina, usando novamente as joias, acompanhou Dom Pedro II ao Baile da Ilha Fiscal, último baile da monarquia, no dia 9 de novembro de 1889.
Joias e poder, uma combinação perigosa no Brasil.