Papo de Talarico: A Lapa de anjos e demônios

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Estabelecimento na Rua Joaquim Silva, Lapa, em Foto de Alvaro Tallarico
O músico Jajá Souto e sua esposa na sacada do Bandolim Vegan Cult Bar, na Lapa (foto: Alvaro Tallarico)

Lapa. Bairro histórico famoso no mundo inteiro. Os Arcos da Lapa e a Escadaria Selarón estão entre os pontos turísticos mais visitados do Brasil. Trabalho nesse bairro e vejo loucuras todo santo dia. Desde milagres em sua belas igrejas até bêbados e drogados. É um local onde muitos se perdem e alguns se encontram, mas sempre com um charme e uma energia que mistura bagunça com diversão, caos com beleza. Ou seja, é a cara do Rio de Janeiro.

Mais jovem, percorri suas ruas e aproveitei shows e sambas. Moraes Moreira com Acabou Chorare, O Rappa, Paulinho da Viola. O Circo Voador é minha casa de shows preferida de todo o mundo. É bem melhor que ver show no Maracanã, tem uma aura especial. É um bairro que reúne tribos distintas, do Rock ao funk. Também tem seus perigos. Um descuido e você foi furtado. Turistas viram alvos. Mas muitos são salvos. Em geral, ficam fascinados pelo local. Mesmo tantos que encontrei e foram assaltados, mantinham uma certa alegria. O Rio fascina pelo pacote que oferece. Mas bem que podia ser mais tranquilo.

Escrevo esse texto um dia após as ruas da Lapa presenciarem confronto entre policiais e bandidos. Na tradicional rua Joaquim Silva, pólo gastronômico cultural, onde tem o famoso restaurante Ximeninho e o maior restaurante vegano da cidade, o Bandolim Vegan Cult Bar, a troca de tiros foi tensa e intensa. O comércio fechou e mais uma vez a imagem do Rio sai arranhada.

Zé Pilintra

No início da Joaquim Silva, ainda tem um santuário para Zé Pilintra, entidade da Umbanda, cheio de velas e oferendas. Outro dia, ali estavam bebendo e cantando diversas pessoas, numa festa ritualística com aquele jeito de povo da rua. Um estadunidense de Nova Orleans filmava extasiado com aquela manifestação que convivia com grafites variados no pé daqueles arcos magníficos e recém-pintados de branco.

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Foi na Lapa, em frente ao Democráticos, que encontrei uma paixão, certa vez, que durou anos, entre choros e risos, era uma carioca do Rio Comprido. Foi na esquina do Bar da Cachaça que esbarrei com uma chilena, antes do alvorecer, e aprendemos novas línguas durante um dia inteiro. Lá fiz amigos que nunca mais vi, por uma noite, ou longos minutos.

Que na velha Lapa eu possa seguir vendo feiras e freiras, veganos e churrasqueiros, ébrios e iogues. Quero ouvir a cantoria e ver os garotos dançando hip hop, sem sons de tiros e gritos de desespero. Quero o sonho de um Rio por inteiro cujo fluxo saia num mar de alegria. Essa é minha confraria, essa tem que ser a essência dessa cidade partida.

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