PF devolve cinco peças sacras desaparecidas há 50 anos de igreja histórica do Centro do Rio

As peças pertenciam à Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores e estavam sendo leiloadas por um antiquário de Copacabana; a Irmandade contabiliza mais de 150 objetos desaparecidos

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Foto: Divulgação/Polícia Federal

A Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, no Centro do Rio, recebeu de volta cinco peças sacras para o acervo da capela. Os objetos religiosos do século XIX são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e foram devolvidos após uma investigação iniciada pela Polícia Federal em outubro de 2023, após o provedor da Igreja descobrir as peças num catálogo de leilão. Elas estavam desaparecidas da igreja há pelo menos 50 anos.

As preciosidades, incluindo dois tocheiros e três objetos chamados de “sacras” (que são como uma ‘cola’ para o padre ler as principais orações da antiga Missa Tridentina, em formato de placas trabalhadas de prata), foram identificadas quando surgiram em um leilão no município, organizado pela antiquária Dagmar Saboya em Copacabana. Avaliadas em mais de 200 mil reais – mas de valor inestimável do ponto de vista cultural, todas as peças ostentavam o emblemático símbolo da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, reforçando sua importância histórica e cultural.

“Para a irmandade dos Mercadores, receber de volta essas cinco peças que estavam desaparecidas há mais de 50 anos é um feito significativo. Isso é apenas o começo de um trabalho que deve restituir toda a arte sacra roubada da igreja. Um trabalho que une a Polícia Federal, a Arquidiocese, a nossa Irmandade e os meios de imprensa”, afirmou emocionado Cláudio Castro, provedor da irmandade e seu benfeitor: junto com o irmão e outros amigos, Castro restaurou toda a igreja e emprestou inúmeras peças para recompor o seu acervo sacro. Mais de 150 peças que sumiram da igreja durante o mesmo período, entre as décadas de 70 e 80, um prejuízo de mais de R$ 1,5 milhão.

São imagens, coroas, cálices, monumentais cruzes e varas de prata, armários, cadeiras e até mesmo cabeças de anjo que foram serradas de dentro da capela. Um inventário interno muito completo foi feito em 1945, que tem servido de base para que a instituição produza uma grande relação de itens desaparecidos. Além disso, existe um álbum fotográfico com parte das peças, de 1947, e também o arquivo Noronha Santos do Iphan, que fotografou a Igreja no detalhe.

A Arquidiocese do Rio de Janeiro enfatizou a importância da colaboração entre entidades públicas e privadas na proteção do patrimônio cultural. “Este evento não apenas realça a necessidade de vigilância constante sobre nosso patrimônio cultural, mas também sublinha os esforços conjuntos necessários para garantir que esses tesouros históricos continuem a enriquecer nossa comunidade e futuras gerações”, declarou a Arquidiocese em comunicado oficial, reconhecendo a atuação do provedor e o acerto na escolha dele pelo Vigário Episcopal das Irmandades, Monsenhor André Sampaio de Oliveira.

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O Altar Mor da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, em 1947, antes de ser saqueado. Tudo que se vê em cima do altar desapareceu

O padre Vítor Pereira, Vice-Chanceler da Eparquia Nossa Senhora do Paraíso e celebrante aos sábados na Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, expressou sua gratidão pela atuação da Polícia Federal durante a cerimônia de devolução das peças. “Como responsável pelas celebrações, é profundamente gratificante poder celebrar a Santa Missa diante dessas peças agora restauradas ao seu lugar de direito no altar-mor da igreja”, afirmou o padre.

Em celebração ao retorno das peças, está programada uma missa solene para este sábado (20/07) ao meio-dia, com a participação de coral e grande orquestra, em ação de graças pelo evento muito festivo para a irmandade de 1743. O evento não só comemora a restituição das peças, mas também reforça o compromisso contínuo de preservar a memória histórica e cultural da igreja, que já é monitorada 24 horas por uma tecnologia inovadora que vem ganhando espaço no Centro do Rio.

Segurança Reforçada

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Câmeras Gabriel serão utilizadas pela Irmandade

A direção do templo religioso afirmou ao DIÁRIO DO RIO, que além das ações físicas de recuperação, a igreja implementou a tecnologia de segurança “Gabriel”, que monitora as áreas adjacentes à igreja com imagens de alta resolução, transmitindo as imagens em tempo real, e cada cliente tem acesso a um histórico de imagens de 14 dias. A abordagem elimina as limitações frequentemente encontradas em sistemas antigos, como interrupções no serviço e qualidade de imagem reduzida, proporcionando imagens nítidas e de alta resolução que são fundamentais para investigações policiais.

Segundo dados da empresa carioca, as câmeras Gabriel já contribuíram significativamente para aproximadamente 5 mil investigações policiais, resultando na prisão de mais de 340 criminosos. Além disso, a tecnologia também foi crucial para inocentar oito pessoas falsamente acusadas de crimes.

Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores

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Projetada em 1747, a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores está localizada na Rua do Ouvidor, uma das ruas mais antigas do Rio de Janeiro. Edificada por uma irmandade de prósperos comerciantes, a construção religiosa é considerada uma das mais bonitas da cidade. Em 2020, a igreja foi fechada pela Defesa Civil devido a problemas estruturais. A irmandade que administra o templo enfrentava dificuldades financeiras. Em março de 2023, a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro nomeou um empresário do ramo imobiliário, Cláudio Castro, para liderar a entidade. Com orientações da Comissão de Patrimônio da Arquidiocese, a irmandade, com recursos privados, iniciou a restauração do bem histórico nacional. Os sinos foram consertados e restaurados e agora tocam a cada hora. O templo foi reaberto para cultos em 10 de junho de 2023, e ganhou uma exposição museológica que conta a história da devoção à N. S. Da Lapa e também fala das origens e histórias que envolvem a igrejinha.

A Irmandade está ativa e promove missas solenes, cantadas em latim, no rito do Papa Paulo VI (novus ordo) todos os sábados e domingos às 12 horas. As celebrações são abertas ao grande público e são sempre acompanhadas de coral e orquestra.

Tradicionalmente, a igreja também promove, todos os dias 27 de cada mês, a missa de Nossa Senhora das Graças, sempre às 10 horas. A Santa possui uma capelinha dentro da nave, inaugurada pela irmandade no início do século XX. O evento costuma lotar e complementa o circuito cultural e religioso da “Pequena Lisboa”, como vem sendo chamada a área compreendida da Praça XV à Candelária. O templo está aberto diariamente para visitação turística, entre 9 e 18h durante a semana e até as 17h nos sábados.

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