Prioridade da Águas do Rio é resolver problema da falta d’água, diz presidente da empresa

O DIÁRIO DO RIO conversou com Alexandre Bianchini, presidente da Águas do Rio, sobre os projetos da concessionária para o RJ

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Foto: Divulgação

Nesta segunda-feira (01/11), a Concessionária Águas do Rio assumiu a operação hídrica em 27 cidades do estado, incluindo a Capital Fluminense. A previsão original para começar a gestão do serviço seria apenas em fevereiro do ano que vem, mas a companhia resolveu antecipar o cronograma.

Para falar sobre os planos da empresa em relação à distribuição de água, saneamento básico e cuidados com o meio ambiente, o DIÁRIO DO RIO conversou com Alexandre Bianchini, presidente da Águas do Rio. Confira:

DIÁRIO DO RIO: O que esperar dessa chegada da Águas do Rio?

Alexandre Bianchini: As metas contratuais são extremamente agressivas, a gente já investiu R$ 15 bilhões e 400 milhões no leilão, e nos 5 primeiros anos vamos ter que investir R$ 7,2 bilhões. Até o 12º ano, serão R$ 19 bilhões e até o fim da concessão R$ 24 bilhões. O que significa esse investimento todo? Ele tem uma lógica e metas contratuais muito bem definidas ao longo da concessão, inclusive para cada cidade. A meta final é chegar em 2033 cumprindo a legislação brasileira que obriga a universalização do sistema de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto. Daqui a 12 anos, todos os municípios têm que atingir essa meta e elas contemplam 90% do esgoto coletado e tratado e a universalização do sistema de abastecimento de água.

Então, esse investimento de 19 milhões contempla toda essa condição de resolver esse problema de água e de esgoto com 90%, que já é o suficiente para a natureza absorver o resto. No meio do caminho tem um marco contratual de 5 anos com coisas que tem que estar prontas, como os grandes coletores em torno da Baía de Guanabara, que vão levar o esgoto até as estações, como se fosse uma linha de proteção à Baía; na Bacia do Guandu toda a rede de esgoto e tratamento tem que ficar pronta para proteger a Bacia.

Alguns investimentos nós estamos começando desde agora, no início, para a população já sentir alguma diferença. O saneamento do Rio de Janeiro está muito aquém da cidade e do estado, então precisamos melhorar com rapidez e as pessoas estão descrentes. A gente optou por uma série de investimentos iniciais que impactam diretamente na vida das pessoas. Por exemplo, a gente está aplicando muito em tecnologia e a gente tem um centro de operações integradas que já é o melhor do país; a gente tem 1000 pontos monitorados de toda a área de concessão. A gente sabe o que está acontecendo em São Francisco de Itabapoana da mesma forma que sabe o que está acontecendo na Zona Sul e na Baixada Fluminense.

Esses dados todos, a gente lança em uma inteligência artificial e faz simulações hidráulicas e você chega a conclusão de onde a gente tem que investir e quais são as soluções para resolver problemas de baixa pressão que se apresentam ao longo do sistema.

Com isso, a gente já iniciou 100 obras de curto prazo e de alto impacto, porque elas não resolvem grandes problemas, mas resolvem problemas de 300 ou 400 pessoas, 50 pessoas, que seja. Eu até brinco muito com o pessoal que às vezes falam que eu estou fazendo propaganda de obra para 50 pessoas e que não é importante, mas é aquilo, se você for uma dessas 50 pessoas com certeza vai achar importante.

É lógico que as grandes obras, que são as reformas estruturais do sistema atual da Cedae, que estão muito deterioradas, precisam de planejamento, estratégia, equipamentos, coisas que demoram a chegar, isso também está sendo realizado. A gente decidiu que como essas coisas grandes são mais lentas, isso não impede de fazer essas coisas rápidas.

Um outro trabalho muito intenso é nas comunidades do Rio de Janeiro. A gente já começou na Mangueira, na Barreira do Vasco, já no primeiro dia para levar dignidade. Eu sempre gosto de dizer que somos uma empresa privada, mas temos plena consciência de que prestamos um serviço público… e prestar serviço público também é prestar serviço social e o grande mote de todo esse programa é ter um relacionamento muito próximo com essas comunidades, resolver o problema porta a porta, porque tem coisa que não se resolve em bloco, mas sim um a um, inclusive a questão da tarifa social.

Hoje a Cedae pratica tarifa social com menos de 1% da população da nossa área de concessão. O contrato nos obriga a chegar a 5%, mas nossos estudos já estão se aproximando de 10%. A gente vai transpor o contrato, vai fazer mais do que o contrato nos obriga, porque a gente entende que hoje o desemprego no Rio de Janeiro está em 2 dígitos. A tarifa social é um remédio social feito para quem precisa, não pode ser só uma obrigação contratual. É uma necessidade nesse quase pós-pandemia. Então a empresa está entendendo o cenário atual do Rio de Janeiro.

Em grandes números o projeto é assim, mas olhando mais profundamente você vai ver que há uma meta para cada cidade para cada ano, quanto tem que subir o índice de cobertura em cada cidade. Além disso, tem itens de qualidade que têm que ser cumpridos também. É um contrato muito bem amarrado.

DIÁRIO DO RIO: Falando especificamente das lagoas e das baías, existe algum projeto de despoluição ou de preservação?

Alexandre Bianchini: Um dos grandes motivos dessa concessão é exatamente isso. Na Lagoa Rodrigo de Freitas já foram feitas algumas obras que melhoraram bastante ao longo do tempo, mas precisa de mais, a gente vai melhorar bastante o sistema de lá. Nós já estamos monitorando todas as elevatórias que cercam a Lagoa Rodrigo de Freitas, mas tem mais coisa para ser feita lá, a gente já tem trabalhos nas elevatórias do Hipódromo, do Árabe, do Patins… todos esses painéis têm sido trocados, as bombas também estão sendo trocadas. A gente está monitorando daqui as bombas, se estão enchendo ou se não tá, se a bomba parou ou não parou… tem todo esse arcabouço montado ali na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Inclusive, nós estamos fazendo uma parceria com o Mario Moscatelli para recuperação de todo o mangue da Lagoa. Uma coisa que muito me estranhou foi sermos a primeira empresa privada que faz uma parceria com o Moscatelli, e isso é um projeto que tem muito a ver com a gente. E esse é só um dos primeiros projetos que a gente está fazendo, porque outros virão.

Na questão da Baía de Guanabara, que é o grande desafio que tem neste contrato, em cinco anos fazer grandes coletores para evitar que o esgoto caia na Baía de Guanabara, o bom exemplo é a Lagoa de Araruama.

Eu sou de uma geração que, quando eu era moleque, eu ia muito a Iguabinha, aquela lagoa era uma piscina de tanto peixe. Eu sou de uma geração que viu essa lagoa morrer. Ela não tinha mais vida, não tinha mais pesca, turismo, não tinha mais nada. Virou uma grande lagoa de esgoto. Foi feito um grande cordão de isolamento, que é exatamente o mesmo projeto que nós temos que fazer na Baía de Guanabara nos próximos cinco anos, e retornou a vida da Lagoa de Araruama: a lagoa hoje está viva, está limpa, tem pesca, turismo, voltou a ser aquela lagoa de antigamente. 

A gente olha para a Lagoa de Araruama como um modelo reduzido da Baía de Guanabara. O mesmo projeto que foi aplicado lá, vai ser aplicado aqui. Então, o efeito vai ser o mesmo. Esse cordão de isolamento corrige tudo? Não, mas ele melhora bastante as condições. A questão do esgoto sanitário só fica resolvida mesmo em 2033, com toda a rede separativa que vai ser feita em toda a área de concessão, mas é muito importante dizer que a poluição da Baía de Guanabara não é só de esgoto sanitário. Existem vários órgãos que precisam trabalhar bastante para ajudar nesse trabalho. A questão do lixo é muito importante, a questão da ocupação irregular é muito importante, tem uma série de ações que são necessárias serem feitas.

A gente não vai também só cuidar da parte de esgoto e ficar parado. Nós queremos assumir realmente o protagonismo na limpeza da Baía de Guanabara, então a gente vai realmente provocar todo mundo, chamar todo mundo, chamar a sociedade… acho que hoje o carioca e o fluminense perderam o amor pela Baía de Guanabara, a gente tem que retomar essa coisa dessa paixão que a gente tinha. A gente está de costas para a Baía, só quer olhar para o mar ou para a serra, a Baía virou uma coisa “deixa isso para lá” e a gente tem que retomar esse carinho que a gente um dia teve pela Baía de Guanabara.

Então, assim, a empresa não vai simplesmente coletar e tratar esgoto. Vamos fazer mais, vamos provocar a sociedade, vamos provocar o Estado, os municípios, provocar todo mundo porque não adianta a gente ter a Baía de Guanabara com águas claras e com sofá boiando lá, não vai fazer sentido… então já que a gente vai investir tanto dinheiro, realmente tem que ter o efeito e isso se torna sem dúvida nenhuma o maior projeto de meio ambiente do mundo. A Baía de Guanabara é uma joia do planeta que quando retomada a gente tem plena certeza de que vai reverberar para o planeta inteiro.

DIÁRIO DO RIO: Esse não é seu primeiro trabalho no ramo… fale mais sobre a sua experiência

Alexandre Bianchini: Eu trabalho há 33 anos com saneamento, só fiz isso na vida. Comecei minha carreira lá atrás como concursado da Cedae, entrei como operador de elevatória em 1989 e trabalhei lá de 89 a 99. Foi quando eu pedi demissão da Cedae para ingressar em uma empresa privada de saneamento e fiquei nesse grupo por 20 anos. Na sequência vim para a Aegea e estou há 3 anos aqui… e culminou no fato de eu ter sido convidado para ser presidente da Águas do Rio.

Eu já passei, só no Rio de Janeiro, por 12 cidades, que eu já fui diretor, né?! Fora isso, passei 3 anos em Manaus, como diretor da empresa lá em Manaus também. E a questão da Cedae foi que em 2019, eu fui convidado para assumir uma diretoria de grupo de operações da Cedae, trabalhei lá de abril até agosto. Eu realmente não me adaptei ao serviço público de novo, acho que já estava com essa questão da agilidade da empresa privada e de repente me deparei com uma situação que era um outro mundo. Não estou dizendo se é um mundo certo ou errado, mas você como ser humano se adapta a um estilo de gestão e eu já tinha trabalhado há muito tempo na Cedae, mas não me readaptei. Não era o que eu queria, recebi a proposta de voltar para iniciativa privada e estou seguindo minha vida aqui na luta pelo saneamento.

DIÁRIO DO RIO: Fala um pouco sobre esse aumento na conta de água previsto para a partir de 8 de novembro.

Alexandre Bianchini: Não é um aumento, né?! A Cedae não faz o realinhamento de fracionados da tarifa dela há 2 anos e eles fizeram agora. É abaixo da inflação, que está em 15% ou 16% e eles fizeram em 9,86%. E a gente vai assumir com a mesma tarifa da Cedae, sem alteração nenhuma. 

Eu não vejo como aumento de tarifa, está até abaixo da inflação e muito abaixo do que outras concessionárias, inclusive de energia, estão aplicando. Então, é só um realinhamento inflacionário, uma correção… não é nem um aumento de tarifa.

DIÁRIO DO RIO: Na Europa algumas capitais chegaram a privatizar o serviço de distribuição de água e depois voltaram para o Estado. O que você acha disso? Você acha que pode se repetir aqui?

Alexandre Bianchini: O Brasil hoje tem mais de 10% da população sem acesso à água tratada. A quantidade de investimento que tem que ser feito nesse país para que em 2033 a gente atinja as metas previstas na legislação, é uma coisa absurda. Passa dos R$ 600 bilhões de investimento.

A questão toda, e isso é uma coisa que me preocupa bastante como sanitarista, por ter trabalhado 33 anos no saneamento, já ter trabalhado em concessão pública e em empresa privada, é que eu acho essa discussão tão pequena, se tem que ser público ou se tem que ser privado num país que necessita de tantos investimentos. O público não é capaz de fazer sozinho e o privado não é capaz de fazer sozinho, e as pessoas estão discutindo dessa forma uma coisa tão séria, porque a falta de saneamento é responsável por 70% das doenças.

A gente está se protegendo tanto de um vírus, e tem que se proteger mesmo porque é perigoso, mas aí a gente olha para a questão do saneamento como se isso fosse uma coisa normal. Discutindo se tem que ser público ou privado, aí fica essa discussãozinha, as coisas não acontecem efetivamente e as pessoas adoecendo.

Quando você entra com saneamento, o índice de mortalidade infantil desaba, o número de casos de doenças que levam as pessoas para os hospitais desaba. E enquanto isso, as pessoas estão pensando “Tem que ser público? Tem que ser privado? Ah, porque na Europa…”. Na Europa o que aconteceu foi que os contratos terminaram, os investimentos já foram feitos, e algumas cidades não renovaram. Aí ficam alardeando isso como se fosse acontecer igual.

O que hoje tem que nos passar maior segurança como cidadão é o fato de que existe um grupo que já investiu e já pagou mais de R$ 10 bilhões, nesta semana paga mais R$ 2 bilhões e 100 milhões e ainda tem mais R$ 3 bilhões para pagar… essa quantidade toda de dinheiro foi disponibilizada para o Rio de Janeiro e nós recebemos em troca disso um contrato com um monte de metas que a gente tem que cumprir. Você já imaginou colocar esse dinheiro todo, não cumprir e voltar para empresa pública? Tem um contrato assinado por ambas as partes, aceito e que vai ser cumprido. Não tem porque não ser cumprido. O pior que estava acontecendo antes era que não existia contrato nenhum, meta nenhuma, obrigação nenhuma. Nós pagamos e temos obrigações sim, temos deveres, mas também temos direitos. Está tudo escrito no papel, não tem dúvida do que vai acontecer.

Então, assim, essa discussão de público ou privado, eu, com minha experiência de 33 anos de saneamento, posso garantir que é uma das coisas que mais me irritam porque é um absurdo ficar discutindo esse assunto enquanto as pessoas estão sofrendo por falta desse assunto.

O que está acontecendo não é a privatização da Cedae, ela continua existindo, vai continuar na produção de água. A gente tem esperança de que a Cedae se concentrando lá, o Guandu não seja só a maior estação de tratamento de água do mundo, mas passe a ser a melhor também. E isso é uma parceria público-privada. O público continua existindo e o privado entra com um investimento financeiro que o público não tem e é uma estrutura muito forte. E é assim que a gente tem que pensar.

A gente agora tem metas. O estado do Rio de Janeiro saiu na frente de todo mundo, porque nenhuma capital ou estado do Brasil tem um programa tão agressivo quanto esse. Então, a gente tem que passar por cima dessa discussão, porque é público e privado.

DIÁRIO DO RIO: Você tem grande experiência nesse ramo (saneamento básico). Como você vê a situação do Rio nesse quesito e o que você acha que precisa ser prioridade, em especial nas regiões mais precárias?

Alexandre Bianchini: Os investimentos em obras de esgoto são importantes sim, estão dentro do contrato, vão ser cumpridos, agora água é prioridade, é mais urgente. Então, de cara, é resolver o problema da falta d’água com a máxima urgência. Essas obras que estamos fazendo são para melhorar o abastecimento de água na Baixada Fluminense, das partes altas da Zona Norte, de São Gonçalo, de Magé, de Maricá, de Itaboraí, que tem abastecimento de água muito prejudicados. A gente precisa atacar e resolver isso com máxima urgência. E as obras de esgoto são obras mais lentas, mas com um prazo de contrato específico que vamos cumprir tranquilamente.

DIÁRIO DO RIO: O que você deixaria de recado aos cidadãos fluminenses?

Alexandre Bianchini: Posso dizer que tem um grupo extremamente preparado que começou a operar nesta segunda-feira no Rio. Nós estamos muito preparados e capacitados… é importante a parceria de toda a população para cumprir os objetivos deste contrato. A gente precisa que as pessoas entendam e se comprometam, porque a empresa vai estar junto, se comunicando e sendo o máximo transparente nessa relação que é a mais importante de todas: com cada um dos nossos clientes.

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1 COMENTÁRIO

  1. Coitado, vai depender da CEDAE para o suprimento de água com bastante esgoto e geosmina. Vai encontrar pela frente os prefeitos das cidades que vão encasquetar com as licenças para obras nas ruas, vai se deparar com os deputados que hão de criar mil leis para tirar alguma casquinha populista da empresa nestes próximos 30 anos… e o povo fluminense, a partir do ponto em que começar a ser cobrado de verdade pela água que bebe e pelo esgoto que excreta, vai começar a xingar a empresa. No meio do caminho, as viúvas da CEDAE vão ficar tagarelando “eu não falei? eu não disse?”…

    Deus abençoe a Águas do Rio. Irão precisar de energia sobrenatural para sobreviver a estes 30 anos que virão.

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