Um muro completamente estapafúrdio, metade amarelo, metade cinza, tem intrigado os frequentadores e moradores da Saúde há muito tempo. Ele delimita a entrada de uma antiga rua lateral ao atual Galpão da Cidadania, que liga a rua Argemiro Bulcão (aquela que termina na badalada Pedra do Sal) à hoje movimentada avenida Barão de Tefé, quem tem alguns dos edifícios de última geração do Porto Maravilha, como a sede da L’Oreal e o Vista Guanabara. E serve de entrada e “guarita” para um estacionamento particular.
A rua tem 163 metros lineares de extensão, e foi fechada nas duas pontas para receber o Estacionamento Nossa Senhora da Conceição, explorado por particulares. De um lado da rua, a lateral do Galpão da Cidadania, imóvel federal tombado, construído em 1871 para servir às Docas D. Pedro II. Do outro lado, diversos imóveis particulares, todos com entrada pela Avenida Venezuela e também para a citada rua. É o caso da loja da Avenida Venezuela 131. “Este estacionamento, que ninguém esclarece como veio a ocupar a rua inteira, chega ao cúmulo de proibir que nós usemos nossas portas que dão de frente para a rua. Fazem ameaças, e distratam os inquilinos que tentam usar as portas dos imóveis” diz o administrador do imóvel, Adriano Nascimento. Os responsáveis pelo nebuloso estacionamento chegaram a fazer um muro colado numa das portas da loja, alterando a fachada do imóvel, que é dos anos 1930.
A loucura dos ocupantes da rua alcança níveis ainda maiores. Acostumados com o tempo em que a região não tinha qualquer movimento, se comportam como, literalmente, os “donos da rua”. Proibiram até mesmo a instalação de um aparelho de ar condicionado na fachada de um imóvel que tem frente para a rua, segundo um porteiro de prédio próximo que pediu para não ter seu nome revelado. “eles ameaçam a gente, como a ProMatre faliu, não tem quem reclame e eles viraram donos da rua.” O porteiro disse que já houve casos de ameaças à sua integridade física.
Ninguém sabe a que título o estacionamento, que existe há 37 anos, ocupa o logradouro público. “Provavelmente é uma antiga rua de passagem para um trem de carga ou que de alguma maneira era usada para retirar cargas do grande Galpão.”, disse Cláudio André de Castro, diretor da Sergio Castro Imóveis, maior imobiliária da região, e que administra diversos imóveis nas proximidades. Cláudio não sabe explicar como o estacionamento veio a ocupar a rua, inclusive fechando suas extremidades com muros, e tapando até mesmo as portas de lojas que têm frente para ela.
Realmente, ao se observar o quarteirão, vê-se que todos os imóveis que têm frente para a ex-rua, do lado oposto ao Galpão da Cidadania, são ou da falida maternidade Pro Matre (cujos imóveis constantemente têm ido a leilão, conforme noticiamos aqui) ou estão fechados, como é o caso de uma grande loja que pertence ao Supermercado Princesa, e uma outra que pertence a um investidor particular, a mesma cujas portas para a rua os operadores do estacionamento não “permitem” abrir-se.
Com as mudanças e o sucesso do projeto Porto Maravilha, especialistas acreditam que situações como esta não devem perdurar. O edifício Vista Guanabara, nas proximidades, já está praticamente totalmente ocupado. O Aqwa, mais adiante, também. A região começa a receber mais e mais trabalhadores agora com o arrefecimento da pandemia, e já se vê novamente os restaurantes da região bastante cheios, como é o caso do Gracioso, que na quarta feira passada tinha 40 minutos de espera, até pela escassez de restaurantes e lanchonetes no local. “Se a prefeitura desejar o desenvolvimento da região, vai investigar melhor e ajudar a acabar com as jabuticabas locais, que acabam sendo um grave entrave ao desenvolvimento da região tão cara à gestão atual“, diz Castro.
No local, o DIÁRIO DO RIO procurou representantes do estacionamento, que não quiseram se pronunciar.
Entre no Google maps e procure por rua do Moinho. É por onde passa o VLT logo após sair da estação na Praça da Harmonia em direção à Parada dos Navios. No final da r do Moinho batemos de frente com o prédio do ambulatório do HFSE, ou Hospital dos Servidores, que começa alí na Rua Souza e Silva e vai até a Barão de Tefé. Na Barão de Tefé, do outro lado do ambulatório, ao olharmos pro outro lado da rua temos quem? O trecho do estacionamento que é chamado de ex-rua na reportagem. Vemos então que a rua Ligava a praça da Harmonia a rua Argemiro Bulcão e me lembro da época que eu passava pela rua Souza e Silva e via trilhos de trem cruzando a rua em direção ao ambulatório. Ou seja, ligava o moinho às docas (armazem da ação da cidadania) por linha férrea. Primeiro o Armazém perdeu sua importância com a construção do novo porto, depois o Moinho se expandiu da praça da Harmonia em direção ao cais do Porto, ficando assim mais próximo dos novos armazéns portuários. A rua então foi anexada pelo moinho entre no trecho entre a Harmonia e a r Souza e Silva. Depois foi construído o ambulatório no meio da rua entre a Souza e Silva e a Barão de Tefé. Por fim, sobrou o trecho do estacionamento que surgiu para suprir a demanda de vagas da região. Foi assim que aconteceu a confusão toda.
Bem. Preparem-se que lá vem história. Sou morador do bairro desde que nasci em 1988, na maternidade citada na reportagem, a Pro Matre. Não só eu como também minha filha de 12 também nasceu lá. Mas enfim, vamos à questão da ex-rua que é isso que importa. Parece um absurdo. Mas como estamos no Brasil e no Rio de Janeiro, ainda mais na Zona Portuaria que foi abandonada à degradação pelo afamado Plano Agache, o qual estabeleceu que ela seria uma zona industrial esse absurdo se torna ainda maior, acreditem. Ao que tudo indica, essa rua realmente era trajeto de trens ou bondes que levavam cargas ao antigo armazem das docas Pedro II, como foi dito pelo Sr. Sérgio Castro. Acontece que com o aterro para a construção do Porto e a designação de área industrial, o Moinho Fluminense foi se expandindo. Suas instalações ficavam à beira mar e conforme o porto ia ganhando forma o empreendimento de moagem de farinha foi se entendendo por mais e mais quarteirões até chegar ao atual cais do porto. Acontece que essa ex-rua do estacionamento é também a mesma rua que por anos foi ocupada pelo moinho. Ela começava alí na Rua Antônio Lage, exatamente onde o VLT desvia e passa por dentro do terrenos do moinho. Antes passavam caminhões que entravam pela Antônio Lage e saiam pela Sousa e Silva carregados de farinha. Só que aí vem o pulo do gato. Outra parte da rua foi ocupada para a construção do prédio do ambulatório do Hospital dos Servidores do Estado. Ou seja, o próprio Estado, após permitir que o moinho usasse a rua como privativa, ainda construiu um edifício público de grande interesse bem no meio da tal rua. O trecho que a reportagem mostrou, entre a Barão de Tefé e a Argemiro Bulcão, acabou por se tornar estacionamento justamente por demanda dos funcionários públicos que iam trabalhar de carro: no Hospital, no Antigo prédio da Funasa na Rua Coelho e Castro, e em diversos outros órgãos públicos que haviam na região. Conclusão: o descaso é a omissão só Estado permitiram essa loucura. Não sei a ordem cronológica disso tudo. Só sei dizer que basta abrir o Google mais ou qualquer outra ferramenta e procurar por rua do Moinho que verão que os ambulatórios e depois o trecho do estacionamento formam juntos uma única Rua. Abraços e perdão pelo texto.
Gente que absurdo! A Prefeitura precisa fazer alguma coisa, pelo amor de Deus! Nem que seja necessária a presença da polícia!
Se no centro do Rio fazem isso…
Boa matéria! Jornalismo que apresenta relevante serviço à sociedade. Dar publicidade a casos absurdos ele modo que as autoridades, quem sabe, acordem…