Santa Cruz dos Militares, no Centro do Rio, completa 400 anos em setembro com festa

Uma Missa Solene será celebrada pelo Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, para comemorar o quarto centenário da Irmandade católica que reúne militares desde o tempo do Brasil Colônia; evento ocorrerá no dia 14/09, com entrada franca

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Coro e órgão da Igreja de Santa Cruz dos Militares, uma das mais tradicionais e históricas da cidade

Quem caminha pela região da Praça XV, cada vez mais conhecida como “Pequena Lisboa“, por conta de seu casario histórico, igrejas mais que bicentenárias, becos e ruelas que atraem turistas de todo o mundo, se impressiona pelo lindo templo que fica bem na esquina da rua do Ouvidor com a antiga rua Direita, a Primeiro de Março. Seu frontão clássico com nichos e imagens de santos católicos atrai o olhar de quem vai em direção mesmo à boemia daquela região, tão cheia de bares e restaurantes que atraem cariocas de todas as idades, e mesmo os mais alternativos.

Naquela região que vem renascendo aos finais de semana, quando lota em meio à animação dos Centros Culturais da Região e da própria recém-reformada Igrejinha dos Mercadores (que fica poucos metros adiante na mesma rua do Ouvidor), reina soberano o grande templo erguido pelos militares, que pertence a uma irmandade católica que agora completa impressionantes 400 anos de idade. A Imperial Irmandade da Santa Cruz dos Militares foi fundada no longínquo ano de 1623, no Rio de Janeiro. Irmandades são associações civis de fiéis católicos que, movidos por uma devoção ou carisma em comum, se associavam e construíam, fundavam e administravam não só igrejas como também obras filantrópicas, hospitais, orfanatos.

O sentido atribuído ao termo “irmandade” nos remete a uma das mais caras intenções que acabaram levando os soldados que serviam à Capitania de São Sebastião do Rio de Janeiro a fundar a Irmandade da Santa Cruz dos Militares. O objetivo inicial era construir uma capela, um espaço religioso que possibilitaria o convívio entre Irmãos, a realização do culto, sepultamento de mortos e o acolhimento de viúvas e órfãos.  A irmandade foi uma espécie de antecessora da assistência social dos militares, pois ficava a cargo da irmandade pagar as pensões aos dependentes dos soldados mortos.

O Capitão-Mor Martim de Sá, então governador da Capitania e primeiro Provedor da irmandade (Provedor é o nome que se dá àquele que, eleito pelos irmãos, exerce o poder executivo na instituição), solidário a esta ideia, cedeu à Irmandade um terreno onde havia um pequeno forte em ruínas pertencente ao governo português, o Forte da Santa Cruz, bem na esquina de onde estão hoje a Primeiro de Março e a Ouvidor. Por duas vezes foi considerada Igreja Imperial no Império Brasileiro, sendo a primeira por Dom Pedro I em 3 de dezembro de 1828 e a segunda em 1840 por seu filho Dom Pedro II; todos os Imperadores do Brasil foram ‘protetores da irmandade‘.

Hoje, a associação civil religiosa católica, de direito privado e sem fins lucrativos, de caráter beneficente de assistência social filantrópica, histórica e cultural, é formada por Oficiais do Exército Brasileiro da Ativa, de reserva da 1ª Classe ou reformados, que são denominados Irmãos Efetivos. A entidade administra propriedades que lhe foram legadas por beneméritos e pessoas que, acreditando na importância da instituição, fizeram doações, e gere a linda igreja que leva seu nome.

Sua Igreja, construída no século XVIII, tem um sofisticado projeto com o predomínio do barroco e do rococó – mas com fachada clássica – e foi tombada pelo então Serviço do Patrimônio Artístico Nacional, atual IPHAN, em 1938.   A planta da bonita igreja é de nave única com dois corredores laterais. A capela-mor, o arco cruzeiro e parte da nave, incluindo os altares de Nossa Senhora das Dores e de São Pedro Gonçalves, são raríssimas talhas do famoso Mestre Valentim, esculpidas entre 1802 e 1812. A nave do templo com altares, tribunas e painéis com brasões – inclusive com as armas do Império – exibe um trabalho de talha terminado em 1853 pelo artista Pádua e Castro, o mesmo que trabalhou na decoração da Lapa dos Mercadores.

Constantemente se reinventando, a Instituição completará 400 anos de existência numa festa no próprio templo, que ocorrerá no dia 14 de setembro de 2023 – uma quinta-feira, “com seus objetivos preservados, metas estabelecidas e sonhos renovados“, segundo nota de Priscila Assed, Gestora Cultural da irmandade ao DIÁRIO DO RIO. Uma Missa Solene vai celebrar o quarto centenário da histórica instituição; a celebração eucarística será presidida pelo Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, e terá a participação do coral infanto-juvenil da Fundação Osório.

É uma honra ser Provedor da Irmandade da Santa Cruz dos Militares em seus 400 Anos. É momento de comemorar e agradecer a Deus pelos 10 anos e 9 meses que estive à frente da Instituição junto aos meus Irmãos, Conselheiros, amigos e funcionários“, disse o Coronel Paulo de Oliveira Leite, atual Provedor da Irmandade, que completa agora seu quarto centenário.

Todas as 54 Irmandades, Confrarias e Ordens Terceiras prestam contas de suas atividades à Arquidiocese do Rio de Janeiro, através do Vicariato Episcopal das Associações de Fiéis, que está sob o comando do Monsenhor André Sampaio de Oliveira, experiente diplomata de carreira na Santa Sé e membro da Comissão Arquidiocesana de Artes Sacras. Sampaio é mestre e doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, e festeja a data comemorativa da irmandade: “A Irmandade da Santa Cruz dos Militares nasce do espírito de viver e conviver como irmãos e ao comemorar seus 400 anos, peçamos a Deus que torne coração de cada membro semelhante ao seu: manso e humilde, movido pelo amor, capaz de iluminar os caminhos pelos quais todos aqueles que já são irmãos e aqueles que querem se tornar nossos irmãos querem andar. Vivenciando a verdadeira fraternidade como irmãos em Cristo”. Um grande esforço da arquidiocese carioca tem sido feito em prol de maiores cuidados com os templos históricos da região Central que são de propriedade das irmandades. Aos poucos, começa-se a observar o resultado de tal cuidado.

Recentemente, a Comissão de Patrimônio da Arquidiocese realizou um concorrido seminário sobre o Patrimônio Histórico e Cultural Católico, que recebeu autoridades e servidores ligados ao setor, assim como interessados, arquitetos e apaixonados pela arquitetura católica e pela arte sacra, da qual a Igreja dos Militares é importante representante.

Missa Solene pelos 400 anos da Irmandade com Coral da Fundação Osório
Endereço: Rua Primeiro de Março, número 36 – Centro Histórico (Esquina com a rua do Ouvidor)
Horário: Dia 14/09 às 12h
Entrada Franca
Maiores Informações: 21-2506-7600

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1 COMENTÁRIO

  1. “Pequena Lisboa”?! Vocês estão de porre? Isso não faz nenhum sentido. É o Rio de Janeiro antigo, com suas diversas influências, das quais a mais importante é a portuguesa, mas não tem nada a ver com Lisboa.

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