Conforme o DIÁRIO DO RIO já havia publicado, nesta terça-feira (13/04), estreia a série documental “Meu Amor – Seis Histórias de Amor Verdadeiro”, que em cada episódio narra um ano da vida de um casal. E o Rio de Janeiro será muito bem representado por Jurema e Nicinha, duas mulheres que se relacionam há 43 anos e, juntas, criaram seus filhos e netos na Rocinha.
O DIÁRIO DO RIO conversou com a diretora do episódio sobre o Rio, Carolina Sá, que contou um pouco sobre como foi participar da produção. Ela contou que, desde o princípio, ela e a equipe acharam importante encontrar um casal que, “além de resistir ao tempo e às intempéries da vida a dois, também representasse outras formas de resistência no Brasil”.
“Nicinha e Jurema são duas mulheres que se relacionam amorosamente há mais de 40 anos, são negras, domésticas, moradoras de uma favela e praticantes de religião afro-brasileira, ou seja, representam diversos tipos de resistência e boa parte dos brasileiros que sofrem diariamente com preconceitos, muitas vezes criminosos. No entanto, elas mostram como o amor é uma pulsão motora de resistência e também como a família brasileira se constitui de diversas formas. Criaram sua família com garra e afeto e seguem correndo atrás dos seus sonhos. O mundo vai poder testemunhar a beleza e força da relação de um casal que representa o Brasil em muitos aspectos“, ela contou.
Quanto à resistência, o episódio mostra não apenas a realidade de Jurema e Nicinha, mas de muitos cariocas. Carolina contou sobre a importância desse pano de fundo:
“Acho importante mostrar a realidade em sua amplitude, ou seja, as dificuldades que os moradores da favela passam, mas também a força e a beleza que trazem para o mundo. Eu achava muito importante revelar no filme o que tem de belo e potente numa família como a delas, que vive na Rocinha, uma das maiores favelas da América Latina. No entanto, também era importante mostrar o cotidiano das personagens e propor uma reflexão sobre a dura realidade da desigualdade social no nosso país. […] Isso fala muito sobre o Brasil e achamos importante mostrar isso no filme embora esse aspecto seja o pano de fundo e não o foco principal do roteiro, que é o amor entre elas“.
Quanto a isso, a diretora conta que a falta d’água na Rocinha impressionou, pois trata-se de um absurdo que os moradores enfrentam. E mesmo com tantas adversidades, o amor de Jurema e Nicinha se mantem forte: “É inadmissível que isso ainda aconteça nos dias de hoje. Enquanto filmávamos em pleno verão, às vezes faltava água por 2 ou 3 dias. E essa é uma realidade de uma parcela imensa da população brasileira, o que é um absurdo. Então eu acho que o filme precisava revelar esse aspecto nas entrelinhas, mesmo que o foco não fosse esse, como falei, mas a potência e beleza da relação delas que resiste a tantas adversidades“.
A gravação foi bastante intimista, pois registrou a rotina do casal. Carolina contou que foi um processo de aproximação, confiança e afeto que foi construído reciprocamente entre elas, sua família e a equipe. Ela destaca que hoje pode dizer que tem uma relação muito forte com as duas: “admiro muito elas e a família que construíram“.
Questionada sobre os momentos mais emocionantes, Carolina destacou uma cena religiosa, na qual a família faz agradecimentos e oferendas à Exu e Oxalá, entidades do Candomblé e da Umbanda, e a formatura de Michelle, filha de Nicinha e filha adotiva de Jurema.
“Michelle é a primeira pessoa da família a se formar depois de muitas gerações. Ela traz a força de sua mãe e de sua mãe de criação e tem muito orgulho de ter sido criada por duas mulheres. Uma pessoa admirável, inteligente e sagaz, fruto da linda história de vida, luta e amor entre Nicinha e Jurema. Vê-la se formar fez a família e a equipe ficarem muito emocionadas”.
Por fim, Carolina resume que foi uma experiência pessoal e profissional que levará para toda a vida: “Profissionalmente aprendi muito trabalhando com uma equipe internacional, onde havia produtores brasileiros, americanos e coreanos, além da incrível experiência que tive com a Netflix, que deu a mim e à minha equipe todo o apoio logístico e acreditou no filme que queríamos construir. Pessoalmente aprendi muito com Nicinha e Jurema sobre cuidado, paciência e amor – essa força motora humana que não tem preconceitos. Aprendi também sobre resiliência, luta e resistência num país ainda tão injusto onde o preconceito vira crime todos os dias. Nicinha e Jurema são o símbolo das possibilidades apesar das adversidades”.
Carolina afirmou que fica feliz que o filme faça parte de uma série chamada Meu Amor, afinal, ela destaca, como já disseram os compositores poetas “tudo o que precisamos é de amor”.