“Sonho que se sonha junto é realidade”. A frase, da música “Prelúdio“, de Raul Seixas, pode até estar meio batida, mas é uma verdade. Mais um exemplo para confirmar a veracidade do verso é a recuperação da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, na Rua do Ouvidor, 35, no Centro do Rio de Janeiro.
Em meados de março deste ano, o empresário e presidente do DIÁRIO DO RIO, Claudio Castro foi nomeado pelo cardeal arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, como novo comissário administrativo da Irmandade da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. A missão? Fazer o templo voltar a funcionar. Logo os trabalhos foram iniciados, um grupo foi montado e o projeto de reabertura andou. Na equipe, alguns voluntários fizeram diferença e foram fundamentais para o andamento do projeto.
Bruna Castro, Claudio Castro, Wagner Victer (que ajudou a recrutar voluntários) e dois dos trabalhadores que se voluntariaram
A igreja já está aberta para visitação, sábados e domingos entre 11 e 18h. Deve reabrir para celebrações no início de junho, com missa solene celebrada por Dom Orani. Searon Cabral, formando em pedagogia da Fundação Cesgranrio, foi um dos voluntários que colaborou para isso: “As atividades foram variadas. Nos primeiros dias ajudamos na parte da limpeza mais delicada, na sequência organizamos os livros antigos, armários e na recepção das pessoas. Atuei aos sábados com 5 horas diretas, iniciando às 11hrs. Pegamos os horários de maior visitação e, consequentemente, de maior demanda de trabalho“.
Aberta em 1750, a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores estava fechada há três anos. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), começou a ser construída em 1747, a partir de um oratório dedicado à Nossa Senhora da Lapa, diante do qual comerciantes se reuniam para pedir boa sorte nos negócios e na vida.
“Umas das minhas tarefas foi organizar uma grande estante com livros e documentos históricos relacionados à Irmandade. Encontrei relatórios datados do século XVIII, livros com a relação de membros e as contas da Irmandade, além de devocionários”, contou Danylo Rodrigues, advogado e voluntário.
A torre do templo religioso recebeu um tiro de canhão durante a Revolta da Armada, em 1893. Por conta do incidente, a imagem de Nossa Senhora da Fé que ficava no alto do prédio despencou de uma altura de 25 metros, quebrando apenas parte de dedos da mão. A bala de canhão que atingiu a estátua está guardada e exposta. Os religiosos consideram o fato um milagre. Um milagre carioca, dizem.
“O trabalho voluntário é de extrema importância, pois consiste numa forma de auxiliar a recuperação de um importante patrimônio histórico da cidade. Fica um sentimento de enorme gratidão e de dever cumprido por ter contribuído para a recuperação de um bem histórico do Rio”, afirma Daniel Muniz estudante de direito da Veiga de Almeida, estagiário da Procuradoria da ALERJ e um dos voluntários na Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores.
Daniel, de 22 anos, trabalhando na Igreja
Pichações foram apagadas, uma grande faxina geral foi feita, dedetização, descupinização, revisão de telhados, elétrica e hidráulica, pintura geral e mobília reorganizada, até o sino voltou a badalar. Tudo isso e muito mais foi feito para que a Igreja pudesse ser reaberta para a visitação. Contudo, para reabrir, literalmente, foi preciso ter seus centenários portões restaurados. E esse trabalho (também voluntário) foi realizado por Marcelo Alves.
“Fui informado por um amigo em comum do Claudio Castro sobre a proposta de revitalização da Igreja. Marcamos uma visita ao local e me propus à revitalizar os portões de grades de ferro na entrada. Estive por 5 dias semanais de 13h às 17h, no período de 30 dias aproximadamente. O sentimento é de grande satisfação, por agregar em um trabalho que é um marco na história do Rio de Janeiro”, disse ele, que é mestre de obras, construtor autônomo, aluno de engenharia civil e estagiário na ALERJ.
A reabertura da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores está em um contexto mais amplo do projeto Reviver Centro. Nas proximidades do templo religioso estão restaurantes e bares históricos e alguns sendo abertos, como o Alfa Bar e Cultura, que fica na Rua do Mercado, perto da Ouvidor, onde também fica a sede do DIÁRIO DO RIO. De certa forma é um milagre carioca.