Pouca gente sabe, mas aqui no Brasil, os cariocas foram os primeiros a experimentar uma delícia gelada que vinha ganhando o mundo, mas que por óbvias razões havia grandes dificuldades de chegar ao sul da linha do Equador. Mas em 1834, o navio americano Madagascar, vindo de Boston, aportou na atual Praça XV, bem no centro nevrálgico da cidade Rio de Janeiro com quase 200 toneladas de gelo, em blocos. O objetivo era algo inimaginável nestas terras tupiniquins: fazer sorvete, claro! Os imensos blocos de gelo foram bem armazenados com serragem em depósitos subterrâneos e acabaram conservados por aproximadamente cinco meses.
Se trazer este produto à época tão raro – afinal, aqui não é terra de neve ! – imagine como seria a logística de comercializar a iguaria gelada? Como naquele momento do século XIX ainda não havia como conservar o sorvete (ou sorbet!) depois de pronto, as sorveterias – que eram simplesmente o que havia de mais diferente e inovador na cidade – anunciavam a hora certa de tomá-lo, causando um verdadeiro e grande alvoroço na cidade. Veja-se que até as mulheres, que então eram desencorajadas a entrar em bares, resolveram quebrar o protocolo e fizeram fila para experimentar a novidade, que era servida também de forma mais requintada nos cafés e confeitarias que pululavam em ruas como a Ouvidor. É este momento célebre da chegada desta paixão gelada ao Rio que o Sobrado da Cidade quer celebrar neste fim de semana. Séculos depois daquele longínquo ano de 1835, o carioca viria a amar sorveterias como Babuska e Sem Nome, chegando à Itália e à Mil Frutas, picolés industrializados da Kibon, Dragão Chinês ou Gelato, e mesmo os sacolés vendidos pelas suas ruas, mas poucos conhecem a história da chegada do sorvete ao Rio.
É assim que o restaurante, sempre buscando trazer um apelo ao passado glorioso da velha capital do Império, comemorará os 189 anos da chegada do sorvete ao Rio. No seu tradicional Café da Manhã Histórico, servido sempre aos sábados e domingos como um banquete do século XIX, será servido um ‘Sorbet’ preparado à moda do que era servido nas quilométricas filas enfrentadas pelos burgueses e nobres nas recém-nascidas sorveterias daquela monarquia tupiniquim. Inicialmente, o gelo era misturado às frutas, criando o que hoje os restaurantes chiques chamam de “Sorbet”. Tudo isso e muito mais será explicado durante a refeição e o passeio pelo Centro Histórico do Rio pela historiadora Nathalia Vivacqua, enquanto se desfruta da gastronomia requintada do final da era Vitoriana no Brasil.
Especialista em gastronomia cultural e mestranda em História, Nathalia, acompanhada de um guia turístico, conta detalhes sobre os costumes da época, os pratos, os ingredientes e a sociedade carioca de então. Para deixar o café ainda mais agradável, a estrutura do estabelecimento, um casarão construído em 1865, impressiona com seus azulejos holandeses originais, na área que vem ficando conhecida como Pequena Lisboa. A casa, localizada na Rua do Rosário, sempre foi um espaço de história e cultura, desde o prédio escolhido com suas paredes em pedra de mão e óleo de baleia, até os detalhes do espaço que tem, por exemplo, uma linha do tempo que conta a história do imóvel e de seu primeiro proprietário, um barão dos tempos do império. Depois disso, o mesmo prédio foi sede da Brasserie Rosário , que fez sucesso em sua época, e agora a badalação vem sendo reeditada pelo restaurante.
A região da Praça XV tem recebido mais e mais novos negócios e experiências inovadoras, com inauguração de novas galerias de arte, bares e restaurantes, e foi reforçada pela recuperação da histórica Igreja dos Mercadores, de 1743, e que passou a celebrar missas com coral e grande orquestra aos sábados e domingos ao meio-dia.
Foi neste estilo de ‘revival’ que o Sobrado da Cidade resolveu inovar levando o seu cliente a viajar no tempo até o século XIX, chegando a servir os comensais que se inscrevem semanalmente para o evento em louças e pratarias antigas. O estabelecimento oferece o café com o cardápio da época, escrito em francês, como era na época. É um verdadeiro banquete, como aqueles que eram compartilhados pelos cariocas de antigamente. Além disso, serão explicadas detalhadamente as escolhas do cardápio, para aumentar a imersão cultural na época em que o Rio era Capital de um Império nos trópicos.
A refeição demora cerca de 1h e 30 com as explicações da historiadora, e , é claro, a desgustação do Sorbet do século XIX. Mas a aventura na história não termina por aí! Depois de forrar o estômago num ambiente bonito, refrigerado e de ser servidos por garçons e garçonetes com uniformes de época, chega a hora de aprender tudo sobre a região da Praça XV, ou Largo do Paço. A caminhada guiada pela região vem logo depois, com muita história – como aliás está na moda, à exemplo do que entidades como o Instituto Rio Antigo e o site Rio Casas e Prédios Antigos têm promovido com sucesso em diversas regiões do Rio. O restaurante fica próximo ao histórico Arco do Teles, ao Paço Imperial e todos os Centros Culturais da Região, que incluem o dos Correios, o da Marinha, do Banco do Brasil e o Convento do Carmo, sem contar algumas das mais espetaculares igrejas barrocas do país, numa região que vem ganhando reforço de segurança contínuo.
O passeio termina exatamente às 12h em frente à Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, cujos sinos voltaram a badalar recentemente. Na igrejinha de formato elíptico e decoração rococó, uma orquestra e coral conduzidos pela cantora lírica – soprano – Juliana Sucupira, vão encher a linda nave com suas imagens do século XVIII e cortinas de fina renda com música clássica religiosa da melhor qualidade, enquanto uma missa solene será celebrada, em latim. A celebração, com músicas de compositores como Handel e Gounod, vai colocar os comensais numa experiência de paz e meditação, com o rico odor de incenso dos velhos turíbulos de prata dos mercadores da região, que ergueram a igrejinha com muito suor e esforço. E os teólogos garantem: uma hora depois de tomar o sorvete, quem é católico já pode comungar!
Primeira Bala Perdida da História do Rio
Com lugar cativo na cerimônia solene, junto ao grande público, os comensais terão acesso à estátua de Nossa Senhora da Fé, em tamanho natural, construída em mármore de lioz português, que foi derrubada junto com a antiga torre de sinos depois de ser atingida por um projétil disparado pelo encouraçado Aquidabã, numa revolta de 1893: dizem que foi a primeira bala perdida do Rio! E mais, vão conhecer a própria…bala de canhão! Como a imagem caiu de 25 metros de altura e não quebrou nada além de 2 dedinhos, o fato ficou conhecido como Milagre da Rua do Ouvidor, e o artefato se encontra disponível pra visitação junto à Santa…
Serviço:
- Horários do Evento:
09h30 – Café Imperial século XIX
11h – Visita Guiada Histórica e, ao final, às 12h, chegada à Igreja dos Mercadores, onde estará sendo celebrada uma Missa Especial com coral e orquestra. - Endereço: Sobrado da Cidade – Rua do Rosário 34 – Centro – Rio de Janeiro
- Valor por pessoa: R$ 250,00 (para moradores do Rio com comprovante de residência) ou R$ 300,00 para turistas
*No pix ou cartão de crédito. - Reserva e pagamento antecipado.
- No máximo 48 participantes
- Informações e reservas pelo WhatsApp: 21 97978 4353
- Consultar sobre pacotes para mais de 10 pessoas
[Além dos meios de transporte públicos – o restaurante fica próximo às barcas, ao Metrô Carioca e na cara do VLT-Praca XV, é possível estacionar próximo, no Terminal Garagem Menezes Côrtes, e a caminhada é de 5 minutos]
Abaixo, algumas fotos da Igreja, que é bem tombado nacional, e é protegida pelo IPHAN.