A agonia do Subúrbio Carioca: Medo e caos tomam conta do Complexo da Penha durante megaoperação da Polícia Civil

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Ontem, como podem ver nas fotos, a minha casa foi fuzilada, o meu carro foi alvejado e minha mãe e eu só não morremos por causa da Misericórdia Divina. E enquanto escrevia esse texto, deitado em um cômodo que não tem janela, o tiroteio continuava. Ouvia tão perto que era como se fosse dentro da minha casa.

Sou nascido e criado aqui, mas não me lembro de um dia com tantos disparos. A criminalidade está aumentando de maneira exponencial e nada do que está sendo feito parece surtir algum resultado positivo. Ontem, nesta operação da Polícia Civil, foram quase mil agentes tentando entrar no Complexo da Penha. Não conseguiram.

E ouvindo o som dos tiros, dos helicópteros dando rasante, dos caveirões subindo a minha rua, dos bandidos gritando contra os policiais, das balas batendo nas paredes e vidraças, das crianças e suas mães chorando, uma meditação me vem à cabeça: o subúrbio está agonizando.

Aqui mesmo, bem pertinho, já tivemos indústrias que seriam capazes de dar empregos de qualidade e uma vida digna para boa parte dos moradores.
A Coca-Cola era aqui. A Castrol era aqui. O Café Capital era aqui. Todos foram embora. Agora, aqui, só tem o medo.

A criminalidade expulsou a prosperidade, acabou com o direito de ir e vir, matou o futuro dos jovens e fez dessa região uma das mais perigosas e miseráveis do nosso estado.

Essa operação de ontem, que tinha o objetivo de combater o roubo de cargas e de cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra traficantes do Comando Vermelho (CV), é apenas o já conhecido “enxuga gelo”. Não há luz no fim do túnel, não há plano de futuro. Enquanto ouço os tiros (sim, hoje teve tiroteio novamente), lembro que amanhã mesmo tudo estará como antes. Provavelmente, ainda pior.

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Em entrevista coletiva, o secretário de Segurança do Rio, Victor Santos, afirmou que a megaoperação no Complexo da Penha ontem, terça-feira (3), é a primeira de uma série de ações que serão realizadas em áreas dominadas por traficantes ou milicianos.

“Não vai haver local no Rio de Janeiro onde a ação da segurança pública não vai estar. Então, essa é a primeira de muitas operações que vão ser realizadas. E com um único objetivo. Hoje, o tráfico de drogas, a milícia e todas as organizações criminosas que dominam essas localidades viraram verdadeiras agências reguladoras de crimes contra o patrimônio no Rio de Janeiro, seja roubo de celular, roubo de veículos, roubo de carga, e obviamente as forças de segurança não vão permitir que isso aconteça.”, disse o secretário.

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O que resta para nós moradores, que ficamos sempre entre a incompetência dos políticos e a maldade dos bandidos, é rezar pedindo a Deus que nos proteja, que proteja os policiais e que, um dia, os bons tempos retornem ao subúrbio trazendo, ao menos, um sopro de esperança por dias melhores.

Os próximos episódios virão, mas espero que demorem.

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Thiago Ventura é jornalista graduado pelo Ibmec. Durante 14 anos, foi editor dos principais telejornais da TV Globo, onde teve cargos de liderança, desenvolveu quadros especiais e participou de coberturas históricas. Nascido e criado no subúrbio, é um apaixonado pelo Rio e acredita (apesar de tudo) que essa cidade ainda pode ser melhor do que todos sempre sonharam.