Sede do jornal A Noite, da Rádio Nacional, o Edifício Joseph Gire abriga muita história. O prédio, que ficou conhecido pelo nome do periódico que sediou até meados dos anos 1930, vai virar residencial. Vamos destacar aqui memórias desta importante construção.
A construção, iniciada em 1927, foi um projeto do arquiteto francês Joseph Gire – também responsável pelo Hotel Copacabana Palace – e do brasileiro Elisário Bahiana. Durante a obra foi utilizada a nova tecnologia do concreto armado, dando grande impulso à engenharia praticada no Brasil daquele período.
A estrutura de 22 andares e uma altura de 102 metros – o que corresponde a 30 andares de um edifício atual – foi calculada por Emílio Henrique Baumgart, engenheiro que posteriormente se tornou responsável pelo Ministério da Educação e Cultura. Até os anos 1930, foi considerado o prédio mais alto da América Latina. Foi ultrapassado pelo Martinelli, que fica em São Paulo, inaugurado em 1934.
Inicialmente, o edifício foi sede do jornal A Noite, que em tempos bem anteriores a internet fazia a função de noticiar o que acontecia no final dos dias. Devido à força do nome do veículo de comunicação, o nome original da construção caiu em desuso.
O jornal foi fundado em 1911 por Irineu Marinho, Castelar de Carvalho, Marques da Silva e outros idealistas. As edições saiam às 19 horas com o noticiário até por volta das 17h30. Tinha manchetes de última hora em edições atualizadas. O jornal chegou a ter sete edições diárias e foi o único vespertino da cidade a alcançar a tiragem de duzentos mil exemplares.
Uma das características mais marcantes do edifício A Noite era o que se podia ver de seu terraço ou de andares mais altos. O prédio servia de mirante, pois oferecia uma vista privilegiada da cidade quase toda e da Baía da Guanabara.
Além do que se via, o que se ouvia também marcou. No fim da década de 1930, mais precisamente em 1937, já sem o jornal o A Noite, sediou a Rádio Nacional, que vivia a era de ouro do rádio com seus programas de auditório e novelas de rádio. Por lá passaram cantores como Sílvio Caldas, Francisco Alves e Orlando Silva, entre outros.
Até o ano de 2012, o prédio foi sede da simbólica Rádio Nacional, que então se mudou para o espaço da Empresa Brasil de Comunicação EBC, na Gomes Freire, na Lapa. Em 2013, o edifício foi tombado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), recebendo o reconhecimento coincidente com sua altura e tamanha importância. O A Noite também foi sede do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Em 31/3 deste ano, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, assinou a compra do edifício por R$ 28,9 milhões, bem abaixo do lance mínimo de R$ 98 milhões apresentado em maio de 2021, data do primeiro leilão. A venda de edificação ocorre após tentativas frustradas de negociação entre o governo federal e a iniciativa privada. O objetivo da Prefeitura ao adquirir o prédio, inicialmente, é o de negociá-lo com setor privado.
Nesta semana, a notícia de que o prédio vai virar um residencial deixou muita gente cantando de felicidade.