Escondida na parte mais preservada do Rio Antigo, entre ruas estreitas, sobrados e prédios históricos, a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, se perde em meio à movimentação urbana da Rua do Ouvidor, nº 35, no Centro do Rio de Janeiro, onde está localizada, bem na esquina com a ruazinha do Arco do Teles.
A edificação começou singela, com um simples oratório dedicado à santa. Em 1747, tiveram início as primeiras obras da igreja, que contou em sua elaboração com traços nos estilos rococó e barroco, o que faz do templo uma verdadeira pérola história, cultural e devocional da fé católica.
Fechada por quase quatro anos pela Defesa Civil por conta da queda de um pedaço da sua fachada, a igrejinha passou por momentos de grande dificuldade. A parte externa estava deteriorada, com a pintura manchada e descascada. Buracos podiam ser vistos em alguns cantos do centenário monumento.
Diante da ameaça à relíquia e ao patrimônio da cidade, empresários e voluntários se uniram para revitalizar o templo. Os primeiros movimentos começaram a ser dados em março deste ano, quando o empresário e diretor da Sérgio Castro Imóveis, Cláudio André Castro, foi nomeado comissário administrativo da Irmandade dos Mercadores pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, com a finalidade devolver o brilho celestial à joia católica.
“A Arquidiocese tem uma grande preocupação com todo o patrimônio histórico da nossa cidade. E mesmo quando alguns locais não são da nossa propriedade, mas pertencem a irmandades, temos procurado encontrar caminhos alternativos para a restauração. Poder reabrir para o culto público e, ao mesmo tempo, com toda a história, a beleza da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, é uma grande alegria. Agradecemos ao comissário, que está, em nosso nome, trabalhando bastante nesse sentido e pedimos a Deus que anos ajude cada vez mais para continuarmos trazendo para o uso da comunidade muitas igrejas que fazem parte da história do Brasil e do Rio”, disse o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, ao jornal O Globo.
De forma célere, Cláudio André mobilizou profissionais e voluntários para a recuperação da fachada, das instalações elétricas e hidráulicas, descupinização e retirada da vegetação que brotou em colunas e paredes. Todo o mobiliário e obras de arte remanescentes da igreja também passaram por uma refinada revitalização, uma vez que o templo foi uma das primeiras construções tombadas, no Rio de Janeiro, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
“Desde que a Comissão de Patrimônio da Arquidiocese do Rio de Janeiro nos pediu para atuar e colocar de volta essa igreja como farol de história, de cultura, religião e fé católica, no Centro do Rio, nós conseguimos agir rapidamente”, disse Cláudio André Castro ao RJ2, da Rede Globo.
A recomposição da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores seguiu severamente todas as normas definidas pelo IPHAN. Como material de apoio, Cláudio André Castro utilizou 70 negativos da década de 1920 encontrados pelo empresário na arrumação do espaço. Nas imagens foi possível ver a riqueza histórica e cultural do templo. Através das fotografias foi possível ainda verificar o que ainda restava do acervo original. Assim, teve início a recuperação iconográfica da edificação, que já havia perdido muito das suas peças de metal.
“A igreja tinha perdido muitas das suas peças de metal, por razões que eu não sei quais, as coisas não estavam mais por aqui. Recebi uma visita do pessoal do inventário da Arquidiocese e fiz um comodato para trazer peças de família e recompor a ambiente”, explicou Cláudio André ao jornal e cuja família coleciona obras de arte há mais de 100 anos.
As peças da família do empresário se juntarão a algumas obras originais de extremo valor histórico, como as imagens de Santana com a Virgem Menina e São Joaquim, incorporadas ritualisticamente à igreja, em 1766. A imagem de Nossa Senhora da Lapa, que está abrigada no nicho principal, também é original. O altar, no entanto, foi arrematado pelo empresário em um leilão e doado à igreja.
Para Washington Fajardo, arquiteto e urbanista e ex-secretário de Planejamento Urbano do município do Rio de Janeiro, a revitalização de momentos históricos é de grande importância para a cidade, mas é preciso que haja continuidade nas ações.
“Reformar é importante, mas é preciso saber cuidar. Ali, onde a igreja está, era o epicentro do comércio do Rio colonial e imperial. Hoje, a gente quer ver o Centro recuperado e é exatamente esse tipo de trabalho do Cláudio que faz muita falta. Não basta o poder público, as pessoas precisam ter atenção e cuidado aos pequenos detalhes da cidade”, disse Fajardo ao Globo. O arquiteto foi um dos voluntários no trabalho de revitalização do monumento.
Com a renovação da igreja, cujo sino voltou a bater de hora em hora, cariocas e turistas terão acesso a celebração de missas, além de pode participar de eventos culturais e de caráter histórico sobre a edificação, cuja torre sineira foi atingida por uma bala de canhão durante a Revolta da Armada, em 1893. A peça segue em exposição na igreja, que tem ainda a imagem de Nossa Senhora da Fé, que despencou do alto da torre, tendo sofrido apenas danos leves em uma das mãos, o que foi visto pelos fiéis da época como um milagre.
A reabertura da igreja acontece, neste sábado (10), às 18h, com a celebração de uma missa pelo Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta.
Leia também:
“William Bittar: Sobre a igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores do Rio de Janeiro”
“Sinos de igreja do século XVIII voltam a badalar e marcar as horas no Centro do Rio”
As informações são do jornal O Globo e do RJ2, da Rede Globo.
Gostaria de saber os dias e horários que a igreja se encontra aberta. Obrigada
Sempre de 9 às 16h
Parabéns!!!!