Um edifício de 10 andares em mau estado que no passado foi sede da Rádio Continental (antes Rádio Clube Fluminense), localizado na Rua do Riachuelo, nº 48, esquina com a Rua Silvio Romero e bem próximo aos Arcos da Lapa acaba de sofrer uma nova invasão, na manhã desta quinta-feira (9/11). O prédio hoje pertence ao INSS. Desta vez, os autores da ação criminosa foram integrantes de uma ‘entidade’ que se intitula Movimentos Unidos dos Camelôs (MUCA), que supostamente representaria a classe dos ambulantes na cidade.
Com a invasão do prédio público, os camelôs parecem pretender denunciar as ações repressivas de sua atividade clandestina, que imagina-se sejam as fiscalizações por eles sofridas por parte de autoridades, que são na verdade obrigadas a apreender mercadoria de procedência duvidosa, sem contar toda a mercadoria falsificada que muitos deles vendem por toda cidade, assim como fiscalizar os gatos de luz que muitos puxam de postes e prédios abandonados e o esgoto que muitos atiram na rede de água pluvial da cidade. A ‘entidade’ também afirma denunciar a falta de moradia na capital fluminense. Os camelôs afirmam, segundo o portal Brasil de Fato, que quererem morar ‘perto do trabalho’. Mencionam, como é comum a muitos movimentos de invasores, a “função social da propriedade“, expressa na Constituição. Para o administrador de imóveis Wilton Alves, eles o fazem “ignorando que não cabe a eles ou a nenhum cidadão eleger os imóveis a cumprir a tal função social, e sim ao Estado, através dos instrumentos cabíveis, como a desapropriação”.
“Não é justo termos que passar metade do dia no transporte para trabalhar. O Reviver Centro propõe trazer moradia popular ao Centro, mas esta moradia não é para pobre. Estamos organizando a nossa própria moradia”, teria afirmado Maria dos Camelôs, coordenadora geral do MUCA, segundo o Brasil de Fato. A nova invasão do prédio do INSS – que não tem qualquer condição de habitabilidade – recebeu o nome de Gilberto Domingos, um ambulante que morreu vitimado por um atropelamento na madrugada do dia 5 de julho, segundo dizem depois uma noite de trabalhando no Maracanã.
Este mesmo prédio – que sequer tem janelas – já havia sido invadido anteriormente, pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Há mais de 10 anos, um processo de reintegração de posse removeu os esbulhadores da edificação, trazendo alívio aos vizinhos. Eram constantes – como de costume – as ocorrências de crimes dentro da invasão; em novembro de 2011, O Globo noticiou a apreensão de quinhentas pedras de crack e quarenta e sete sacolés de cocaína no edifício com dois bandidos, um menor de idade e uma mulher de 22 anos. Após a saída dos invasores, muito comemorada pelos moradores do entorno, a subprefeitura do Centro ergueu um muro para impedir novas incursões ao edifício. Desde então, o prédio do INSS estava vazio. Ele fica ao lado de um conceituado apart-hotel da Lapa, o Bu$iness Flat Residencial Service, um prédio imponente que conta com 5 andares de garagem, coisa escassa no mercado imobiliário da região.
Quando a União fez o seu Feirão de Imóveis, durante a gestão do ministro Paulo Guedes, o imóvel esteve listado para venda, e a Secretaria do Patrimônio da União afirmou que o “gabarito construído é o melhor aproveitamento” para a área, que hoje faz parte da APAC da Cruz Vermelha. Porém, nenhum negócio ocorreu.
Apesar de os invasores terem instalado uma faixa com os dizeres “Reviver Centro com os Camelôs“, eles estão dentre os maiores problemas narrados pelos artífices, apoiadores e investidores do projeto de renovação da região. Na Conferência Centro Rio, que ocorreu na última segunda feira na Associação Comercial do Rio de Janeiro, com a presença de mais de 200 pessoas, assim como se secretários de estado e do subprefeito Alberto Szafran, foi praticamente unânime a conclusão de que a existência dos ambulantes ilegais promove grave sensação de insegurança na região, além de ocasionar graves perdas para o comércio formal, que gera empregos e paga impostos. “A informalidade é um câncer no tecido urbano da cidade”, disse o empresário Cláudio André de Castro, na abertura do evento, onde foram dados vários exemplos de lojas fechadas e negócios desmantelados por conta não só da concorrência desleal, mas do péssimo aspecto criado pelo caos urbano por eles criados.
As relações de camelôs ilegais com a propriedade privada, com o cerceamento do direito de ir e vir do cidadão comum e com as autoridades têm sido, no mínimo, conflituosas na região do Centro, assim como em outros bairros. No dia 1º de novembro, o DIÁRIO DO RIO publicou uma reportagem denunciando o império da desordem que se instalou por toda a Rua Uruguaiana, também no Centro. A região se tornou um shopping a céu aberto, coberto por uma lona azul em quase toda a sua extensão. Sob a proteção vende-se de tudo, de roupas e calçados falsificados, passando por malas e mochilas e, até quentinhas, sem permissão sanitária. Enquanto isso, o comércio formal. que ali antes existia, foi dragado pelas sucessivas crises do Centro e pela desordem reinante.
Os descalabros, no entanto, não param por aí. Vigilantes que trabalham nos estabelecimentos comerciais ainda em funcionamento relataram ao jornal que muitos dos camelôs que ali trabalham gozam de uma proteção especial por atuarem sob o comando da milícia. O jogo do bicho, apesar de decadente na área, ainda continua dando algumas cartas: segundo eles, cobra dos ambulantes para o uso dos antigos pontos de aposta, como se Uruguaiana pertencesse à contravenção. O desmantelo é tamanho que o Shopping Center Paço do Ouvidor, que investiu mais de R$ 5 milhões na revitalização da sua Praça de Alimentação, simplesmente teve que fechá-la, pois espaço era usado pelos camelôs, que lá faziam as suas refeições, além de emporcalharem os banheiros. O pessoal da limpeza já não aguentava mais tanta falta de educação.
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Em 2 de setembro, o DIÁRIO repercutiu a confusão ocorrida, no dia 30 de agosto, entre camelôs clandestinos e agentes de Seop que faziam operação de ordenamento urbano na Avenida Rio Branco e adjacências, recolhendo mercadorias falsificadas, entre elas diversos óculos com a marca “Ray Ban”. Na ocasião, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB), que trava uma luta contra o secretário de Estado de Ordem Pública, Brenno Carnevale, questionou a ação das autoridades, posicionando-se em favor dos camelôs ilegais, que seguem arruinando o Centro da Cidade e estão no cerne da decadência do comércio e da sensação de insegurança.
Mas o pior ainda estava por vir. No dia 3 de setembro, durante uma nova incursão da Seop, na Sete de Setembro e na Gonçalves Dias, locais de venda de óculos e malas falsificadas, os camelôs partiram para cima dos servidores atirando paus e pedras, ou o que encontravam pela frente. Foi um verdadeiro cenário de guerra, insuflado pelo evento anterior. A destruição foi generalizada. A Guarda Municipal teve que entrar em ação fazendo uso de bombas de gás lacrimogêneo. Diante da fúria dos camelôs ilegais, a Polícia Militar teve que ser chamada, prendendo diversos ambulantes.
“A balbúrdia causada pelos camelôs afetou também a circulação do VLT. Durante o ato, o bondinho teve seu funcionamento interrompido nas linhas 1,2 e 3. O protesto dos vendedores irregulares se concentrava entre as estações Carioca e Sete de Setembro”, relatou-se naquele dia.
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No dia 10 de maio, na matéria intitulada, “Camelôs clandestinos fazem barricadas na Avenida Atlântica, que tem noite de Jacarezinho”, o DIÁRIO DO RIO repercutiu um incidente ocorrido na noite anterior: desta vez na via mais charmosa e conhecida da orla do Rio de Janeiro, a Avenida Atlântica, em Copacabana, palco de uma emboscada promovida por camelôs ilegais contra guardas municipais e servidores as Seop, por conta de ações de fiscalização contra o comércio clandestino de mercadorias, muitas delas falsificadas, sem contar alimentos de procedência duvidosa, passados e sem condição para serem servidos.
“As equipes foram atacadas a pedradas na Avenida Atlântica, na altura da Rua Constante Ramos. Caixotes de madeira também foram utilizados para fechar a via, numa espécie de ‘barricada improvisada’, e houve uma tentativa de incêndio, rapidamente evitado pela GM”, publicou a reportagem.
Um agente da Coordenadoria de Controle Urbano ficou ferido no olho, tendo que ser levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro. O servidor foi, posteriormente, encaminhado ao Hospital Souza Aguiar, no Centro. O saldo da selvageria fechou em sete pessoas conduzidas à 13ª DP (Copacabana): duas pela Guarda Municipal, uma pelo programa ”Rio+Seguro” e quatro pelo 19º batalhão da Polícia Militar.
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Com informações e imagem do Brasil de Fato e do próprio DIÁRIO DO RIO.
Elegeram o governo atual com a bandeira da “função social da moradia”, apoiado pelo STF segurando despejos por anos defendendo a mesma “função social” por ativismo em vez da aplicação da justiça, temos também a lei do Reimont (apoiado pelo MP) que praticamente amordaçou as ações de rua e tornou os hoje donos da rua inimputaveis, com mais poder de propriedade que um locatário ou proprietário de imóvel. O que fazer num quadro desses? Jogue a chave fora e fuja. É B.O. perdido. E vai piorar.
Nunca li um texto tão odioso para com ambulantes. Não seria mais simples e fácil dizer o autor que não gosta de pobres? – Quem em sã consciência “goza de liberdades” atuando sob a tutela de milícias? Uma conversa de cinco minutos com algum trabalhador informal, especialmente os ambulantes de um centro da cidade que já não dá muitos frutos nunca diria estar trabalhando livre e tranquilo com essa “regalia”. O verdadeiro câncer do centro do Rio de Janeiro é essa ideologia de que o pobre que tenta sobreviver é o culpado de tudo. Que papelão!
Obrigado, achei que só eu tinha percebido isso.