Papo de Talarico: Bold Glamour e a vida com filtros

Aumenta o número de cirurgias plásticas e novos distúrbios

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Bold Glamour e os filtros
Exposição (foto: Alvaro Tallarico)

Com a chegada dos filtros de instagram, tiktok, e redes afins, cresceu muito a realização de cirurgias estéticas. Lembrei até de um encontro que tive, há alguns meses, amiga de um casal amigo, então achei que pudesse ser válido. Ela morava longe, mas existe distância para o amor? (Sim). Lá fui encontrá-la. Escolheu o lugar. Tinha até uma vista bonita. Durante grande parte do encontro ficou me mostrando fotos de biquíni em praias diversas da Costa Verde. Em certo momento, tirou uma selfie nossa. Estranhei porque já tirou a foto usando um filtro do instagram, para depois baixar para o celular.

“Está tirando foto com o filtro? Por que?”, indaguei. “Ah, mas é a mesma coisa!”, respondeu. Engoli seco a minha próxima fala, que seria um questionamento, afinal, se é a mesma coisa porque está usando filtro? Claro que não era e não é a mesma coisa. Ela era bonita, mas o filtro lhe dava outra face, a qual deveria lhe apetecer mais. Ali lembrei do conceito de modernidade líquida do Zygmunt Bauman, e já soube que não teríamos um futuro juntos.

Preocupações

Essa semana soube do Bold Glamour, um novo filtro alimentado por inteligência artificial (IA) do tiktok, que já é sucesso entre os usuários. O filtro avalia o rosto da pessoa e remodela, sim, isso mesmo, remodela, só que de forma bastante realista. Muita gente usa de brincadeira e se diverte, porém, vários estudos vem mostrando que o uso de mídias sociais está cada vez mais associado a problemas de autoimagem, gerando distúrbios alimentares e psicológicos. Os especialistas em saúde mental andam preocupados.

Li até por aí que o médico cirurgião Dr. André Maranhão disse que o uso excessivo dos filtros pode causar problemas graves. O doutor alega que “o uso do filtro Bold Glamour reforça os padrões irreais de beleza” e que pode ter um impacto negativo especialmente em jovens e adolescentes.

O Brasil é líder no ranking mundial de países que mais realizam cirurgias plásticas. Segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), em 2018, por exemplo, foram mais de 1 milhão e 600 mil cirurgias. Importante ressaltar que a ideia aqui não é criticar o uso das cirurgias plásticas, que mudam vidas todos os dias, e nosso país é referência na modalidade, mas refletir sobre as padronizações e os complexos que o uso excessivo de filtros nas redes sociais pode gerar.

E na minha cabeça me veio um filtro muito mais legal e útil que o Bold Glamour. O filtro da arte. Vi em minha mente as pinturas da artista Idjára e a exposição de O Bastardo chamada O Retrato do Brasil é Preto, no Museu de Arte do Rio. Uma mostra que apresenta novos heróis e formas de representação. Esse é o filtro que me interessa, que mais quero ver, rever. Na vida, nas redes, nas telas. A visão daqueles que fazem arte, que veem além do alcance, que criam o novo. Remodelam rostos para um outro patamar. De elevação.

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2 COMENTÁRIOS

  1. O filtro pode até reforçar padrões, mas não os cria.
    Como criadora de efeitos de realidade aumentada posso te assegurar que antes mesmo de começar a fazer um filtro para um cliente, sou bombardeada de referências trazidas pelas pessoas. “afina meu nariz, aumenta a minha boca, e afina meu rosto, tira minha olheira, coloca cílios e dá aquela corzinha de saúde”. “Quero ficar que nem fulana…”
    E Fulana não usa filtro, mas ja se submeteu a várias harmonizações e preenchimentos na vida real.
    Ja vi várias campanhas #semfiltro lideradas por pessoas que não se parecem mais em nada com o seu rosto natural, nem os dentes são mais naturais…
    As pessoas não querem ficar mais bonitas, elas querem agradar as outras…

    Não foi o número de procedimentos estéticos que aumentou com os filtros, o que aumentou foi a oferta desses procedimentos.
    Mais e mais profissionais (ou não) passaram a oferecer serviços de harmonização, preenchimento e afins. Baratearam os custos, facilitaram pagamentos e criaram padrões. Faça essa engenharia reversa que você vai entender.
    Ao mesmo tempo, durante a pandemia, o programa de criação de filtros do Instagram, que era Beta e fechado a um público restrito de criadores, foi lançado para todo mundo e sim, aumentaram a quantidade criadores e consequentemente, de filtros, na pandemia.
    Não são os filtros que adoencem as pessoas, as pessoas que estão doentes, e a desinformação contribui ainda mais. E essa reportagem é um mais uma fonte de desinformação

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