Resíduos: é hora de nova governança para o Brasil

Enquanto a Europa avança na gestão de resíduos, o Brasil ainda enfrenta lixões a céu aberto. Inspirando-se em exemplos como Lucerna, é hora de implementar soluções eficazes e sustentáveis.

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Imagem gerada por Inteligência Artificial

Walter Plácido Teixeira Júnior, engenheiro e diretor da LAVORO Solutions

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Em Lucerna, pequena cidade da Suíça, o diário movimento dos moradores, com resíduos dispostos de acordo com o material (plásticos, vidros, metais, papeis/papelão) em sacolas e locais específicos alude à organização de uma colmeia de abelhas. Todos ali têm plena consciência de que precisam fazer sua parte para garantir um destino mais nobre ao que muitas vezes consideramos “inservível”. Conduzem seus carros até galpões, em áreas nobres da cidade como os arredores do belo estádio Swissporarena, são os espaços conhecidos como Ecopontos, e despejam embalagens e outros recicláveis em caçambas específicas. Odor não há. Décadas de investimentos de grandes indústrias, de governança entre esferas de poder, potentes campanhas de sensibilização ambiental e sistemas com financiamento perene e eficiente conduziram a Europa a uma realidade muito diferente do que presenciamos no Brasil. Enquanto aqui ainda enfrentamos o estorvo dos lixões, sítios nos quais resíduos orgânicos e recicláveis são misturados, onde a contaminação assombra e espanta, a Europa está enviando cada vez mais resíduos para a reciclagem, para a valorização energética, orgânica e outras finalidades mais nobres.

Qualquer manual de diretrizes ambientais só faz sentido se observadas as dinâmicas de formação social, econômica de determinado território. Sem desconsiderar essas complexidades – o Brasil, com seu passado colonial e gritante desigualdade social. merece avaliação cuidadosa -. está na hora de revermos procedimentos e adotarmos novas práticas na gestão de resíduos sólidos. Há 15 anos, a reboque da aprovação da lei maior nacional sobre o tema (a 12.305/2010), houve um momento de euforia. Grandes grupos econômicos espalharam aterros sanitários (estes sim, ambientalmente adequados), e novos contratos previam o fim dos lixões. Mas o tempo foi passando e houve estagnação dos avanços: seguimos a patinar com sistemas geradores de exclusão, gastos de energia, desperdício variado e contaminação do nosso patrimônio ambiental.

Tenho dedicado boa parte de minha rotina a estabelecer laços entre países da Europa e o Brasil, para debater o assunto de forma ética, técnica e criteriosa. Temos o que aprender e vivenciar. E temos, evidentemente, o que ensinar. Há cerca de uma década temos levado profissionais brasileiros de diversas áreas para eventos internacionais, em países como Portugal, Áustria, Itália e Suíça. Chamamos carinhosamente estes eventos unicos e singulares de Benchmarking Internacional Resíduos Sólidos. As reuniões, workshops e visitas técnicas a centros de triagem e reciclagem, unidades de incineração com geração de energia, beneficiamento de resíduos, a aterros sanitários com tratamento de chorume e valorização do biogás, descortinam trocas bastante ricas de saberes. Há muitos desafios comuns.

Não podemos continuar achando normal a existência de mais de 3 mil lixões a céu aberto em solo brasileiro. Milhares de pessoas estão submetidas ao que há de mais degradante. O constante modo “empurrar adiante” o problema constrange e mancha nossa Constituição. Uma orquestração, envolvendo diferentes atores, precisa pôr fim a essa calamidade. Governos, ONGs, universidades, empresários e entidades diversas estão a cada dia mais ligados no tema. Querem implementar soluções, discutir caminhos. Empresas multinacionais que geram embalagens existem na Suíça, no Brasil e outros países. A maior parte das bilhões de embalagens produzidas anualmente saem das fabricas e industrias de uma duzia de empresas globais. Temos leis muito bem escritas e desenvolvidas, tanto na Suíça quanto no Brasil. Não somos Lucerna. Mas bons exemplos devem ser perseguidos. É hora de enfrentar os desafios com coragem.

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