A Mega Sena da Virada de 2023 pagou o valor de R$ 588,8 milhões, o maior da história da loteria. Mas foram cinco apostadores premiados, e cada um dos apostadores receberá um prêmio individual de R$ 117.778.204,25. Uma belíssima bolada, capaz de realizar vários sonhos, a não ser que você queira morar no imóvel mais caro à venda no Rio de Janeiro, segundo mostra Paulo Cézar Ximenes, corretor de imóveis especializado no que alguns chamam de “pós-luxo”. Ximenes assumiu a tarefa de tocar a divisão de imóveis de altíssimo padrão da mais tradicional imobiliária da cidade, a Sergio Castro Imóveis. Ele nos guia por este mundo desconhecido da maioria, citando alguns dos imóveis mais incríveis à venda na cidade e seus valores estratosféricos.
Ximenes comenta que para que os ganhadores da mega da virada não se desesperem, o mercado de alto padrão da cidade tem algo a oferecer pra quem tem este orçamento. “117 milhões não compra nem a primeira nem a segunda e nem a quinta residência mais cara da cidade, mas dá pra fazer grandes compras mesmo assim”, brinca o executivo que passou a dirigir a divisão Ouro da corretora que nasceu no seio de um grupo de empresas criado em 1911. Caso o desejo de um dos vencedores seja morar na mega-cobertura do falecido José Fragoso Pires na Praia do Flamengo, que está à venda há mais de 12 anos, terá de desembolsar mais de R$ 65 milhões. A cobertura de quase 4.000m2 que pertenceu à milionária família Guinle é o maior apartamento à venda na cidade, mas não o mais caro. Só que o apartamento precisa de bastante obra.
Há outras coberturas mais em conta, se o vencedor quiser se livrar de metade de sua fortuna, como no Leblon a R$ 48 milhões, com 700 m². E esta é a base de valor de outras várias residências de luxo na Zona Sul do Rio, o que que nos faz colocar bastante em perspectiva o que é ser muito rico em nossa cidade. Há apartamentos de altíssimo padrão, com vista para o mar ou para a baía, dependendo do gosto do cliente. Exageros à parte, os valores das propriedades mais desejadas da cidade começam por volta de 10 milhões de reais, e é atuando neste nicho que a imobiliária quer se destacar mais.
Mas se um destes vencedores da loteria sonhar morar na melhor casa do Jardim Pernambuco, o condomínio dos muito ricos no Leblon, vai ter de permanecer no sonho mesmo. A casa mais cara do Rio de Janeiro custa mais de R$ 200 milhões e tem uma infraestrutura única na cidade. Construída em 1970, a residência é subdividida em quatro casas ao estilo inglês em um terreno generoso de 11 mil metros quadrados. O imóvel conta com um heliponto particular, jardins com paisagismo assinado por Burle Marx, orquidário e tudo um pouco que o dinheiro pode comprar. E há quem diga que os objetos dentro da mega residência valham mais do que ela própria. “Aliás”, diz Ximenes, “no mercado de imóveis de alto luxo isso é uma constante. Às vezes um quadro na parede ou um conjunto de porcelanas valem mais do que o próprio imóvel”. O corretor conta que um de seus clientes dirige um Corolla 2010 mas tem um Monet avaliado em mais de 40 milhões, e imagens de santos de Aleijadinho que estão avaliadas em milhões. “É um mundo de excentricidades e onde o sigilo é absoluto. Nem um décimo dos imóveis de alto luxo que estão à venda estão anunciados”, pontua.
Na casa mais cara do Brasil, há um orquidário, hall de entrada, amplas salas de estar, sala de jantar, sala de música, salão de beleza, sala de reunião, lavabos, seis suítes, casa de banho, seis suítes e garagem com espaço de sobra para 15 vagas e uma linda piscina. Uma casa digna de receber qualquer família abastada do mundo, e no Leblon, o bairro mais desejado do país.
Também uma cobertura de 1300m2 na Vieira Souto, uma verdadeira mansão suspensa, está à venda por valor superior ao prêmio da MegaSena. Sobre esta, o corretor faz segredo: “o cliente detesta publicidade”, diz. O carioca médio, explica, não tem noção do nível de preços de certos endereços, e pensa que os problemas que afligem a população em geral inibem investidores e proprietários que andam de short e camiseta cavada pelas ruas do Leblon, de Ipanema ou até mesmo de Santa Teresa. “Há um Rio diferente para certas pessoas. Andam por aí sem segurança, de bicicleta do Itaú, com seus Apple Watches, vivendo uma vida simples até adentrar a porta de suas casas”. O corretor explica também que há um número de aficcionados pelo Rio que não moram na cidade mas têm alguns dos melhores imóveis da cidade maravilhosa. “São imóveis-troféu, às vezes. Passam dois a três meses por ano aqui e depois fecham e vão embora. Quem nunca observou numa noite fora dos feriadões que muitos dos apartamentos de frente pro mar normalmente estão com as luzes sempre apagadas? São os imóveis dos forasteiros. Gente de Goiás, São Paulo, Mato Grosso, e de todo o mundo, que compram alguns dos melhores imóveis da cidade, decoram, e às vezes só vêm uma vez por ano”.
Infelizmente para o ganhador da Mega-Sena que sonha em ter a melhor casa da cidade, ele vai ter de jogar novamente ano que vem e tentar ganhar de novo. O chamado “pós-luxo” no Rio de Janeiro está bem além do que seu bolso permite.
Essa matéria me chamou de pobre em todos os idiomas. Só faltou cuspir na minha cara.
A sensação de que nunca terei uma casa própria no Rio se não for em comunidade.
Achei brega e antiquado o final do texto. A corrente minimalista do luxo atual vai contra toda essa breguice.
casa feia