Prefeito dos Ferros Velhos? Paes aceita Ferros Velhos em Zona Residencial, mas não Clubes de Tiro

Comissões da Alerj e Câmara rebatem prefeito que agiu em defesa dos ferros velhos nas zonas residenciais da cidade, mas quis manter restrições aos Clubes de Tiro. Enquanto os ferros velhos seguem comprando o que é roubado ali na esquina, os atiradores profissionais e amadores continuam sofrendo discriminação na sua atividade esportiva

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Prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes. Tânia Rêgo/Agência Brasil

O combate ao mau uso dos ferros-velhos como centros de receptação de material roubado e à instrumentalização de miseráveis e usuários de crack como “coletores de material” para estes empreendimentos clandestinos parece que está longe de ser um consenso entre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública eos parlamentares membros das comissões do tema tanto na Câmara do Rio quanto da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A discussão tomou forma novamente após o prefeito Eduardo Paes vetar, inexplicavelmente, no Plano Diretor da Cidade, o artigo que restringia novas licenças para ferros-velhos a áreas comerciais e industriais, excluindo estes garimpos do crime das áreas residenciais. Parece que o Prefeito não entendeu que distanciar o bandido ‘coletor’ do bandido ‘receptador’ seria uma boa idéia. Ainda no item Segurança Pública, Paes vetou o artigo que removia as restrições às atividades de clube de tiro e estande de tiro, “desde que respeitado o impacto moderado”.

Para a deputada estadual e membro da Comissão de Segurança Pública da Alerj Índia Armelau, o prefeito teve atitude tendenciosa, em um ano de eleição. “Evidente o retrocesso e erro do prefeito. É um veto político e discriminatório, contra a vontade popular, retirar do Plano Diretor o funcionamento dos clubes de tiro no município do Rio de Janeiro, pois trata-se de uma atividade esportiva legal, segura, com isolamento acústico, gerador de tributos, benefícios sociais, físicos e mentais, onde famílias e atletas se reunem e devem ter este espaço de lazer garantido no zoneamento residencial. Ressalta-se que os profissionais de segurança e cidadãos, devidamente habilitados, participam desta atividade, trazendo mais um movimento de segurança na localidade. O tiro esportivo é atividade olímpica desde 1896 em Atenas. Já os ferro-velhos, além dos impactos ambientais negativos, têm histórico de recepcionar produtos de origem duvidosa e por vezes estarem ligados a atividades criminosas”, ressalta a deputada.

Para Wilton Alves, administrador de imóveis no Rio, “não dá pra entender uma ação que possibilite ferros velhos em áreas residenciais. Tirando o fato de que muitos exercem de forma criminosa seu trabalho, ainda há que se deixar claro que a presença destes negócios desvaloriza qualquer região, pois são estabelecimentos fedorentos, barulhentos e que muitas vezes são foco de vetores como mosquitos e ratos”. Alves acha que a Câmara deveria se insurgir contra o tema: “são focos de receptação, atraem viciados e atuam de forma nebulosa”.

Roberto Uchoa, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, defende que é preciso separar quem usa os ferros-velhos de forma ilícita dos trabalhadores honestos. “Claro que locais de ferro velho são conhecidos como ponto de desova de produtos furtados ou roubados, desde peças de veículos até grades de ferro e janelas de alumínio, agora restringir um atividade econômica em razão de alguns cometerem crimes não faz sentido. O correto é investigar e punir os que estão cometendo delitos e deixar aqueles que trabalham honestamente seguirem com suas atividades. Com relação a clubes de tiro faz todo sentido. A circulação de pessoas armadas em áreas residenciais não traz segurança a ninguém“, relata Uchoa. Os ferros velhos receptam também partes de monumentos históricos, gradis, estátuas e tudo mais que os cracudos podem carregar até o receptador mais próximo, isso sem contar as famosas Kombis que se tornaram ferros velhos itinerantes e grassam por bairros como Copacabana e Vila Isabel, comprando ali o que foi roubado acolá.

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Já o presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara do Rio, o vereador Rogério Amorim, criticou a atuação da Secretaria de Ordem Pública, comandada pela Prefeitura do Rio. “O prefeito já desabafou sobre Segurança Pública e deixou uma frase para a posteridade, uma frase que é a marca dele: “Não tem muito o que fazer”. A SEOP ignora completamente os constantes roubos de mobiliário urbano, só faz operações com agentes sem identificação, agredindo trabalhadores. Com essa total displicência com o mobiliário urbano, era de se esperar que ele liberasse os ferros-velhos em áreas residenciais. O que me espanta é que na mesma decisão ele impõe uma série de limites e regras para os Clubes de Tiro, mostrando mais uma vez que ele odeia a nós, que votamos em Jair Bolsonaro. O prefeito não está mais no juízo perfeito, está reativo, descontrolado”, opina Amorim.

Presentes da Zona Oeste a Sul, os ferros-velhos são alvos constantes de operações tanto da Polícia quanto de órgãos municipais. Recentemente, foram encontrados, em pleno bairro da Lagoa, 20kg de cobre e150kg de cobre ou cabos em outro estabelecimento desta natureza no Méier. Ainda no início do ano passado, um ferro-velho foi fechado em Jacarepaguá pelo armazenamento de 80kg de cobre sem procedência. Estima-se ainda que há ferros-velhos itinerantes, feitos através de kombis, que anunciam seja em Copacabana ou em bairros de subúrbio, onde bandidos furtam toda parte metálica de um abrigo de ônibus, sem que a Prefeitura tivesse chamado sequer a polícia. Em São Cristóvão, roubaram todo o gradil de metal do Bairro Imperial, e um mendigo outro dia foi filmado roubando um poste de luz inteiro.

Monumentos do Rio também são alvos dos mesmos grupos que costumam vender peças metálicas furtadas de patrimônios públicos e particulares. Um dos mais conhecidos são os óculos do poeta Carlos Drummond de Andrade, que fica à orla de Copacabana, e o chafariz de golfinhos da Praça Paris, responsável pelo custo de reposição de R$ 30 mil.

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VIAAmanda Raiter
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Formada em Comunicação Social desde 2004, com bacharelado em jornalismo, tem extensão de Jornalismo e Políticas Públicas pela UFRJ. É apaixonada por política e economia, coleciona experiências que vão desde jornais populares às editorias de mercado. Além de gastar sola de sapato também com muita carioquice.
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15 COMENTÁRIOS

  1. Moro no Jardim América e aqui no nosso bairro é muita imundície proporcionada pelos ferros-velhos, afora isso, vemos, claramente, os indícios de receptação de produtos de origem duvidosa, alimentando o vício de dependentes químicos.

  2. Meu caro inocente útil . . . só você não sabe que são todos, ferro ou bala, farinha do mesmo saco . . . Em que parte do saco você se esconde?

  3. Se fosse o governador teria aprovado.

    Eduardo Paes não é um prefeito fraco e Tchutchuquinha de miliciano e bolsonaristas.

    Parabéns pelo bom senso, Dudu. Clube de Tiro no RJ não traria nada de bom pra cidade.

  4. Boa, Dudu!

    Fiz o “D” pra isso. Clubes de Tiro são irrelevantes para a cidade. Necessidade nenhuma disso.

    Quanto aos ferros velhos, poderia ser proibidos mesmo. Claudio Castro tem que fazer o trabalho dele direito e botar a PM pra servir a cidade e não se servir DA cidade. Tem que coibir roubos e furtos e investigar os ferros velhos.

  5. Ambos deveriam ser proibidos. Ferro-velho está depenando a cidade e ninguém faz nada.

    Resolveram utilizar clube de tiro pra bater no prefeito pelo motivo errado, já estão armando o terreno pra apoiar bolsonarismo esse ano assim como fizeram com o Castro. Força menos aí.

  6. Parabéns Prefeito.

    A meia dúzia de psicopata que querem ficar dando tirinho que se alistem nas forças armadas ou faça concurso para PM.

    Tô até agora tentando entender a relação entre ferro velhos x clube de tiros. Forçam muito a barra, heim.

  7. “A circulação de pessoas armadas em áreas residenciais não traz segurança a ninguém“. Realmente, pessoas de bem armadas não traz segurança nenhuma para os bandidos agirem tão a vontade como fazem atualmente.

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