Em 6 de dezembro de 2018, noticiamos aqui que fora colocada a venda uma das mais icônicas propriedades de Santa Teresa, o velho Armazém São Joaquim. A edificação, construída em 1854 para a função que exerceu por nada menos que 150 (isso, cento e cinquenta!) anos, é a principal construção do folclórico Largo do Guimarães. Aliás, o Largo é do Guimarães mesmo, leia-se, de um Guimarães só, e não “dos Guimarães”, velho erro já cometido por nós mesmos em matérias anteriores.
O prédio, construído em pedras de mão, estuque e madeira, faz mesmo parte do folclore de Santa Teresa. Foi fotografado diversas vezes pelo célebre fotógrafo Augusto Malta para retratar o bairro, pintado por diversos artistas de renome – como por exemplo Emeric Marcier e Inimá de Paula, e está presente sempre que o famoso Largo onde se encontra é fotografado, para simbolizar Santa Teresa. O sobradão que fica na esquina do Largo com a Ladeira do Castro e com a Almirante Alexandrino foi finalmente vendido a investidores que visam restaurá-lo, preservando a sua história. Especialistas consideram sua localização comercial a melhor de todo bairro.
A região de Santa Teresa e Glória tem recebido grande atenção de investidores nos últimos tempos. Noticiamos aqui ontem a venda do Hotel Glória ao Banco Opportunity, e também a venda do prédio da Rádio Globo à Valente Empreendimentos. Isto, aliado à mega reforma da Beneficência Portuguesa e à recente aquisição de outros prédios históricos na região, pode trazer alento a quem é apaixonado pelas regiões mais históricas da cidade, nestes momentos em que se lê tantas más notícias, principalmente sobre o fechamento de estabelecimentos tradicionais da cidade.
Depois de fechar as portas na primeira década do ano 2000 após 150 anos de funcionamento ininterrupto, com a morte de sua última herdeira, Stella Cruz, o imóvel foi alugado a uma pizzaria chamada Porta Quente, e depois, ao Armazém Cultural São Joaquim, que emprestou o nome da edificação e teve noites de música ao vivo e muita alegria, conduzidas pela batuta de Zéu Brito (apesar dos protestos de alguns moradores). Infelizmente, o período em que as obras do bonde transformaram o Largo num pandemônio enfraqueceu o negócio, que acabou sendo despejado pelos antigos proprietários por falta de pagamento, após anos de diversão.
O armazém foi adquirido pelo Grupo Reg, especializado no restauro de imóveis históricos e na locação de suas lojas a terceiros. A empresa foi procurada pelo DIÁRIO, mas apenas confirmou a aquisição, informando por escrito que “o imóvel será restaurado à perfeição, de acordo com todas as suas características originais“. Segundo vizinhos, uma equipe de marceneiros está trabalhando dentro do imóvel, e uma empresa de jardinagem visita o imóvel semanalmente, para podar as charmosas trepadeiras que tomam conta de sua fachada interna. Além disso o antigo vitral redondo com uma imagem religiosa, visível pela Almirante Alexandrino, no sentido Pascoal Carlos Magno, parece ter sido restaurado.
No famoso prédio amarelinho de janelas e portas vermelhas, uma placa de “aluga-se” da imobiliária Sergio Castro já foi colocada, indicando que as negociações já podem ser abertas com potenciais interessados.
Apesar da legislação do município proibir expressamente que bancas de jornais escondam a visão de imóveis tombados, chama a atenção no local uma imensa banca cinza e azul, com cerca de 3 metros de altura e uns 4 de largura, praticamente colada na fachada do prédio pelo Largo do Guimarães.
Uma vez restaurado, o prédio talvez mereça ao menos um tratamento justo pela prefeitura do Rio, se é que isso existe. Além disso, bancas de jornal não podem estar a menos de 5 metros das esquinas das fachadas. É o que diz a lei municipal 3425 de 2002:
Art. 8º As bancas de jornais não poderão ser localizadas:
I – a menos de cinco metros das esquinas das fachadas, no sentido do alinhamento dos prédios;
(…)
III – em passeios fronteiros a monumentos e prédios tombados pela União, Estado ou Município, ou junto aos estabelecimentos militares ou órgão de segurança;
De toda forma, com banca ou sem banca, é uma bela notícia para os amantes de Santa Teresa. Agora é esperar a pandemia passar, pra ver o resultado do investimento dos compradores, e rezar para ver um comerciante apostar no ponto comercial e no polo gastronômico do bairro, que perdeu recentemente o Restaurante Espírito Santa, que encerrou suas atividades após 15 anos de funcionamento.
Que parágrafo desnecessário contra a banca do seu Souza, que, como já foi dito, presta um serviço essencial ao bairro. Fala-se como se as regras de planejamento urbano contemporâneas pudessem ser aplicadas a ferro e a fogo em um bairro como Santa Teresa, que já sofre com uma exploração turística massiva e falta de estabelecimentos essenciais, como padarias e farmácias. Uma tristeza.
[…] ter sido finalmente vendido, no início do ano, conforme noticiamos aqui, o velho prédio com fachada amarela, janelas vermelhas e meia-parede em pedras-de-mão já está […]
Escrevi vários comentários que não foram permitidos, é isso?
[Resposta Diário do Rio: Todos seus comentários estão abaixo, basta ter o cuidado de ler de baixo para cima.]
Alíás, faltou dizer que o Banco Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, é o principal responsável pelo esvaziamento da Rua da Carioca, outra área do Rio que deveria ser “revitalizada”. Sinto arrepios cada vez que ouço essa palavra.
Oportunidade para quem???
A reconstrução de um prédio histórico é bem-vinda, mas espero que não se transforme em mais um empreendimento que infernize a vida dos moradores com música alta e clientela barulhenta até altas horas da madrugada. Aliás, a reportagem deveria ter dito que o “Armazém Cultural São Joaquim, que emprestou o nome da edificação e teve noites de música ao vivo e muita alegria” era um desses estabelecimentos infernais, que dava uma banana para as reclamações dos moradores. Quem acha que isso é reclamação de chato, que visite o Largo aos sábados à noite, quando uma noite de samba em outro casarão próximo transforma o Largo numa terra de ninguém.
Quanto à banca, entendo a legislação, mas de modo alguma ela deverá ser simplesmente retirada do local, pois é um serviço que é prestado aos moradores há muito tempo pelo morador Sr. Souza.
Se há algo de que os moradores de Santa Teresa estão cansados é desses “empreendimentos de revitalização”, que não contribuem em nada para melhorar o nosso bairro. Atraem apenas uma clientela alucinada que adora gritar “u-hu” de forma alucinada até a madrugada, como no hotel metido a hipster Mama Shelter.
Moradores do bairro não tem a mesma esperança quanto ao “salvamento” do prédio histórico. Essa história já estamos cansados de ver, investidores de fora que visam transformar os locais de acordo com seus interesses e mudando cada vez mais o caráter familiar e acolhedor do bairro. Exemplos disso são o Hotel Santa Teresa, o Portela bar e tantos outros onde foram montados negócios completamente excludentes para os que vivem a décadas na região. Buscando dar ao bairro um caráter turístico luxoso e não considerando que o que precisamos são espaços que integrem os moradores.
Esse prédio citado na matéria funcionou por 150 anos como uma mercearia de legumes e verduras e era uma referência no bairro. Assim como o local onde era a tradicional padaria do bairro se transformou no bar Portela.
Não precisamos mais de bares e hotéis aqui, os investidores precisam voltar atenção para a população local, caso contrário seus negócios não passarão de uma empreitada momentânea com fechamento rápido, como tantos outros que cansamos de ver!
Exatamente, Mayná! A reportagem poderia ter procurado os moradores para entender seus pontos de vista, né?!
O Diário do Rio se diz um “portal-referência sobre o universo carioca” e “100% independente”, mas fez exatamente como a grande mídia faz. Só mostra o lado dos empresários. Nem a Globo faria melhor.
Lamentável…
Vai acabar sobrando pro Sr. Souza!
E como sempre daqui a pouco aparecerão aqueles que dizem que somos contra a melhora do bairro. Pelo contrário, queremos que o bairro melhore, claro, mas para os seus moradores, não para a turistada e os bebedores arruaceiros.
Excelente notícia! Esse tipo de construção precisa msm ser conservada, sem descaracterização e assim continuar sendo um prédio antigo, pq qdo muda o riginal, vira prédio velho.
Também adoraria assistir a revitalização do entorno e a restauração da estação Leopoldina.
Acho que existem várias possibilidades de tentar rememorar os anos de vida intensa da estação e honrar nossa história.
A matéria cita corretamente Largo do Guimarães no início e no final cita duas vezes erradamente Largo dos Guimarães.
Que bom que finalmente investidores da iniciativa privada estão se preocupando em proteger e restaurar os Patrimônios Históricos e Culturais da cidade do Rio. Legal! Bom ler boas notícias. E sobre a Estação Leopoldina? Quando vão restaurar aquele lugar que tem uma arquitetura imponente e majestosa e tranformá-la em um Museu e espaço cultural sobre trens e ferrovias? Aquele prédio tem uma arquitetura vitoriana linda, é um pedacinho de Londres no Rio. Sérgio Castro Imóveis, por favor, tente fazer algo para nos devolver a Estação Leopoldina uma vez que o poder público não faz a menor questão de devolvê-la à população, cariocas e turistas.
O Brasil barato (com moeda desvalorizada) torna atrativo para determinados “investidores” que tomam as propriedades.
Esses grupos são os que ditam os preços atrás sempre de lucro maior com alugueis.